28 de outubro de 2008

Mensagem final do Sínodo dos Bispos

Bíblia entra na cultura
pelas novas tecnologias

Os delegados dos episcopados católicos de todo o mundo defendem a presença da Bíblia no mundo da cultura, por meio das novas tecnologias. «A Palavra de Deus deve percorrer as estadas do mundo», incluindo «a comunicação informática, televisiva e virtual», escreveram os Bispos na Mensagem final da XII assembleia-geral ordinária, tornada pública ontem, do Sínodo que termina amanhã.
Os Bispos de todo o mundo, reunidos no Vaticano, consideram que «esta nova comunicação adoptou, em relação à tradicional, uma gramática expressiva específica, pelo que é necessário estar bem munidos, não só tecnicamente, mas também culturalmente para esta tarefa», referem no texto que foi divulgado pela página oficial do Sínodo, e que se divide em quatro capítulos (A voz da Palavra: a Revelação; o rosto da Palavra: Jesus Cristo; a casa da Palavra: a Igreja; as estradas da Palavra: a missão) e 15 pontos.
Os Bispos asseguram que «a Bíblia deve entrar nas famílias, para que os pais e os filhos a leiam, rezem com ela e esta seja para elas uma luz para os passos no caminho da existência». Além disso, destacam que «as Sagradas Escrituras devem entrar também nas escolas e nos âmbitos culturais, porque foram durante séculos a referência capital da arte, da literatura, da música, do pensamento e da própria ética comum».
«A sua riqueza simbólica, poética e narrativa torna-a uma bandeira da beleza, seja para a fé seja para a própria cultura», aponta.
Esta mensagem é dirigida a todos os católicos, em particular aos «pastores», aos «muitos e generosos catequistas» e a quantos orientam a Igreja «na escuta e na leitura amorosa da Bíblia».
Os padres sinodais consideram que o texto bíblico «apresenta também o sopro de dor que sai da terra, vai ao encontro dos oprimidos e do lamento dos infelizes», por ter no seu cume «a cruz onde Cristo, só e abandonado, vive a tragédia do sofrimento mais atroz e da morte».
Os fiéis são convidados a «guardar a Bíblia» nas suas casas, para que «leiam, aprofundem e compreendam plenamente as suas páginas», transformando-as em «oração e testemunho de vida» e deixando espaços de «silêncio» neste processo.
Para evitar o «fundamentalismo», refere o texto, «cada leitor das Sagradas Escrituras, mesmo o mais simples, deve ter um conhecimento proporcional do texto sagrado, recordando que a Palavra de Deus revestiu-se de palavras concretas», para «ser audível e compreensível para a humanidade».

Olhar ecuménico
A mensagem recorda os «irmãos e irmãs das outras Igrejas e comunidades cristãs» que caminham nas mesmas «estradas do mundo» e que apesar das separações visíveis «vivem uma unidade real, ainda que não plena, através da veneração e do amor pela Palavra de Deus».
Neste contexto, os «homens e mulheres de outras religiões que escutam e praticam fielmente os ditames dos seus livros sagrados e que, connosco, podem edificar um mundo de paz e de luz, porque Deus quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade», lembra o documento.
O presidente da Comissão para a Mensagem, D. Gianfranco Ravasi, considera que o texto é de «largo fôlego, com um certo “pathos”, para fazer com que não seja só um documento teológico».

Estrutura
A mensagem recorre a quatro «pontos cardeais», que correspondem aos seus capítulos. Em primeiro lugar, «a voz divina» que «ressoa desde as origens da criação», e entra depois «na história ferida pelo pecado e sacudida pela dor da morte».
Em segundo lugar surge «o rosto», ou seja, Jesus Cristo, que «torna perfeito o nosso encontro com a Palavra de Deus» e revela o «sentido pleno e unitário das Sagradas Escrituras». Seguidamente, «a casa da Palavra Divina», a Igreja, que se ergue sobre quatro colunas: o ensino, a fracção do pão, a oração e a comunhão fraterna.
O último ponto refere-se à «estrada pela qual caminha a Palavra de Deus», em especial o campo das novas tecnologias.
A celebração conclusiva da XII assembleia-geral ordinária do Sínodo dos Bispos, dedicada ao tema “A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja” é presidida por Bento XVI, amanhã, na Basílica de São Pedro, pelas 09h30 (hora local, menos uma em Lisboa).
Redacção/Ecclesia

