31 de janeiro de 2009

São João Bosco



No dia litúrgico do grande S. João Bosco, deixo um singela homenagem, signo da minha admiração e devoção (vi aqui).

Apóstolo da juventude

Figura ímpar nos anais da santidade no século XIX, D. Bosco foi escritor, pregador e fundador de duas congregações religiosas, tendo sobretudo exercido admirável apostolado junto à juventude, numa época de grandes transformações. Dotado de discernimento dos espíritos, do dom da profecia e dos milagres, era admirado pelos personagens mais conhecidos da Europa no seu tempo.


Nascido em Murialdo, aldeia de Castelnuovo de Asti, no Piemonte, aos dois anos de idade faleceu-lhe o pai, Francisco Bosco. Mas felizmente tinha ele como mãe Margarida Occhiena, que lembra a mulher forte do Antigo Testamento. Com sua piedade profunda, capacidade de trabalho e senso de organização, conseguiu manter a família, mesmo numa época tão difícil para a Europa como foi a do início do século XIX, dilacerada pelas cruentas guerras napoleônicas. João Bosco tinha um irmão, dois anos mais velho que ele, e um meio-irmão já entrando na adolescência.

Lar pobre e religioso; a mãe, exemplo de virtudes

A influência da mãe sobre o filho caçula foi altamente benéfica. “Parece que a paciência e a doce firmeza de Mamãe Margarida influenciaram São João Bosco, e que toda uma parte de sua amenidade, de seus métodos afáveis, deve ser atribuída aos modos de sua mãe, à sua maneira de ordenar e de prescrever, sem gritos nem tumulto. [...] Margarida terá sido uma dessas grandes educadoras natas, que impõem sua vontade à maneira de doce implacabilidade” [...].

“João Bosco é um entusiasta da Virgem. Mamãe Margarida lhe revelou, pelo seu exemplo, a bondade, a ternura, a solicitude de Mamãe Maria. As duas mães se confundem em seu coração. Dom Bosco será um dos grandes campeões de Maria, seu edificador, seu encarregado de negócios”1.


Talentos naturais e discernimento dos espíritos

A Providência falava a ele, como a São José, em sonhos. Aos nove anos teve o primeiro sonho profético, no qual — sob a figura de um grupo de animais ferozes que, sob sua ação, vão se transformando em cordeiros e pastores — foi-lhe mostrada sua vocação de trabalhar com a juventude abandonada e fundar uma sociedade religiosa para dela cuidar.

Extremamente dotado, tanto intelectual quanto fisicamente, era um líder nato. Por isso, "se bem que pequeno de estatura, tinha força e coragem para meter medo em companheiros de minha idade; de tal forma que, quando havia brigas, disputas, discussões de qualquer género, era eu o árbitro dos contendores, e todos aceitavam de bom grado a sentença que eu desse”2, dirá ele em sua autobiografia. Observador como era, aprendia os truques dos saltimbancos e prestidigitadores, de maneira a atrair seus companheiros para seus jogos e pregação, pois desde os sete anos foi um apóstolo entre eles.

Possuía um vivo discernimento dos espíritos, como ele mesmo afirmou: "Ainda muito pequeno, já estudava o carácter de meus companheiros. Olhava-os na face e ordinariamente descobria os propósitos que tinham no coração”3. Essa preciosa qualidade depois o ajudaria muito no apostolado com a juventude.

Órfão de pai, muito pobre para estudar para o sacerdócio como pretendia, e tendo sobretudo a incompreensão do meio-irmão, que o queria no campo, aos 12 anos a mãe lhe pôs sobre os ombros um bornal com alguns pertences e o enviou a procurar trabalho nas fazendas vizinhas. Assim o adolescente deambulou pela região, servindo de empregado num café, de aprendiz de alfaiate, de sapateiro, de marceneiro, de ferreiro, preceptor, tudo com um empenho exímio, que o levará depois a ensinar esses ofícios a seus "birichini"4 nas escolas profissionais que fundará.


Vivendo de confiança na ajuda sobrenatural

A vida de São João Bosco é um milagre constante. É humanamente inexplicável como ele conseguiu, sem dinheiro algum, construir escolas, duas igrejas — uma sendo a célebre Basílica de Nossa Senhora Auxiliadora — prover de máquinas específicas suas escolas profissionais, nutrir e vestir mais de 500 rapazes numa época de carestia.

Para Pio XI, "em D. Bosco o sobrenatural havia chegado a ser natural; o extraordinário, ordinário; e a legenda áurea dos séculos passados, realidade presente”8.

Quando mais ele precisava e menos possibilidade tinha de obter
dinheiro, aparecia algum doador anônimo para lhe dar a exata quantia necessitada. Mas ele empenhava-se também em promover rifas, leilões e tudo que pudesse render algum dinheiro para sua obra.

Educador ímpar, e sobretudo eficaz diretor de consciências, vários de seus meninos morreram em odor de santidade, sendo o mais conhecido deles São Domingos Sávio. Dom Bosco escreveu-lhe a biografia e a de vários outros.

Necessitando Dom Bosco de ajuda para seu apostolado incipiente, não teve dúvidas em ir pedi-la à sua mãe, já entrada na velhice e vivendo retirada junto ao outro filho e netos. Essa mulher forte pegou alguma roupa e objetos de que poderia necessitar, e, sem olhar para trás, seguiu seu filho a pé, nos 30 quilômetros que separavam sua vila de Turim. Tornou-se ela a mãe de tantos "birichini", aos quais alimentava, vestia e ainda dava sábios conselhos. Foi seguindo seu costume que seu filho instituiu as belas Boa Noite, ou palavras edificantes aos meninos antes de eles irem dormir.

Escrevendo a reis e imperadores

São João Bosco mantinha uma correspondência intensa, escrevendo para imperadores, reis, nobreza, dirigentes da nação, com uma liberdade que só os santos podem ter. Assim, transmitiu ao Imperador da Áustria um recado memorável de Nosso Senhor para que ele se unisse às potências católicas, a fim de se opor ao poderio crescente da Prússia protestante. Escreveu também à nossa Princesa Isabel, recomendando-lhe seus salesianos no Brasil. Ao rei do Piemonte, prestes a tomar medidas contra a Igreja, alertou-o da morte que reinaria no palácio, caso isso ocorresse. Como o soberano não voltou atrás, quatro membros da família real se sucederam no túmulo, em breve espaço de tempo.

São João Bosco morreu em Turim a 31 de janeiro de 1888, sendo canonizado por Pio XI em 1934.

Notas:

1.La Varende, Don Bosco, Le Livre de Poche Chrétien, Arthème Fayard, Paris, pp. 15 e 21.
2.San Juan Bosco, Memorias del Oratorio, Primera Fase, 1, p. 7, in "Biografía y Escritos", B.A.C.
3.Id. Ib.
4.Plural de "birichino" — garoto, gaiato (Dizionario Portoghese-Italiano, Italiano-Portoghese, Carlo Parlagreco e Maria Cattarini, Antonio Vallardi Editore, Milano, 1960).
5.Pe. Rodolfo Fierro, SDB, Biografía y Escritos..., Introdução, p. 14.
6.Id. ib., p. 15.
7.Id. ib., p. 51.
8.Discurso de 3 de abril de 1932, apud BAC, op. cit., p. 11.