in Diário do Minho

21 de outubro de 2008

Encontros com S. Paulo na Diocese de Braga

Iniciativa arrancou em Braga com 700 pessoas


(texto)José António Carneiro

Os “Encontros” com São Paulo arrancaram em Braga, na passada quinta-feira à noite, com a presença de perto de 700 pessoas. No arranque desta iniciativa, que decorreu no Auditório Vita do Centro Cultural e Pastoral da Arquidiocese e que se realizará também em Balasar (Póvoa de Varzim) e em Guimarães, a adesão das pessoas foi positiva.
Segundo o pároco de Nossa Senhora da Conceição, o número de participantes nos encontros em Guimarães poderá aproximar-se do registado em Braga. A menos de quinze dias do arranque da iniciativa na cidade vimaranense (o primeiro encontro é no dia 30 de Outubro), já estão inscritas mais de 120 pessoas. No entanto, a maior parte dos párocos vai aproveitar este fim-de-semana para motivar e desafiar os paroquianos a participarem nos encontros orientados, sempre, pelo Bispo Auxiliar de Braga, D. António Couto.
Tomando como paradigma um curso bíblico orientado pelo ainda padre António Couto – antes da nomeação episcopal –, no qual participaram mais de 600 pessoas, o padre João Germano Queirós espera que também aqui a adesão dos cristãos seja em grande número.
Em Balasar, onde decorrerá o encontro inaugural na próxima quinta-feira, dia 23, o padre José Barbosa Granja espera receber mais de 500 pessoas. «Até ao momento estão inscritas 460 pessoas, mas penso que o número vai subir», disse o sacerdote ao Diário do Minho.
Recorde-se que os “Encontros” com São Paulo destinam-se aos catequistas, membros dos Conselhos Económicos, animadores de grupos, membros das Confrarias e Irmandades, Ministros Extraordinários da Comunhão, membros das Equipas de Liturgia, orientadores de Grupos Corais, membros das Comissões de Festas, membros das Direcções dos Centros Sociais e Paroquiais, membros dos vários Movimentos de Apostolado, Associações e Obras, e a todos quantos desejem e procuram aprofundar a sua fé.
Em Junho passado, a Vigararia Geral da Arquidiocese havia dito que «participando [nestes encontros], cresceremos no conhecimento de São Paulo e da Palavra de Deus; entraremos na imprescindível dinâmica da formação contínua; sentiremos o coração a pulsar ao ritmo da Igreja arquidiocesana e universal; e colheremos do Apóstolo entusiasmo para a missão que hoje nos desafia».
Os encontros são mensais e decorrem até ao próximo mês de Junho, data em que termina o Ano Paulino proclamado por Bento XVI.

in DM 18/10/08

16 de outubro de 2008

Somos pontes...


Sinto-me assim, como ponte.

Somos assim, aliás, não somos ilhas.

Precisamos de outras pedrinhas para fazermos caminho.

Sozinhos nada podemos.

Aqui está Deus. Com Ele posso tudo.

Com Ele podemos tudo. 

12 de outubro de 2008

Priscos quer pôr presépio no Guiness Book

Cerca de 20 mil metros quadrados para o evento


Texto e Foto: José António Carneiro

A comissão responsável pela organização do presépio de Priscos quer inscrever esta iniciativa no Guiness Book. A informação foi dada, ontem de tarde, pelo padre João Miguel Torres, numa conferência de imprensa que decorreu no lugar onde, entre 21 de Dezembro de 2008 e 11 de Janeiro de 2009, vai estar localizado «o maior presépio do mundo com entrada gratuita». A criação de parcerias com várias entidades religiosas e civis da região para conseguir o título de maior presépio vivo do mundo está também equacionada pelos organizadores.
Depois do sucesso da iniciativa, vista no ano passado por mais de 10 mil pessoas, a organização espera este ano receber cerca de 30 a 40 mil pessoas. Este ano, «não vão haver filas de espera porque estamos a tomar todas as diligências e a fazer todos os preparativos para que a entrada no recinto decorra sem demoras», disse o padre João Torres».
Desde Agosto passado que se está a preparar o presépio deste ano que conta com algumas inovações: desde logo, o espaço físico que passa de 400 metros quadrados para 20 mil metros quadrados. Para este facto, contribuiu o empréstimo que um particular fez, cedendo o espaço da sua quinta.
Em relação ao figurados, também o número sobe: este ano estão previstos participar nos quadros alusivos à vida de Jesus Cristo mais de 400 pessoas, divididas por cerca de 50 cenários.
Com o aumento do espaço físico, a organização está a preparar a construção de uma aldeia romana e uma outra judaica. A meio das duas, está a ser construída, de raiz em pedra, uma gruta por onde as pessoas farão a passagem de um para o outro lado.
Na encenação do nascimento de Cristo, levada a cabo pela comunidade de Priscos, vai existir hospedaria, taberna, escola, sinagoga, acampamento militar, oficinas de trabalho, mercado, serviço de correios, fontanários, posto de recenseamento e, ainda, a encenação de uma casamento romano e um judeu. O senado romano, a prisão e cozinha romana estarão, também, à disposição da vista dos visitantes.

Presépio com lugar para todos
Um projecto destinado a todos e aberto a todos, crentes e não crentes, com a possibilidade de todos os visitantes participarem como figurantes. É assim que o padre João Torres vê esta manifestação que vem sendo preparada, de há três anos para cá, por meio de levantamentos e estudos sobre vestuário, cultura e alimentação da época de Jesus.
Ver o Natal mais por dentro que por fora, actualizar conhecimentos bíblicos, reforçar o espírito da comunidade e dar a conhecer a região são objectivos e motivações que levam a organização a apostar forte nesta iniciativa, que custará, aos cofres da paróquia, cerca de 60 mil euros, cobertos quase na totalidade por patrocínios.
Segundo o padre João Torres, a iniciativa pretende ser uma catequese bíblica sobre o nascimento de Jesus além de que quer «ajudar o povo de Priscos a ser mais santo». A construção de um presépio vivo é, para este sacerdote, mas que uma manifestação cultural e artística, uma manifestação de fé, «são pedaços da vida para sentir a Vida deixada por Cristo».
Além disso, a iniciativa é um grito ao voluntariado, dada a adesão livre das pessoas da paróquia e de outras vizinhas que arduamente trabalham para que tudo esteja pronto atempadamente.
«Queremos que Braga seja a capital do presépio vivo, em Portugal», afirmou o padre João Torres, que considerou existir muita comercialização sobre os presépios vivos, em Portugal.


in DM, 12/10/08

Espiritualidade do século XXI

José Manuel Pureza e Teresa Martinho Toldy em Braga
Espiritualidade do século XXI
é a mesma de sempre

Texto e foto: José António Carneiro

A espiritualidade para o século XXI é a mesma de sempre. Foi desta forma que José Manuel Pureza iniciou a sua intervenção no âmbito do VIII Ciclo de Conferências promovido pela Fundação Bracara Augusta, com o tema “Globalização: desafios para o século XXI”. Anteontem à noite, na Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, aquele docente da Faculdade de Economia de Coimbra, juntamente com Teresa Martinho Toldy, apresentaram ideias para “Uma espiritualidade para o século XXI”. Alfredo Dinis, director da Faculdade de Filosofia da Universidade Católica Portuguesa (UCP), moderou o debate, que contou ainda com a presença de Rui Madeira, administrador delegado do Theatro Circo, para o momento de abertura que constou da leitura de um excerto do “Livro do Desassossego” de Fernando Pessoa.
José Manuel Pureza, que é investigador na área dos Estudos Sociais, deixou aos presentes no auditório alguns tópicos daquilo que considera ser uma «espiritualidade fecunda». Para o docente, «esta espiritualidade é a mesma de sempre» e «não convida à alienação, mas desafia à desinstalação e ao compromisso». Apoiado na ideia de que a espiritualidade tem a ver com a vida real e concreta das pessoas, defendeu que «uma espiritualidade que não ajude a transcender as pessoas do lodo e do lamaçal em que andam tantas vidas humanas não será uma espiritualidade fecunda».
O orador denunciou uma «espiritualidade anti-stress» e uma «espiritualidade de fuga», especialmente prolixa em publicações e propostas comerciais que visam buscar «a paz interior e as boas sensações», e «até nas estações de serviço se encontram».
Antes, porém, a doutorada em Teologia, na Alemanha, já havia denunciado um «abuso contemporâneo do termo espiritualidade que aparece muito ligado ao esoterismo».
Concentrando a sua intervenção no âmbito da tradicional teodiceia, Teresa Martinho Toldy afirmou que a questão da espiritualidade se tem de ligar à questão do mal, do sofrimento e do sentido. Fundada no pensamento de teólogos como Metz e Eli Wiesel (este segundo foi Nobel da Paz), disse que o humano tem como que uma «necessidade de ver o invisível».
Citando o exemplo bíblico de Job, a professora de Ética, na Universidade Fernando Pessoa, considerou que Deus pode ajudar a suportar o sofrimento àqueles que acreditam, mas rejeitou a ideia de um Deus que põe à prova por meio da dor e do sofrimento. Nesse sentido, Teresa Martinho Toldy afirmou que «um Deus que se identificasse com o Holocausto não seria Deus, mas um demónio».
Em tempo de debate, José Manuel Pureza recusou ver a «fé como um analgésico». Respondendo a uma inquietação vinda da plateia sobre uma experiência científica que mostrou que os crentes suportam mais a dor do que os não crentes, este investigador opôs-se à ideia da fé como «analgésico», que é o mesmo que dizer «ópio». E concluiu: «a fé pertence a outro domínio».
Na próxima sexta-feira, dia 17, será a vez de Alexandre Quintanilha, Maria Eduarda Barros Gonçalves e Eduardo Jorge Madureira participarem neste ciclo de conferências.

in DM, 12/10/08

11 de outubro de 2008

Frei Luís Gonçalves, capuchinho de Barcelos














Dinamização bíblica deve combater
a ignorância religiosa e o paganismo

(texto e foto)José António Carneiro


Estando a realizar-se em Roma, no Vaticano, o Sínodo sobre a Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja, o Diário do Minho (DM) entrevistou Frei Luís Gonçalves (FLG), capuchinho da comunidade de Barcelos, que se dedica, de corpo e alma, à difusão da Sagrada Escritura um pouco por todo o País.
Este sacerdote, natural de Serafão, Fafe, ordenado em 1971, destaca a importância do Sínodo em si mesmo, mas considera que ele, assim como toda e qualquer dinamização bíblica, terão de ajudar a combater uma certa «ignorância religiosa do Povo de Deus» e também um certo «paganismo» que vai imperando na actualidade. Redescobrir e desenterrar as riquezas da Dei Verbum, apostar na dinamização bíblica da catequese e das paróquias são, para este capuchinho, formas de colocar de novo a Bíblia num lugar central da vida e da missão da Igreja.