Paulo de Tarso, quem és tu?(3)

Faculdade de Teologia de Braga
vai ter licenciatura canónica

Na sessão de encerramento da XVII Semana de Estudos Teológicos, o director-adjunto da Faculdade de Teologia, depois de agradecer aos parceiros da organização, especialmente à Comissão Cultural do Auditório Vita pela cedência do espaço, deu a conhecer novos projectos da instituição de ensino superior, concretamente a criação de uma licenciatura canónica em Teologia Pastoral.
«Este é um dos contributos que a Faculdade de Teologia oferece para a celebração do Ano Paulino», disse João Duque, completando que outras iniciativas podem entretanto surgir.
Desde já, a próxima edição dos “Diálogos Transversais” será subordinada a São Paulo, com o tema “As fontes do Cristianismo”, na qual sete docentes da UCP orientarão outros tantos encontros, entre Março e Junho.
Para um futuro próximo, talvez no próximo ano lectivo, João Duque deu a conhecer que a Faculdade de Teologia vai ter uma licenciatura canónica (em Portugal designa-se curso de doutoramento) em Teologia Pastoral.
Com ela, os interessados poderão aprofundar os estudos teológicos sem sair de Braga. «Este curso servirá para um trabalho de investigação e de intervenção no contexto dos novos contextos pastorais, sobretudo no contexto bracarense», disse João Duque.
Ainda na linha da tão badalada formação permanente, João Duque salientou a experiência positiva que tem sido o curso de actualização (reciclagem) em Teologia, no qual estão a participar cerca de 20 padres da Arquidiocese de Braga. Em breve, tem início o segundo semestre.

Gratidão do Arcebispo à Faculdade de Teologia
Por seu lado, D. Jorge Ortiga expressou a sua gratidão à direcção da Faculdade de Teologia pela escolha de Paulo para tema da semana de estudos em todos os centros da UCP.
Depois, fazendo a ligação com o programa do triénio pastoral arquidiocesano, concretamente com os denominados “Encontros com São Paulo”, o Arcebispo Primaz revelou satisfação porque «cerca de três mil pessoas, todos os meses, participam nesta iniciativa».
Como pedido, D. Jorge Ortiga destacou a necessidade de suscitar cooperadores, continuando a chamar e a potenciar as vocações. «Temos nas nossas comunidades muitas pessoas talentosas e carismáticas e é importante acolhê-las, promovê-las e estimulá-las», afirmou.
Neste sentido e finalizando, o prelado chamou a atenção para a necessidade de dar formação aos agentes de pastoral, se possível em rede de paróquias.

Paulo de Tarso, quem és tu?(3)

Evangelho da Cruz é o centro da reflexão paulina

O último dia da Semana de Estudos Teológicos de Braga contou com a presença de Johan Konings e de José Carlos Carvalho, que identificaram – ambos – o centro de reflexão de São Paulo, figura central desta iniciativa, no Evangelho da Cruz de Cristo.
O primeiro conferencista, nascido na Bélgica e docente no Brasil, começou por apresentar uma breve biografia de Paulo e chegou à conclusão de que o Evangelho que o Apóstolo anuncia é precisamente o Evangelho da Cruz.
Com a intervenção “Paulo e Jesus. Luz sobre uma questão fundamental”, Johan Konings considerou «injustas» as posições que provocam ruptura entre a actuação de Jesus e a pregação apostólica. «Dizer que Jesus pregava o Reino e os Apóstolos pregavam o senhorio de Jesus é o mesmo que dizer que não há continuidade entre as duas pregações» disse, relevando que «Jesus é o Reino em pessoa e o Reino de Deus é o modo próprio de ser de Jesus».
Neste sentido, para o conferencista «anunciar Jesus ainda hoje é actualizar o seu anúncio do Reino».
Depois de analisar as diversas fontes que apresentam Jesus, o orador deu a conhecer que o «Evangelho de Paulo» é o «Evangelho da Cruz».
Paulo não se reclama autor do Evangelho, mas reclama a legitimidade do seu trabalho evangelizador e a sua originalidade na pregação e esta «estabelece-se na obediência a Cristo», apontou.
O docente da Faculdade Jesuíta de Teologia de Belo Horizonte (Brasil) abordou também o tema da «justificação» em Paulo e, sobretudo no debate, o tema soteorológico da «morte vicária».

Eixos da teologia paulina
Por sua vez, José Carlos Carvalho apontou os “Eixos maiores da teologia paulina”. O docente da Faculdade de Teologia do Porto apresentou três mundos por onde o Apóstolo das Nações andou: o mundo cultural grego, o mundo judaico e o mundo da fé e revelação cristã.
Em relação ao primeiro, denominado «eixo cultural do mundo grego», o conferencista disse que o mundo ajudou São Paulo a fazer teologia, salientando a «pastoral da inteligência» que o Apóstolo seguiu e que a partir dele tem sido estandarte da Igreja. Sobre a pregação em contexto helénico e politeísta, afirmou: «É num supermercado de salvações, com muitos deuses importados, que Paulo faz valer o Evangelho de Cristo».
Já sobre o «eixo do mundo judaico», o orador, casado e pai de dois filhos, mostrou que esta cultura deu a Paulo o Antigo Testamento e a tradição semítica, a perícia rabínica e a nomenclatura teológica e ainda o Templo, com a espiritualidade e a oração.
«Paulo nunca renegou Saulo», defendeu o conferencista, mostrando que a teologia paulina, em diálogo com o mundo judaico, revela a imagem de um Deus que é Pai e que faz dos seres humanos seus filhos, porque «o específico do filho é acreditar».
Por fim, no último ponto, o docente falou do «eixo da fé cristã» assente na «visão da realidade humana», na «eclesialialidade» e na «concepção de história» que fazem com que Paulo chegue ao seu centro de reflexão, que é a Cruz de Cristo como salvação dos homens.

30 de janeiro de 2009

Cristo, servo sofredor




Cristo Jesus, Filho eterno
Desceu do Alto dos Céus
Humilhou-se a si próprio
E levou os homens para Deus.

Escolheu em toda a hora
Obedecer até à morte
E recebeu sem demora
A ressurreição como sorte.

É o Pai quem o exalta
Por ter sempre confiado
E no novo nome recebido
O Pai é glorificado.

Obrigado, bom Senhor,
Por seres servo sofredor
No mundo que não Te amou.

Na cruz és Redentor
Revelando o Deus Amor
E lá a morte acabou.

inédito José António Carneiro
2008

foto tirada aqui

Paulo de Tarso, quem és tu?(3)