DM – Que importância tem o Sínodo sobre a Palavra de Deus?
FLG – O Sínodo é uma instância importante da vida da Igreja. Este, sobre a Palavra de Deus, há muito que o Cardeal Martini – Arcebispo Emérito de Milão – se debate por ele.
Não há dúvida que isto é como um voltar às raízes, porque a Palavra de Deus é o alicerce da Igreja.
O Papa Bento XVI, na abertura dos trabalhos sinodais, começou por citar a famosa frase de São Jerónimo – “Desconhecer as Escrituras é desconhecer Jesus Cristo”. Efectivamente, ninguém ama aquilo que não conhece e se um cristão, ou qualquer outra pessoa, desconhece a Bíblia, então não conhece Cristo e igualmente ainda O não ama.
Daí a importância deste Sínodo sobre a Palavra de Deus, porque no meio do Povo de Deus há muita ignorância religiosa.
Para vencer esta ignorância religiosa é fundamental o estudo, a reflexão, a meditação e a oração da Palavra de Deus. Sem isto, nós não iremos longe.
Vou notando que anda por aí muito paganismo e muita ignorância entre os cristãos, e até entre alguns formados a um nível superior.
Ainda recentemente, estive com uma pessoa que pensava que São Paulo era um homem pagão. Quando lhe disse que era uma judeu fervoroso ficou boquiaberta. Pois, a este caso juntam-se tantos outros, formando uma lista interminável.

DM – Face à ignorância religiosa que pode ser feito?
FLG – Perante este cenário pouco animador em relação ao conhecimento da Bíblia parece-me que a tendência se pode inverter, se se apostar na dinamização bíblica trabalhando por levar a Escritura a toda a gente, na linha do que dizia o Papa Pio XII, há mais de 50 anos, colocando uma bíblia em cada casa.
Vão aparecendo, entretanto, alguns sinais animadores. Em várias comunidades tem-se criado o hábito de passar a Bíblia de casa em casa, em vez de, por exemplo, a imagem ou oratório da Sagrada Família. A ideia é pôr a pessoas a rezar diante da Bíblia, recorrendo ao texto bíblico.
De facto, a Bíblia devia ser o sacrário de cada casa, não para estar a ganhar pó na estante, mas para estar na mesa de cabeceira levando as pessoas a pegar nela, a abri-la, folheá-la e saboreá-la.
O lugar mais nobre de cada lar cristão deveria ser deixado para a Escritura. E se é importante a nossa devoção aos Santos, mesmo com oferta de velas e flores, com mais razão deveríamos saber venerar – como do próprio Cristo se tratasse – a Bíblia.
Este poderá, com certeza, ser um caminho para renovar as famílias e fazer frente a tantos problemas e dificuldades que elas sentem.

DM – Como se desenvolvem as actividades bíblicas dos Capuchinhos?
FLG – Nas nossas acções de dinamização bíblica, procuramos dizer às pessoas que é importante ler e estudar a Sagrada Escritura, como é igualmente necessário e importante rezar a Bíblia. É pela oração com a Bíblia que se cria familiaridade com Jesus Cristo.
Esta oração bíblica – para a qual procuramos educar aqueles que participam nas nossas iniciativas – deve ser ao jeito da Lectio Divina.
Nas actividades, os aspectos introdutórios são essenciais e, aliás, são um dos problema na Igreja ao nível da Bíblia. As pessoas são sabem pegar na Bíblia, não a sabem manejar, não sabem procurar os livros e, muito menos, os capítulos e versículos da divisão interna dos textos.
Às vezes, nas formações que oriento, preparo e levo ideias interessantes e muito bonitas para comunicar, mas quando chego ao local e me apercebo do auditório que tenho pela frente, tenho que alterar a minha comunicação para falar destas noções introdutórias que são muito rudimentares na generalidade dos cristãos.

DM – Na abertura do Sínodo falou-se de uma encíclica sobre a Bíblia. Considera que faltam instrumentos para a leitura e interpretação da Bíblia?
FLG – Não creio que faltem instrumentos, mas considero que falta quem se dedique inteiramente a este serviço da dinamização bíblica. Penso que faltam pessoas que se comprometam com o anúncio da Palavra de Deus.
Com certeza, uma encíclica sobre a Bíblia será bem aceite, mas parece-me que as riquezas contidas no Concílio Vaticano II, especialmente na Dei Verbum, ainda estão enterradas.
Penso que mais de 95 por cento dos cristãos não sabe sequer da existência da Dei Verbum, que contém material fantástico para a orientação da leitura e interpretação da Bíblia.
A Dei Verbum é uma luz que está colocada debaixo do alqueire e a precisar de ser colocada no candelabro.

DM – Catequese e paróquia têm um papel essencial na transmissão da Palavra de Deus?
FLG – Totalmente. A catequese é um veículo privilegiado para a transmissão da Palavra de Deus e os catequistas são agentes indispensáveis dessa transmissão.
Infelizmente, muitos nem sequer sabem pegar na Bíblia. Como podem desempenhar a sua missão? Dificilmente poderão ajudar as crianças e os adolescentes a estabelecer uma relação de confiança e de amor com Jesus Cristo.
Claro que essas falhas na missão catequética contribuem para um fenómeno a que assistimos todos os dias: muitos cristãos mudam de religião como quem muda de camisa, porque não sabem em quem acreditam.
Em relação às paróquias, considero que é importante que os párocos sejam os primeiros a apoiar e a trabalhar pela dinamização bíblica. É essencial que assim seja e falo por experiência: nas paróquias onde o pároco tem uma particular sensibilidade bíblica, nota-se que consegue “incendiar” as pessoas para o amor e para a familiaridade com a Bíblia.
E, aqui, não valem tanto os avisos do altar… Antes, é necessário uma pesca à linha, que vá directamente junto das pessoas concretas para as desafiar.

Iniciativas bíblicas em Braga e Viana do Castelo

Eis algumas das iniciativas agendadas pelos Padres Capuchinhos de Barcelos para os próximos meses, nas dioceses de Braga e Viana do Castelo:
– Outubro
14 a 18, em Serafão (Fafe)
22 a 26, em São Martinho de Vila Frescaínha (Barcelos)
27 a 31, em Junqueira (Vila do Conde)

– Novembro
4 a 8, no arciprestado de Monção
11 a 15, em Areias de Vilar (Barcelos)
18 a 22, no arciprestado de Terras de Bouro
25 a 29, na Zona Pastoral das Taipas, do arciprestado de Guimarães/Vizela

– Dezembro
2 a 6, em Cabanelas (Vila Verde)
9 a 13, em Vila Cova (Barcelos)
16 a 20, em Nine (Vila Nova de Famalicão)

– Janeiro
Última semana, em Arcozelo (Barcelos).

9 de outubro de 2008

Mosteiro de Rendufe, em Amares

Bonitas fotos do Francisco de Assis (Diário do Minho), num Mosteiro belíssimo
mas num estado lastimável.
Mosteiro de Rendufe, em Amares






















Como nós preservamos o passado que nos faz!



É preciso fazer algo!

O caçador que se tornou presa

Para a luz do dia despertou em Tarso. O pai conferia-lhe o estatuto de “cidadão romano”. Bebeu da sabedoria de Gamaliel. Aprendeu a fabricar tendas. Religiosamente, tornou-se um judeu fervoroso. Era irrepreensível na observância da lei. Tinha um carácter decidido. Ostentava a garra de um verdadeiro líder. No horizonte desenhava-se para ele um futuro risonho.
Depressa se tornou bem conhecido, esse Saulo, empreendedor, de formação esmerada, zeloso.
Assistiu à delapidação do diácono Estêvão. E queria mais. Afinal, essa nova seita que ia proliferando, estava a desestabilizar, a provocar o judaísmo, a gerar rupturas no tecido social e religioso do povo da ancestral aliança. Imagine-se que até já existiam cristãos na cidade de Damasco, na Síria, a 200 km de distância da Palestina.
E Saulo põe-se a caminho, para obviar a tremenda calamidade.
É então que Deus o intercepta. E lhe pede que não mais O persiga.
Saulo torna-se Paulo. O atacante torna-se presa. O caçador torna-se caça (como bem sublinha Carlos Mesters, na sua obra Paulo Apóstolo). O perseguidor atravessa três dias de cegueira, para ressuscitar homem novo.
Considera então como “lixo” as honras do passado. Mais do que confiar no que faz por Deus, confia agora no que Deus faz para ele. Mais do que “justificar-se” pelas obras, mergulha agora na gratuidade do amor de Deus.
Conduzido, não pela tradição ou pela lei, mas pelo Espírito («Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim»), torna-se missionário itinerante, o Evangelho a rasgar sulcos e a frutificar na Ásia Menor e na Europa, a Igreja a crescer, o coração da Igreja a dilatar-se numa universalidade que derruba barreiras entre judeus e gregos, homens e mulheres, escravos e homens livres…
E o Espírito de Deus acompanha-o nas perseguições, nas torturas, nas ameaças de morte, nas acusações, nos tribunais, nas prisões.
Para a posteridade ficaram 14 cartas, espólio precioso que o Novo Testamento conserva, tantas vezes presentes nas nossas celebrações.
Paulo foi um verdadeiro apóstolo, uma testemunha eloquente, um herói. E um mártir. Aos 62 anos de idade, abriram-se para ele as portas do céu. A espada que o dizimou eclipsou-se. Só se vê agora a coroa da glória que Deus lhe ofereceu, juntamente com a felicidade eterna.
Estando nós a viver o Ano Paulino, proclamado recentemente pelo Papa Bento XVI; sendo o lema pastoral da nossa Arquidiocese, para o presente ano, “Encontrados pela Palavra”, não será de reflectirmos sobre a vida e escritos de São Paulo?!
Votos de um bom ano pastoral para todos, sob a protecção de Maria, a Mãe de Deus e nossa Mãe, também ela encontrada pela Palavra.