Bispo do Porto apresentou
tópicos pastorais para a Igreja


A partir da teologia de São Paulo, D. Manuel Clemente apresentou ontem alguns tópicos pastorais para a agenda da Igreja, particularmente ao nível da nova evangelização, da mobilidade dos cristãos e da territorialidade das paróquias.
A pouca popularidade do Apóstolo das Nações entre os cristãos, a sua actividade evangelizadora marcadamente pascal e a acentuação da argúcia de Paulo, quer do ponto de vista da geografia física quer humana, no trabalho pastoral, foram aspectos relevados pelo Bispo do Porto, no Auditório Vita, a cerca de duas centenas de pessoas.
Dando nota do gosto pela presença na Arquidiocese de Braga, D. Manuel Clemente estruturou a sua intervenção, em alguns pontos, na linha do tema previsto (“Tópicos actuais de uma pastoral paulina”) e começou por destacar que a celebração do Ano Paulino deve servir para tirar tópicos que ajudem à própria acção pastoral da Igreja.
«São Paulo não é um santo popular, tal é a força dos seus escritos e a veemência das suas convicções», disse, destacando, por exemplo, que na diocese do Porto existe apenas uma paróquia que tem o Apóstolo por padroeiro e uma igreja a ele dedicada.
«Podemos estar 2000 anos depois da Páscoa, mas ainda estar antes dela», defendeu. Num registo sempre pastoral, o Bispo do Porto disse que «tudo o que se refere à iniciação cristã e à vida da Igreja e tudo o que define o ser cristão tem em São Paulo um ponto de partida absoluto: Cristo morto e ressuscitado».
Para o prelado, nada pode dispensar a Igreja dos dias de hoje de apresentar o mesmo que Paulo: Cristo e o seu mistério pascal.
«Foi pascalmente – continuou D. Manuel Clemente – que os tessalonicenses assumiram o destino de Cristo e de Paulo em verdadeira imitação deles» e, desse modo igualmente pascal, se fizeram seguidores e testemunhas.
«Conversão e espera» são duas notas que devem definir as comunidades cristãs dos dias de hoje, notou o prelado, a uma plateia totalmente rendida à intervenção.
Defendendo que os desafios pastorais de hoje são exigentes como os de Paulo foram, D. Manuel Clemente afirmou: «Cristo não “ajuda” a efectivação das nossas esperanças e desejos como o fariam os deuses de antes e de hoje, mas, muito pelo contrário, Cristo constitui-se como nossa esperança e nosso desejo».
Por isso, «manter e avivar a tensão escatológica das comunidades cristãs é um tópico tão paulino como indispensável», frisou o prelado, que confindenciou já ter tido a vontade de em celebrações eucarísticas interromper o rito nas expressões “Vinde, Senhor Jesus!” ou “Enquanto esperamos a vinda gloriosa de Jesus Cristo Nosso Salvador” e inquirir se é mesmo isso que cada um quer.
Esta atitude da esperança cristológica «não passa por iludir problemas, mas preenchê-los com a esperança de quem vive agora do fim para o princípio», à luz da Páscoa de Cristo.
Segundo o Bispo do Porto, a «maior urgência pastoral de hoje é proporcionar a quem nos procura, com a veemência e o afecto de Paulo, a oportunidade de vislumbrar o que a sua existência pode ser se for a de Cristo em si, apurando o desejo e realizando a esperança».
Isto mesmo faz com que «os actos habituais se tornem em hábitos pastorais», já que antes disto «temos conversa religiosa, senão entretenimento religioso», afirmou.

Territórios vão além da geografia física
Apoiado nas estratégias seguidas pelo Apóstolo no anúncio do Evangelho, quer em relação à geografia física quer humana, D. Manuel Clemente defendeu a necessidade da criação de «comunidades móveis» e de novas formas de a Igreja trabalhar em rede.
«Toda a nossa pastoral assenta ainda e sobretudo em bases territoriais, mas hoje os territórios vão muito além da geografia física», disse. A inspiração paulina deve ajudar a encontrar os novos pontos-chave para a evangelização, como as famílias e associações, entre outras.
«A nova evangelização, como a primeira, não se fará por ocupação maciça do espaço, mas por expansão dinâmica das vivência e convivências», defendeu. «Uma ou mais famílias num bairro, um movimento numa escola ou num movimento sócio-profissional, uma presença nos media ou na internet corresponderão às cidades escolhidas pela argúcia e perícia de Paulo» na sua evangelização, afirmou o presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais.
A este respeito, o prelado sugeriu que dioceses e paróquias em geral vivam e convivam mais em rede e em colaboração. Nesta linha, também os agentes de pastoral deverão colocar-se em atitudes de cooperação eclesial, como um corpo unido.

Paulo de Tarso, quem és tu?(2)

Ressurreição é conceito estranho
para o mundo contemporâneo

O segundo dia da XVII Semana de Estudos Teológicos começou com uma comunicação de Isabel Varanda, docente da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa. “Como falar da Morte, da Ressurreição e do Além. Ressonâncias paulinas” foi o tema tratado pela teóloga bracarense, que procurou responder à questão enunciada, no início, pela própria: «O ser humano, no século XXI, tem ainda capacidade para acreditar na ressurreição?»
Aos presentes, Isabel Varanda mostrou que «o conceito de ressurreição é estranho ao mundo moderno», ainda que o «ser humano viva uma contradição trágica entre a experiência da morte e o desejo de imortalidade».
Mostrando que as opiniões sobre esta questão são variadas, a docente da UCP frisou que essas interrogações levam a Igreja a interrogar-se de que modo pode devolver «plausibilidade e credibilidade à ressurreição» nos tempos que correm.
Todavia, surge precisamente aí o problema e a dificuldade da linguagem escatológica à qual deve ser imposto, como critério geral, o «princípio da parcimónia» com o qual, segundo a teóloga, não se obscureça a argumentação «nem com complexidade de conceitos nem com a ambiguidade de palavras nem com a multiplicação desnecessária de postulados e argumentos».
Na sua intervenção, a docente abordou algumas questões de escatologia, procurando caminhos de respostas e fazendo sínteses, mas deixando em aberto a discussão teológica da matéria.
À questão “Que significa o dom da imortalidade?”, respondeu que «a imortalidade no sentido bíblico não diz que o ser humano não é mortal», mas aponta para o corte das relações com Deus.
Em relação ao dualismo ou dualidade de corpo e alma e à questão “Com a morte biológica, o que morre ou quem morre?», disse que a corporeidade é um «momento constitutivo do ser» e que «não há alma separada de corpo nem corpo separado da alma». Nesse sentido, frisou que «a pessoa não é um corpo que vem a uma alma, nem uma alma que vem a um corpo».
Já a terminar, Isabel Varanda procurou elucidar os presentes para a questão “Com que corpo ressuscitam os mortos?” Apoiada em São Paulo – tal como aconteceu durante toda a intervenção –, a oradora afirmou que é «com o mesmo corpo», não terreno, mas um «corpo próprio que irradia a vida do Espírito».
Em relação ao que existe depois da morte, a docente falou sobre a doutrina da Igreja que refere o céu, o purgatório e o inferno. Sobre este último, disse: «O inferno é ver Deus e não querer partilhar a sua intimidade».

29 de janeiro de 2009

Exagero de amor (a prodigalidade)



Rompo a aliança
Selada em amor
Começada por Ti,
Ó Pai criador.

Esbanjo sem mais
Pensando em mim
Gozando, feliz,
Me sinto assim.

Mas cedo virá
Frustração sem medida
E caindo em mim
Programo a partida.

Aberto te encontro
De braço estendido
Meu corpo sem roupa
Queres ver revestido.

A festa que fazes
Não a sinto merecida
Mas o teu perdão
Não conhece medida.

Tu és sempre assim
Mãe e Pai acolhedor
E por mim, manifestas
Um exagero de amor.


inédito José António Carneiro
13/03/07


© foto tirada daqui

A Palavra das Palavras




A Palavra das Palavras
É Jesus, Filho de Deus,
Enviado para todos
A salvar a terra e céus.

A história da salvação
Revela o Deus de Amor
Feito tudo para todos
Na cruz do Redentor.

Como espada de dois gumes
Como pão que nos sustenta
Quem a ouve e a escuta
Vive dela e se alimenta.

Fala-nos, Senhor Jesus,
Pois Tu és o bom pastor
És também a nossa luz
E nos guias por amor.

Só queremos escutar
Tua voz compreendemos
E queremos praticar
Pois, só assim viveremos.

inédito José António Carneiro
03/06/2008

foto tirada daqui

Bastará o respeito mútuo?

O tema da relação entre fé e razão, entre teologia e ciência é, desde há muito tempo, um tema controverso, discutido e sempre em aberto. Ouvi, anteontem, um investigador da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (Brasil) defender que, na actualidade, têm sido dados mais passos de convergência pela ciência do que pela teologia, subentendendo aí uma crítica à Igreja por dar poucos sinais de abertura em relação às descobertas científicas da actualidade.
Recorde-se o que é sabido de todos: esta questão motivou durante a história da humanidade posições fundamentalistas e mesmo ultra-fundamentalistas de parte-a-parte, levando em muitos casos a condenações, excomunhões, para não dizer violências e guerras.
Trazemos à memória aquilo que o saudoso Papa João Paulo II defendeu na sua penúltima encíclica, Fides et Ratio, uma verdadeira profecia de comunhão e aproximação entre a Teologia e a Ciência, que ainda não é objecto da devida concretização pelo menos por parte de muitos teólogos. Dizia o Papa: «a verdadeira fé não se reduz a um sentimento subjectivo, mas precisa de bases racionais e de uma certa objectividade, corroborada pelas ciências humanas».
Ora, é bem verdade que vão surgindo passos convergentes que buscam essa comunhão e nem é necessário apontá-los. Contudo, parece que nesta luta, como noutras, ninguém dá o braço a torcer. As questões ficam pela base do respeito mútuo – o que de si é importante. Mas bastará o respeito mútuo?
Esta questão aliada ao diálogo traz-me à lembrança a recente celebração da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. Esta iniciativa centenária visa que aqueles que seguem Cristo peçam e busquem, de maneira sempre mais aprofundada, o dom da unidade.
Também nestas questões de ecumenismo e, mais alargado, de diálogo inter-religioso se fala, em primeiro lugar, no respeito mútuo. Mas a minha dúvida reside no facto de saber se basta isso. Não serão precisas mudanças ao nível doutrinal, disciplinar e mesmo cultual e celebrativo?
Não duvido da radical radicalidade de Cristo e atendendo ao seu pedido («Que todos sejam um!»), questiono-me se estamos no caminho certo, se fazemos o que basta e se respeitamos fielmente o testamento deixado.

“Uma Palavra é melhor do que um Presente”

D. António Couto lançou livro
escrito com carinho e poesia


“Uma Palavra é melhor do que um Presente” é o título do mais recente livro do Bispo Auxiliar de Braga. D. António Couto salientou que esta obra é mais um contributo para a exegese bíblica moderna e para o enriquecimento dos cristãos. Trata-se de um conjunto de nove capítulos ou ensaios que, apesar de terem autonomia própria, foram trabalhados para formarem um conjunto harmónico.
Aos participantes da Semana de Estudos Teológicos, o prelado revelou que «o livro foi escrito com carinho» e, como tal, também o entregou ao público com carinho. «Esta pequena colectânea pode vir a resultar, no futuro, em mais publicações», uma vez que vai «continuar a tecer fios» que brotam do estudo aturado da Escritura.
Na sessão de apresentação do livro, o director-adjunto da Faculdade de Teologia começou por destacar o «peso da autoridade» que D. António Couto já conquistou «com trabalho e provas dadas».
Antes de estabelecer um sintético percurso para abrir o apetite do público presente no Auditório Vita, João Duque afirmou que os capítulos do livro «não são um amontoado de considerações mais ou menos piedosas e superficiais, sobre os textos da Escritura, como acontece em tantas publicações contemporâneas».
Para o teólogo, a obra do Bispo Auxiliar de Braga expressa um «trabalho cuidadoso sobre o texto original e com originalidade de abordagem».
Dos nove capítulos, o director-adjunto da Faculdade de Teologia destacou três: um sobre a Graça, um sobre a luta contra a idolatria e um sobre a cura.
O livro de D. António Couto, além destes já apontados, contém uma abordagem aos Salmos e um aprofundamento da noção de Lectio Divina. A Sabedoria é o tema do quarto capítulo. A apresentação de Cenários Bíblicos e o estudo do Anúncio Pascal ocupam os quintos e sextos capítulos, respectivamente.
A obra encerra com um grande capítulo sobre São Paulo, «em perfeita consonância com o contexto celebrativo do ano em que é editado».
João Duque concluiu a apresentação da obra, afirmando que «o caminho de graça e da Graça é o foco de toda a Escritura e é o tema central das abordagens de D. António Couto». E finalizou: «Este livro é um belo e mesmo poético contributo para a compreensão do caminho da salvação».

Paulo de Tarso, quem és tu?

Semana de Estudos Teológicos arrancou ontem
Escritos paulinos dão a conhecer
excelência e argúcia do Apóstolo

Os escritos paulinos revelam com profundidade a excelência e a argúcia do Apóstolo das Nações. Esta foi uma das conclusões do primeiro dia da XVII Semana de Estudos Teológicos que pretendem ir no encalço de São Paulo. Organizada pela Faculdade de Teologia-Braga, com a colaboração do Departamento Arquidiocesano para a Formação Permanente dos Presbíteros, da Associação de Estudantes daquela Faculdade e da revista “Cenáculo”, a edição deste ano decorre, pela primeira vez, no Auditório Vita, e procura responder à questão: “Paulo de Tarso, quem és tu? O passado e o presente do Apóstolo das Nações”.
São Paulo tem as características necessárias que fazem dele mesmo um escritor ao nível dos grandes clássicos, uma vez que, por um lado, sabe usar artifícios literários e, por outro, também se expõem no que escreve ou dita para outro escrever. Foi esta ideia que o padre Tolentino Mendonça defendeu com a conferência “A palavra como auto-retrato”.
Numa intervenção com incursões nos escritos paulinos e com recurso a alguns clássicos da literatura mundial, o sacerdote que é director do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura começou por apontar três dificuldades na caracterização da figura do Apóstolo das Nações, a partir dos seus escritos.
Essa caracterização torna-se difícil porque «Paulo não escreveu, por sua própria mão, todas as cartas que estão no cânone bíblico» e ainda porque «algumas são assinados por uma equipa». Outra dificuldade apontada pelo sacerdote natural da Madeira tem a ver com as suspeitas e as desconfianças que Paulo levanta em relação à retórica.
Para traçar uma figura de Paulo a partir daquilo que vem expresso no corpus paulino, o teólogo e biblista começou por mostrar que «Paulo sabe usar as palavras e sabe argumentar». Foi, inclusivamente, mais adiante, afirmando que há «argúcia» na escrita de São Paulo.
Frisando que a palavra do sujeito revela algo e auto-revela o autor da mesma, defendeu também que São Paulo se expõe naquilo que diz ou dita e «não despeja apenas palavras, mas envolve-se».
Na intervenção, Tolentino Mendonça disse que Paulo não tem medo de colocar interrogações que, em muitos casos, assustam e abismam aqueles que ainda hoje as lêem nas suas cartas. O Apóstolo debate, argumenta, usa a dialéctica, revela gosto pelas antíteses e inclinação para as metáforas.
No entanto, lugar especial, dentro do leque de artifícios literários usados nas cartas paulinas, merece o paradoxo, particularmente aquele que se expressa no binómio força/fraqueza.
Já a terminar, o conferencista defendeu que a retórica usada por São Paulo é marcada pelo excesso, pois «não mede muito as palavras e não é muito funcional». Contudo, sobre o seu retrato, referiu que «ao contar, Paulo conta-se dando testemunho e contando a sua experiência». Daí que, concluiu, «o auto-retrato de Paulo, expresso nos seus escritos, é igualmente auto-retrato da Igreja primitiva e da Igreja de todos os tempos».