(texto)Cónego José Paulo Abreu
Vigário-Geral da Arquidiocese de Braga

in DM, 09/10/08

Papa quer Igreja ao lado dos imigrantes


O Vaticano publicou esta Quarta-feira a mensagem de Bento XVI para o 95.° Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, que será celebrado a 18 de Janeiro de 2009, em volta da figura do Apóstolo Paulo.

No texto, o Papa desafia as comunidades católicas a “viver em plenitude o amor fraterno sem quaisquer distinções e sem discriminações, na convicção de que o nosso próximo é quem quer que tenha necessidade de nós e quem nós possamos ajudar”.

“Como podemos deixar de ser responsáveis por quantos, em particular entre refugiados e deslocados, se encontram em condições difíceis e incómodas? Como deixar de ir ao encontro das necessidades de quem é de facto mais fraco e indefeso, marcado pela precariedade e a insegurança, marginalizado, muitas vezes excluído da sociedade?”, questiona.

Para Bento XVI, estas populações merecem “atenção prioritária”.

A mensagem tem como tema «São Paulo migrante, ‘Apóstolo dos gentios’» e inspira-se na celebração do Ano Paulino. A pregação e a obra de mediação entre as diversas culturas e o Evangelho, realizadas por Paulo, “migrante por vocação”, constituem para o Papa um ponto de referência significativo também para todos os que se encontram empenhados no movimento migratório contemporâneo.

“De perseguidor dos cristãos, - destaca o Papa – (Paulo) transformou-se em apóstolo de Cristo. A sua vida e a sua pregação foram inteiramente orientadas para fazer com que todos conhecessem e amassem Jesus, porque nele todos os povos são chamados a tornar-se um só povo”.

Na era da globalização, esta é “a missão da Igreja e de todos os baptizados”, particularmente no “diversificado universo dos migrantes – estudantes fora da própria sede, imigrados, refugiados, prófugos e deslocados – incluindo aqueles que são vítimas das escravidões modernas, como por exemplo o tráfico dos seres humanos”.

Bento XVI faz votos de que cada comunidade cristã possa nutrir o mesmo “fervor apostólico” de São Paulo: “O seu exemplo seja também para nós estímulo, para nos fazermos solidários com estes nossos irmãos e irmãs, e para promovermos, em todas as partes do mundo e com todos os meios, a convivência pacífica entre diferentes etnias, culturas e religiões”.

“Deve propor-se a mensagem da salvação com a mesma atitude do Apóstolo das nações, tendo em consideração as diversas situações sociais e culturais, e das particulares dificuldades de cada um em consequência da condição de migrante e de itinerante”, afirma.

Para o Papa, “quanto mais unida a comunidade estiver a Cristo, tanto mais se tornará solícita em relação ao próximo, evitando o prejuízo, o desprezo e o escândalo, e abrindo-se ao acolhimento recíproco”.

“O ensinamento e o exemplo de São Paulo, humilde, grande Apóstolo e migrante, evangelizador de povos e culturas, nos leve a compreender que o exercício da caridade constitui o cume e a síntese de toda a vida cristã”, escreve.

Bento XVI conclui pedindo a protecção divina sobre quantos estão comprometidos em ajudar os migrantes.


ver www.agencia.ecclesia.pt




8 de outubro de 2008

Sínodo dos Bispos preocupado com difusão da Bíblia

O segundo dia de trabalhos no Sínodo dos Bispos trouxe várias intervenções centradas na necessidade de encontrar novos instrumentos para a difusão e valorização da Bíblia, a começar pelo clero.
O Arcebispo de Camberra, D. Mark Coleridge, propôs um “Directório Geral” para as homilias, que inspire as pregações na experiência universal da Igreja.
Já o Cardeal Peter Erdö, presidente do Conselho das Conferências Episcopais da Europa, chamou a atenção para os perigos criados pelas publicações mais sensacionalistas do que científicas, lembrando a este respeito o caso recente do “Evangelho de Judas”, que levam a confundir «fontes credíveis e não credíveis sobre a história de Jesus Cristo».
O secretário especial do Sínodo, D. Laurent Mosengwo Pasinya, falou dos riscos das seitas, que por norma apresentam doutrinas baseadas em «interpretações fundamentalistas da Bíblia».
O presidente da Conferência Episcopal do Congo alertou para a necessidade de evitar interpretações «fundamentalistas e subjectivas» da Escritura, procurando critérios «estáveis» de interpretação.
Na manhã de ontem decorreu, por outro lado, a primeira votação para eleger os oito membros da comissão para a mensagem final do Sínodo. Para guiar esta comissão, o Papa escolheu o Arcebispo Gianfranco Ravasi, presidente do Conselho Pontifício para a Cultura, a quem se juntará ainda um vice-presidente.