Paulo de Tarso, quem és tu?

Semana de Estudos Teológicos arrancou ontem
Escritos paulinos dão a conhecer
excelência e argúcia do Apóstolo

Os escritos paulinos revelam com profundidade a excelência e a argúcia do Apóstolo das Nações. Esta foi uma das conclusões do primeiro dia da XVII Semana de Estudos Teológicos que pretendem ir no encalço de São Paulo. Organizada pela Faculdade de Teologia-Braga, com a colaboração do Departamento Arquidiocesano para a Formação Permanente dos Presbíteros, da Associação de Estudantes daquela Faculdade e da revista “Cenáculo”, a edição deste ano decorre, pela primeira vez, no Auditório Vita, e procura responder à questão: “Paulo de Tarso, quem és tu? O passado e o presente do Apóstolo das Nações”.
São Paulo tem as características necessárias que fazem dele mesmo um escritor ao nível dos grandes clássicos, uma vez que, por um lado, sabe usar artifícios literários e, por outro, também se expõem no que escreve ou dita para outro escrever. Foi esta ideia que o padre Tolentino Mendonça defendeu com a conferência “A palavra como auto-retrato”.
Numa intervenção com incursões nos escritos paulinos e com recurso a alguns clássicos da literatura mundial, o sacerdote que é director do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura começou por apontar três dificuldades na caracterização da figura do Apóstolo das Nações, a partir dos seus escritos.
Essa caracterização torna-se difícil porque «Paulo não escreveu, por sua própria mão, todas as cartas que estão no cânone bíblico» e ainda porque «algumas são assinados por uma equipa». Outra dificuldade apontada pelo sacerdote natural da Madeira tem a ver com as suspeitas e as desconfianças que Paulo levanta em relação à retórica.
Para traçar uma figura de Paulo a partir daquilo que vem expresso no corpus paulino, o teólogo e biblista começou por mostrar que «Paulo sabe usar as palavras e sabe argumentar». Foi, inclusivamente, mais adiante, afirmando que há «argúcia» na escrita de São Paulo.
Frisando que a palavra do sujeito revela algo e auto-revela o autor da mesma, defendeu também que São Paulo se expõe naquilo que diz ou dita e «não despeja apenas palavras, mas envolve-se».
Na intervenção, Tolentino Mendonça disse que Paulo não tem medo de colocar interrogações que, em muitos casos, assustam e abismam aqueles que ainda hoje as lêem nas suas cartas. O Apóstolo debate, argumenta, usa a dialéctica, revela gosto pelas antíteses e inclinação para as metáforas.
No entanto, lugar especial, dentro do leque de artifícios literários usados nas cartas paulinas, merece o paradoxo, particularmente aquele que se expressa no binómio força/fraqueza.
Já a terminar, o conferencista defendeu que a retórica usada por São Paulo é marcada pelo excesso, pois «não mede muito as palavras e não é muito funcional». Contudo, sobre o seu retrato, referiu que «ao contar, Paulo conta-se dando testemunho e contando a sua experiência». Daí que, concluiu, «o auto-retrato de Paulo, expresso nos seus escritos, é igualmente auto-retrato da Igreja primitiva e da Igreja de todos os tempos».

28 de janeiro de 2009

Simpósio sobre Religião e Ciência

Religião deve estar mais aberta
aos desenvolvimentos científicos


A religião na actualidade, apesar dos muitos limites existentes, deve mais aberta aos desenvolvimentos científicos e, com isso, colocar-se numa atitude de respeito e diálogo com os diversos campos do saber científico, concretamente com a Biologia, a Genética e as Neurociências. Foi esta a posição defendida por José Queiroz da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP), no Simpósio de Filosofia da Religião e Ciências da Religião, organizado pelo Mestrado/Doutoramento em Filosofia da Religião da Faculdade de Filosofia (FacFil) da Universidade Católica Portuguesa (UCP) e o Grupo Pós-Religare daquela instituição brasileira.
Numa conferência intitulada “Deus e a espiritualidade sob olhares científicos pós-modernos: limites e possibilidades da nova Biologia, da Genética e da Neurociência no campo da(s) Ciência(s) da Religião”, o docente defendeu a tese da complementaridade entre as novas descobertas científicas com as Ciências da Religião e apelou a uma conjugação de esforços.
Apresentando modelos fundamentalistas actuais (enfoque especial para Richard Dawkins, com o livro “Deus, um delírio”) salientou a necessidade de os vários campos do saber, especialmente as Neurociências e a Filosofia e a Teologia, darem as mãos.
No entanto, o docente mostrou, por meio de muitos trabalhos e estudos, que se está a registar uma certa aproximação por parte da ciência em geral à religião, lamentando que o contrário não se esteja a assistir.
Para se superar divergências e se poder experimentar uma certa complementaridade existente entre as duas áreas de saber, este especialista brasileiro asseverou que o respeito mútuo é o primeiro e insubstituível passo a dar.
Por sua vez, o director-adjunto da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa (UCP) interveio com uma apresentação sobre “Experiência religiosa e metafísica: breve leitura de Jean-Luc Marion”.
João Duque, que é também docente de Mestrado/Doutoramento na FacFil, defendeu, depois de aflorar alguns pontos do filósofo e teólogo francês, que há uma certa «identidade necessária» entre a fenomenologia da doação e a metafísica.
O teólogo que é também secretário da Comissão Episcopal para a Doutrina da Fé e Ecumenismo concluiu com a afirmação de que «a experiência religiosa é sempre uma experiência metafísica e simultaneamente pós-metafísica».

Dois blocos de comunicações
preencheram o dia
Durante o dia de ontem, os participantes tiveram tempo para ouvir duas séries de comunicações sendo que a primeira foi subordinada ao tema “A lógica do dom” e contou com as seguintes palestras: “Reconhecimento, dom e comunicação não violenta” por Helena Catalão; “Sacrum facere: Sacrifício do dom” por Pedro Valinho e “A perspectiva da kenosis na dinâmica de instrumentalização da experiência religiosa no contemporâneo” a cargo de Adelino Oliveira.
O segundo bloco de comunicações deteve-se no tema “Pós-modernidade e privatização da fé” e contou com duas intervenções: Elias Couto referiu-se ao “Laicismo pós-moderno e privatização da fé” e Artur Galvão abordou “A privatização da religião no pensamento de Richard Rorty”.
O segundo dia do simpósio concluiu-se com uma intervenção de José Augusto Mourão sobre “O embaraço da linguagem e do testemunho”. O docente de Semiótica da Universidade Nova de Lisboa falou sobre o problema da linguagem e das palavras, concretamente daquelas que, segundo o sacerdote, «nos fazem pôr de pé», como são «Deus e Mãe».
Em declarações ao Diário do Minho, o coordenador do Mestrado/Doutoramento em Filosofia da Religião, Manuel Sumares, afirmou que o simpósio, que termina hoje, tem decorrido dentro do previsto pelos organizadores.
Salientando a boa relação existente com a PUCSP referiu que foi, precisamente, esta simbiose entre as duas instituições que levou à organização deste evento, para o qual, segundo o docente, «não é preciso graus académicos, senão o gosto pelo assunto».
No futuro, concluiu, não estão postas de lado outras possibilidades de trabalhos e organizações em parceria entre as duas instituições de ensino superior.


Apatia e amoralidade política
levam ao descrédito dos partidos

“A religião numa era pós-cristã” foi a conferência proferida por José Rui Costa Pinto e que abriu a parte da tarde do dia de ontem. O docente da Faculdade de Filosofia criticou a «apatia e a amoralidade política» que geram descrédito da classe e desencanto dos mais jovens e das instituições em geral.
Ainda sobre a questão política disse que também os partidos políticos estão descredibilizados e, como tal, exige-se uma «cidadania mais activa» como superação da política partidária.
Em relação ao lugar na religião na sociedade pós-moderna defendeu que «as religiões são componentes legítimas das sociedades e que, do ponto de vista social, apesar de não ser normativa, a religião é referencial de sentido e, do ponto de vista político, a neutralidade do Estado não significa ausência de ética e de espiritualidade».
O sacerdote jesuíta acentuou ainda o contributo do cristianismo em especial ao nível do valor da pessoa e da sua dignidade fundamental.

27 de janeiro de 2009

1000 visitas

Mais um marca.

1000 visitas! Com a ligação aos blogs católicos foi rápido.

Obrigado a todos os que visitam o meu blog.

Obrigado Àquele que tudo pode e que nos fez, faz e continua a fazer ser mais!

A promessa fica: continuar a dar notícias, sempre que possível boas...

Se forem de Deus só podem ser isso.

Bom trabalho para todos

Castelos



Faço castelos nos meus sonhos
Sou errante peregrino

Mas, quando abro os olhos
Caminho!

Vejo um mundo cintilante

Que corre em cada rio

E a natureza verdejante
Caia chuva, faça frio.


Vejo um mar imenso

Persistente, vai e vem

Naquela bravura e mansidão
Que só o mar tem.



inédito José António Carneiro

08/09/07


imagem tirada aqui

EB1, creche e berçário no Lar D. Pedro V

O Lar D. Pedro V vai ter já no próximo ano lectivo a funcionar nas suas instalações uma escola EB1 e está a trabalhar também na criação das valências de creche e berçário. A informação foi revelada pelo cónego Manuel Azevedo Tinoco, que é presidente da direcção da instituição que inaugurou uma ludoteca, uma obra que contou com o patrocínio do Montepio Geral e que trouxe a Braga o presidente do grupo, António Tomás Correia.
Em declarações, o cónego bracarense referiu que com o encerramento da valência do ATL e da escola estatal e não querendo proceder ao despedimento de pessoal técnico e auxiliar, o Lar D. Pedro V vai avançar com a criação da escola EB1 para a qual já estão feitos os requerimentos junto da DREN e já existe um projecto de obras, assim como está a ser preparado o orçamento desta infra-estrutura que deverá estar concluída em Junho ou Julho deste ano.
Para que a instituição possa ter em funcionamento já em 2009, o primeiro ano do Ensino Básico vai ser necessária uma obra de remodelação das instalações actuais do lar, obras essas que serão «volumosas», segundo as palavras do capitular.
Com a criação das valências de creche e berçário, que só acontecerá depois da EB1, a instituição pretende dar respostas a pedidos e solicitações, principalmente dos pais de utentes da casa. Ter a funcionar no mesmo espaço berçário, creche e ensino básico é uma mais valia para as famílias, disse o responsável da instituição que salientou os esforços feitos pelo Lar D. Pedro V ao nível da educação dos mais novos.
Contudo, os projectos da instituição não se ficam por aqui. Aproveitando as boas relações com o Montepio Geral, o cónego Manuel Azevedo Tinoco adiantou que vai solicitar ao banco apoio e subsídios para algumas das utentes do lar que por terem mais de 18 anos não têm financiamento da Segurança Social. Esse apoio destina-se principalmente às utentes que querem seguir os seus estudos e que estão no Ensino Secundário ou Universitário, revelou.
O Lar D. Pedro V tem actualmente: pré-escolar com 100 crianças, ATL com 60 e internato com 35, entre os 3 e os 18 anos.

A união faz a força!!!

Casa da Torre acolheu encontro ecuménico

«Viver a unidade com aqueles que acolheram a Cristo como Senhor, comprometendo-nos a procurar a unidade visível da Comunhão» – foi este o mote do encontro ecuménico realizado na Casa da Torre, em Soutelo, Vila Verde. Segundo o padre Mário Garcia, um dos organizadores e intervenientes, o encontro teve uma dupla vertente – conviver e rezar –, mas o objectivo principal a perseguir foi apenas um: promover a unidade entre cristãos.
Neste encontro ecuménico, em final da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, marcaram presença líderes de cinco confissões cristãs, alguns acompanhados de comunidades. Católicos romanos, católicos orientais (rito bizantino), ortodoxos, luteranos e metodistas estaram juntos para pedir o dom da unidade.

23 de janeiro de 2009

O que ficou do Natal?




Passou o tempo de Natal
e o que é que ficou?

Será que ficou o nascido
ou esse Menino foi vencido
pela sociedade consumista
que enche a boca de paz e amor
mas isso é apenas fogo de vista?

Passou o Natal
e não digam que é Natal quando o homem quiser.

O tempo passou e com o que é que ficamos?

Oxalá tenhamos aberto as portas,
as do coração, é claro.

Se assim foi,
há-de continuar a ser Natal
porque estamos agraciados,
cheios da graça de Deus,
e essa leva-nos a ter
os mesmos sentimentos de Cristo.

inédito José António Carneiro
29/12/2008

Semana Santa de Braga já programada


Preparação Quaresmal

25 Fevereiro – Quarta-feira de Cinzas
08h30, Sé Catedral
Abertura do Lausperene Quaresmal

21h30, Sé Catedral
Missa e Imposição das Cinzas
Início oficial da Quaresma

1, 8 e 15 Março – 1.º, 2.º e 3.º Domingo da Quaresma
17h00, Igreja de Sta. Cruz
Via Sacra em Santa Cruz
Seguida de Conferência Quaresmal e Eucaristia

17h30, Igreja de Sta. Cruz
Conferências Quaresmais
Pelo P. Dr. António Ferreira Rodrigues

29 Março – 5.º Domingo da Quaresma
15h00, Igreja de Sta. Cruz
Procissão de Penitência ao Bom Jesus

4 Abril – Sábado
21h30 - Trasladação da imagem do Senhor dos Passos, da igreja de Santa Cruz para a igreja do Seminário. Segue-se a Via Sacra, que percorre os calvários.

5 Abril – Domingo de Ramos
11h00, Igreja do Seminário (Largo de S. Paulo)
Bênção e Procissão dos Ramos

11h30, Sé Catedral
Missa do Domingo de Ramos

17h00, Procissão dos Passos e Sermão do Encontro

8 Abril – Quarta-feira Santa
21h30, Cortejo bíblico “Vós sereis o meu povo”
(Procissão de Nossa Senhora da Burrinha).

9 Abril – Quinta-feira Santa
10h00, Sé Catedral
Missa Crismal e Bênção dos Santos Óleos

16h00, Sé Catedral
Lava-Pés e Missa da Ceia do Senhor

22h00
Procissão do Senhor “Ecce Homo”

10 Abril – Sexta-feira Santa
10h00, Sé Catedral

Ofício de Laudes
Alocução do Presidente aludindo às Sete Palavras de Jesus na Cruz. Terminadas as Laudes, os Capitulares presentes acolhem os penitentes que desejarem receber o Sacramento da Reconciliação (confissão).