Cardeal
propõe
encíclica
O relator geral do Sínodo dos Bispos, Cardeal Mark Ouellet, apresentou ao Papa um pedido logo no início dos trabalhos da assembleia, solicitando uma encíclica sobre a interpretação da Escritura, dado que em muitas ocasiões as faculdades teológicas e biblistas divergem da visão que o Magistério do Papa e dos bispos oferecem sobre a Bíblia.
«A relação interna da exegese com a fé já não é unânime e as tensões aumentam entre os exegetas, pastores e teólogos», alertou. Este responsável deixou mesmo uma pergunta: «Depois de muitas décadas de concentração nas mediações humanas da Escritura, não seria necessário reencontrar a profundidade divina do texto inspirado, sem perder as valiosas aquisições das novas metodologias?»
A proposta do Cardeal foi a de não ver a interpretação da Bíblia como algo meramente académico, pois a Palavra de Deus penetra em todas as dimensões da pessoa.
Ao mesmo tempo, segundo explicou aos jornalistas na sala de imprensa da Santa Sé, é necessário criar uma relação entre exegetas e teólogos com os bispos que supere as tensões, para chegar à comunhão, respeitando as atribuições de cada um.
«Seria oportuno que o Sínodo se interrogasse sobre a conveniência de uma eventual encíclica sobre a interpretação das Escrituras na Igreja», afirmou.

Rabino levanta
polémica no Sínodo
O momento histórico vivido no Sínodo dos Bispos, com a presença do rabino-chefe de Haifa, Shear-Yashuv Cohen, ficou ensombrado com as declarações deste responsável sobre o pontificado de Pio XII, falecido há 50 anos.
Depois de ter dito que a presença na assembleia sinodal era «uma mensagem de amor, de coexistência e de paz para as nossas gerações e para aquelas futuras», o primeiro não-cristão a falar numa reunião magna dos episcopados mundiais preferiu centrar as suas declarações na figura do Papa que guiou a Igreja Católica na II Guerra Mundial.
Recentemente, Bento XVI saiu em defesa de Pio XII, considerando que o mesmo «não poupou esforços» para ajudar «directamente» os judeus e pedindo que sejam superados os «preconceitos» em relação a esta figura.
O rabino disse que os judeus «não podem perdoar e esquecer» a omissão de alguns líderes religiosos a respeito do Holocausto. Shear-Yashuv Cohen reprovou a beatificação do Papa Pio XII, alegando que o antigo Papa não se insurgiu contra o regime Nazi.