15h00, na Sé Catedral
Celebração da Paixão e Morte do Senhor e Procissão Teofórica

22h00 - Procissão do Enterro do Senhor

11 Abril – Sábado Santo
10h00, Sé Catedral

Ofício de Laudes
Com alocução do Presidente. Terminadas as Laudes, os Capitulares presentes acolhem os penitentes que desejarem receber o Sacramento da Reconciliação (confissão).

21h00, Sé Catedral
Vigília Pascal e Procissão da Ressurreição

12 Abril – Domingo de Páscoa
11h30, Sé Catedral
Missa Solene do Domingo de Páscoa
Visita Pascal

Programa Cultural - Concertos

13 Março – Sexta-feira
21h30, Sé Catedral
Concerto de órgão
Por Giampaolo Di Rosa, Organista titular da Sé Catedral de Braga.

27 Março – Sexta-feira
21h30, Sé Catedral
Orquestra do Conservatório de Música Calouste Gulbenkian

28 Março – Sábado
21h30, Igreja de S. Victor
Coral S. I. Catedral de Tui

3 Abril – Sexta-feira
21h30, Igreja de S. Marcos (hospital)
Ensemble Vocal Adarte

6 Abril – Segunda-feira Santa
21h30, Igreja de Sta. Cruz
Grupo Coral Ançãble, Cappella Bracarensis e Capela Musical de Santa Cruz — “Inéditos portugueses para os ofícios da Semana Santa”
Para coro, soli e orquestra de cordas

7 Abril – Terça-feira Santa
21h30, Sé Catedral
Coro da Sé Catedral do Porto, com orquestra e solistas
Oratória “Paulus”, de F. Mendelssohn-Bartholdy

Programa Cultural - Espectáculos & Exposições

21 Março – Sábado
21h30, Saída da Praça do Município
“Procissão dos Lírios” - Espectáculo de rua
Dramatização do Encontro da Senhora das Dores com o Senhor dos Passos.
Grupo Gólgota, de Sta. Maria da Feira.

Março e Abril
Várias localidades
“Semana Santa em Braga”
Exposição Itinerante que percorrerá várias cidades de Portugal e Galiza

23 Março a 11 de Abril
Posto de Turismo de Braga
“Eu Kristus”
Pinturas de Luís de Matos

27 Março a 19 de Abril
Casa dos Crivos
“Por nós crucificado”
Exposição de Crucifixos

3 A 11 Abril
Oficina da Sé (Rua D. Frei Caetano Brandão, 142)
“A Cruz que nos conduz”
Exposição de Cruzes Processionais.

27 Março a 14 de Abril
Galeria da Junta de Freguesia de S. Victor
“Paixão de Cristo… rota de esperança!”
Pinturas a óleo da colecção completa de Casanova e inspirados na Via Sacra de Josemaría Escrivá.

6 Março a 14 Abril
Centro Cultural de A Guarda (Galiza)
“Semana Santa em Braga — Um olhar atento…”
Fotografias de Carlos Ribeiro

Chuva "estragou" São Vicente



Pais e avós cumpriram tradição pelas crianças

A chuva e o mau tempo que se registou durante o dia de ontem abrigou a que fossem os pais e avós, em geral, a cumprir a tradição em vez das crianças. Segundo o costume, os mais pequenos vão, no dia litúrgico de São Vicente, junto da imagem do diácono mártir, para pedir a protecção contra a doença da varíola, mas ontem, dadas as condições climatéricas, foram poucas as crianças que se fizeram ao caminho para ir à igreja paroquial de São Vicente, em Braga, a fim de cumprir a tradição.
Para que as promessas e a devoção não ficassem por cumprir e, uma vez que o clima não ajudou a que as crianças, individualmente ou com as turmas escolares, fossem à igreja foi a vez de muitos pais e avós se lançarem ao caminho e fazerem frente à invernia para, junto da imagem de São Vicente, rogarem e pedirem protecção especial contra a doença da varíola.
Ao final da tarde, contudo, com o final das aulas, viram-se algumas crianças, acompanhadas por adultos, a cumprirem o habitual gesto de depor junto à imagem a vela adquirida na entrada da igreja.
Mesmo assim, segundo os organizadores o número de pessoas que passaram em São Vicente durante o dia de ontem foi, comparativamente, muito inferior ao de anos anteriores. «A chuva terá sido a principal causa», revelou o juiz da Irmandade de São Vicente, Albino Alves, todavia, não faltou quem cumprisse a tradição e a devoção dos bracarenses ao santo mártir continua viva.

Irmandade projecta museu
e restauro da capela-mor
Para os elementos constituintes da mesa da irmandade de São Vicente, o mau tempo foi a principal causa da menor afluência de pessoas à festa.
Albino Alves, juiz da irmandade, disse ao DM que, apesar de tudo, muitos adultos, pais e avós, cumpriram a promessa e a tradição em vez dos filhos e dos netos.
Já Manuela Braga, da mesma instituição que organiza as festividades em honra do mártir, destacou a presença de muitas pessoas anteontem à noite, para a habitual “Fogueirinha de São Vicente”. «Apesar do frio e da chuva, esteve cá muita gente, porque no início não chovia. Claro que com o correr da hora, muitos fugiram depressa».
O juiz confidenciou ainda que brevemente, numa dependência da igreja, vai ser criado um museu para recolher o espólio da irmandade. Para essa criação é necessário apoio técnico que os responsáveis vão pedir brevemente às autoridades locais competentes.
A par desta obra, a mesma instituição pretende restaurar na capela-mor, o valioso património azulejar que é afectado com a trepidação provocada pelas viaturas que circulam na Rua de São Vicente, particularmente junto à igreja paroquial.
O responsável da irmandade referiu ainda que «se houvesse mais dinheiro» se pensava na remodelação do soalho da igreja. Mas, «isso fica para mais tarde», concluiu.


“Moletinhos” de São Vicente
Comércio prejudicado com invernia

Em dia litúrgico de São Vicente, o mau tempo foi também prejudicial para o negócio, principalmente para a atracção que são os tradicionais “moletinhos”. Na feira improvisada no adro da igreja, os comerciantes e vendedores passaram o dia a queixarem-se e a lamentarem-se quer da falta de dinheiro dos portugueses, em geral, quer do mau tempo que se abateu sobre Braga.
Junto à igreja paroquial de São Vicente havia um pouco de tudo. Claro que os “moletinhos” ganharam em presença e em vendas por larga maioria. Todavia, também havia doçaria variada, padaria e pastelaria, pipocas e algodão doce, farturas e, como não podia deixar de ser, muitas velas e círios para que os interessados pudessem cumprir as promessas e a tradição.
Quem passou em São Vicente ouviu bem as vendedoras a apregoarem os seus produtos, no entanto, poucos os regateavam e quase ninguém os comprava.
«Não há ninguém para comprar. Não há dinheiro e o tempo está muito mau», lamentava Anabela Carvalho e Marlene Bastos, que vendiam, tal como os outros comerciantes, os “moletinhos” a quatro euros e as velas a cinquenta cêntimos.
Silvana Viana, das Palhotas, vende em São Vicente há mais de 40 anos. «É um negócio de família», disse ao Diário do Minho. «Comecei com a minha avó a vender rebuçados, depois com a minha mãe a vender “moletinhos”. Agora vendo um pouco de tudo, para ganhar a vida honestamente», continuou.
Por seu lado, Eugénia Barbosa, numa banca onde havia doçaria variada, lançava as culpas ao clima e ao estado «ruim» da vida. «As pessoas não têm dinheiro, a vida está ruim e o tempo não ajuda», afirmou. Para a vendedora, «as pessoas estão sem dinheiro e eu vejo isso todos as semanas porque vendo no mercado».
Já ao final da tarde, Rosa Maria, de Palmeira, disse que este ano «o número de pessoas foi menor». No entanto, segundo a vendedora, as pessoas que passaram na igreja até foram comprando, principalmente os “moletinhos”.