in DM,08 Outubro 2008

O lugar da Bíblia na vida da Igreja




A mais de 40 anos de distância do Concílio Vaticano II (1962-1965), em que a Palavra de Deus passou a ter um incremento relevante, e a mesma passou a estar no centro da vida da Igreja, nomeadamente na Liturgia, muitas acções de formação (cursos bíblicos de curta e longa duração) foram desenvolvidas por muitos órgãos e movimentos eclesiais, com vista a ter uma Igreja não mais virada para si mesma, mas procurando dar força à Palavra de Deus, e envidando esforços por renovar a fé numa época em que a relação humana com Deus dá sinais de enfraquecimento.
Após tanto caminho percorrido, a Igreja constata que este tem sido muito lento, e ela mesma torna hoje presente o projecto do Concílio, considerando-o um projecto inacabado. E eis que vem momentaneamente à memória uma consideração básica proferida pelo então Pontífice João XXIII : « O que mais importa ao Concílio é que o depósito sagrado da doutrina cristã seja guardado e ensinado de forma mais eficaz ».
Estas palavras continuam a ser nos nossos dias tão relevantes como então, ao ponto de o nosso Pontífice Bento XVI ter escolhido para o próximo Sínodo dos Bispos a realizar em Outubro de 2008 o tema “A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja”.
Para este Sínodo encontra-se já em apreciação um documento de trabalho introdutório designado “Lineamenta”, que tem por finalidade apresentar o estado da questão sobre o importante tema da Palavra de Deus.
No nº 4 da Introdução deste pode-se ler: « São graves os fenómenos de ignorância e incerteza acerca da própria doutrina da Revelação e da Palavra de Deus; ainda é grande a distância que muitos cristãos têm em relação à Bíblia, e é constante o risco de um uso
não correcto da mesma; sem a verdade da Palavra torna-se insidioso o relativismo do pensamento e da vida. Tornou-se urgente a necessidade de conhecer integralmente a fé da Igreja sobre a Palavra de Deus, de alargar com métodos adequados o encontro com a Sagrada Escritura por parte de todos os cristãos e, ao mesmo tempo, acolher os novos caminhos que o Espírito hoje sugere, para que a Palavra de Deus, nas suas várias manifestações, seja conhecida, ouvida, amada, aprofundada e vivida na Igreja, e assim se torne Palavra de verdade e de amor para todos os homens». Mais adiante estabelece-se como objectivos do Sínodo: «renovar a escuta de Deus na Liturgia e na catequese, bem como acender a estima e o amor pela Sagrada Escritura, fazendo com que os fiéis tenham amplo acesso a ela» .
Nesta passagem encontram-se realçados dados muito importantes, a saber: ignorância, conhecimento, acolhimento.
É-nos mostrado um grande afastamento em relação à Bíblia, esse depósito sagrado da doutrina cristã, do qual resulta a ignorância.
Sabemos que toda a liturgia da Palavra, da qual constam a proclamação/escuta de várias passagens bíblicas do Antigo e do Novo Testamento, o salmo responsorial e o Evangelho de Jesus Cristo, se encontra estruturada naquele conjunto de livros. O elenco das leituras é organizado de tal forma que, passando pelos textos do Antigo Testamento, a assembleia possa ouvir as páginas mais importantes das Sagradas Escrituras num determinado espaço de tempo, possa pela escuta conhecer mais profundamente a fé que professa e a história da salvação, e venha a aderir a Cristo. Esta adesão a Cristo é feita por nós, fiéis, na veneração e contemplação de Cristo pelo Seu mistério e sacrifício eucarístico, que culmina na Sagrada Comunhão.
Cabe agora fazer este juízo: quando aderimos a algo, temos de conhecer o objecto de adesão. Então, se aderimos a Jesus, recebendo-O Sacramentado, temos de O conhecer em toda a Sua História, em todo o reinado de Deus. A Bíblia é por excelência o instrumento contemplativo de todo esse reinado. Ela é o maior tesouro que o cristão tem. Jesus mesmo nos ensina a compreender as características da Palavra ao dizer que ela é espírito e vida. É espírito, porque foi inspirada pelo Espírito de Deus. É vida, porque há caminho de vidas percorrido e novidade de vida sempre possível. Muitas vidas, muitas épocas, muita Vida. Nelas encontra-se o que encontramos nas nossas vidas - choro, sorriso, alegria, festa, dança, oração, luta, dor, derrota, vitória, recomeço. Muitas histórias, preces, cânticos, mitos, narrativas de libertação, profecias e experiências de vida diferentes. E o que se tornou intrínseco a todos esses tempos? Foi o mesmo Deus a indicar o caminho, a caminhar com o Povo, e a fazer-Se presente na história com Jesus. Foi Ele o alicerce da fé que os antepassados professavam, e quando na última Ceia Jesus diz: «Estarei convosco todos os dias até ao fim dos tempos», é o mesmo Jesus o Deus que caminha hoje connosco e nos sussurra: chega-te a mim, que eu me chegarei a ti.
Se o povo bíblico do Antigo Testamento se alimentou da fé, seguindo um Deus “abstracto”, nós, hoje, com a leitura e aprofundamento dos vários livros bíblicos, podemos não só buscar lenitivo para os nossos problemas, obtendo a força de que necessitamos através da leitura das experiências de fé narradas nas vidas de tantos homens e mulheres, como as regras de vida pelas quais nos devemos pautar. Por conseguinte a Bíblia é vida para todos nós. Não está congelada no passado. Logo, devemos acolhê-la.

Não podemos esquecer a interpretação da Palavra de Deus que está presente na mesa da Palavra todas as vezes que a Igreja se reúne em assembleia para celebrar os divinos mistérios. A este respeito sabemos que aos fiéis cabe ouvir a Palavra e meditá-la. Sabemos também que cabe ao leitor, no seu nobre ministério, dar-lhe vida. Em outras palavras, a Palavra proclamada, pelo que acima ficou escrito, não veicula apenas uma informação passada, mas deve fazer acontecer algo novo na nossa vida no momento em que é ouvida, impondo a necessidade de transformação.
E emerge a pergunta: Que deve o leitor fazer? E com que se deve preocupar?
Seria bom que antes de se fazer ouvir, se preocupasse primeiro consigo próprio, tornando-se ele o primeiro estudioso dos livros bíblicos para que da proclamação da palavra transborde força libertadora. Seria bom que participasse em cursos bíblicos para aprofundar o seu conhecimento, se deixar iluminar pela força do Espírito e se fortalecer na fé.
A meditação das Escrituras ensina o leitor a manter-se em comunhão com Cristo. Caso não o faça, ele não irá além de um biblô que escuta a sua própria voz, e cujo espírito emudeceu; e em vez de ser uma brasa ardente pelo contacto com a fogueira da Palavra, passa a substância residual que se lança fora, tornando-se a sua voz inaudível aos sentidos de quem o escuta.

M. Estela Rodrigues, membro da Comissão Arquidiocesana de Pastoral Litúrgica

[A propósito da solenidade de Cristo Rei]

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