21 de janeiro de 2009

Braga pede ajuda para capela de São Sebastião




A capela de São Sebastião das Carvalheiras precisa com urgência de um telhado novo que evite as infiltrações de águas – principalmente quando chove muito – e para tal a paróquia da Cividade e a Câmara Municipal de Braga estão a preparar um projecto para enviar ao Estado pedindo ajuda e intervenção para o imóvel. A informação foi adiantada ao Diário do Minho pelo padre Manuel Fonseca, pároco da Cividade, ontem de manhã, no final da Eucaristia cantada em honra de São Sebastião, precisamente no dia em que a Igreja celebrou a festa em honra do santo martirizado no século III.
«A candidatura a um programa de apoio estatal será enviada pela Câmara que já fez o projecto de obras necessárias, faltando agora, da nossa parte, finalizar o orçamento», assegurou o pároco da Cividade, que deu conta da possibilidade de, no futuro, o espaço envolvente à capela inaugurada a 20 de Janeiro de 1717, pelo Arcebispo D. Rodrigo de Moura Teles, estar aberto ao público. Para isso, é também necessário criar condições, desde logo com a construção de sanitários.
«Vamos fazendo frente aos problemas que, no dia-a-dia, vão surgindo na capela e ainda recentemente fizemos um arranjo exterior do templo» disse o padre Manuel Fonseca. As oliveiras colocadas no adro da capela foram podadas e nas escadas de acesso foi colocado um corrimão.
Para estas pequenas obras do quotidiano «vamos solicitando o apoio da Câmara Municipal da qual recebemos respostas positivas, embora até ao momento não tenha chegado nada» frisou o sacerdote que preside desde há cerca de dois anos à Comissão Administrativa criada para relançar a Confraria de São Sebastião, existente desde o século XIV naquela paróquia, mas nos últimos tempos inactiva.
O padre Manuel Fonseca reconheceu que a estrutura precisa de um restauro completo, quer do interior, quer do exterior quer do próprio espaço envolvente, que é um espaço privilegiado na cidade. Mas, as receitas não dão para tudo e pelo facto de os responsáveis daquele espaço agirem apoiados nas esmolas que vão chegando, torna mais difícil a tarefa da preservação.
A actual Comissão Administrativa vai evoluir, no futuro, para confraria. Recentemente, foi feita a renovação de estatutos e uma campanha de angariação e inscrição de novos irmãos, mas tem aparecido pouca gente.

Devoção dos bracarenses
ao advogado da fome,
da peste e da guerra
Na Eucaristia, o sacerdote recordou a história de vida de São Sebastião salientando a sua fé e coragem perante as perseguições do império romano, principalmente de Diocleciano.
Referiu ainda a profunda devoção que este santo tem em terras de Portugal, onde existem 92 paróquias que o invocam como padroeiro.
Também em Braga a devoção a São Sebastião é profunda e prova disso foi a presença de diversas dezenas de pessoas que participaram na celebração da manhã seguida de exposição do Santíssimo Sacramento. Durante o dia muitos foram os que passaram para adorar o Santíssimo Sacramento e, ao final da tarde, houve ainda recitação do terça e celebração eucarística.
Foi o caso de Maria Monteiro, da Cividade, que disse ter uma «grande fé e admiração pelo santo». Já Mário Silva destacou que a sua devoção a São Sebastião tem a ver com o facto de ser o «advogado da fome, da guerra e da peste».
Na mesma linha de pensamento, António Araújo queixou-se de a capela não estar aberta mais vezes e também de não se celebrar em mais dias. De momento, segundo o pároco, celebra-se Eucaristia na capela ao sábado, e não há motivos para se celebrar mais vezes.

Quem ama, ama sempre



Um amor que é Amor
Ama sem limites.
Mesmo se não é compreendido
Não passa por circunstâncias.

Quem ama, ama sempre
Apesar de tantas traições
Que na vida acontecem.

Assim deve ser aquele
Que tem Jesus por Mestre
E os homens por irmãos.

inédito José António Carneiro
2007


20 de janeiro de 2009

Missão em Benguela




O que leva um jovem arquitecto e uma jovem médica, ambos bracarenses, casados em Setembro de 2007, a partirem para o continente africano como voluntários da Organização Não Governamental (ONG) Leigos para o Desenvolvimento, dias depois do enlace matrimonial? Pedro Soares (PS), de 31 anos, e Márcia Cordeiro (MC), de 30, responderam a esta e a outras perguntas em entrevista ao Diário do Minho (DM) e recordaram, ainda, como foi um ano, não de experiência, mas de vida concreta entre as pessoas de Benguela, em Angola. Depois de um ano de preparação, da celebração do casamento e de uma caminhada a Santiago de Compostela, o casal partiu para Benguela de onde chegou em finais de Novembro passado. A sensação, agora, é que tudo passou muito rápido e, por isso, nada melhor do que repetir esta vida em missão. Para já, vão apostar na vida de casal, na formação e no trabalho profissional. Mas, o desejo de voltar a terras está enraizado no coração de quem quer ajudar os que menos têm a encontrar melhores condições e um pouco mais de felicidade, embora, paradoxalmente, sejam já muito felizes.
DM: Qual foi, em concreto, as missões que desempenharam ao longo de mais de um ano de vida em Angola?
PS: Norma geral, os leigos enviam voluntários missionários que tenham uma licenciatura ou alguma formação profissional. Eu como arquitecto não trabalhei dentro da minha área específica. Inicialmente eu tinha a missão de dar aulas de físico-química no Seminário local. Além disso, já sabia que teria de coordenar e dinamizar os dois Centros de Apoio Escolar e Bibliotecas (CAEB) de Benguela. Estes centros são motivados pelo facto de uma larga camada daquela população ser muito jovem e pretendem incentivar o interesse pelo livro e o gosto pela leitura.
No entanto, quando cheguei ao terreno encontrei ainda outro projecto, além destes: construir de raiz uma obra de cariz social, com cinco salas, pertencente à paróquia.
Esta construção foi feita sem recursos quase nenhuns, mas a obra ficou acabada e entregamos a chave. Fizemos uma campanha de angariação de fundos, via internet, principalmente para familiares e amigos. Algumas empresas locais também auxiliaram com diversos materiais.
Na prática, durante este tempo, fui construtor civil, professor e coordenador dos centros.

MC: Eu fui para desempenhar a missão na área da medicina, que é a minha formação superior. Ao nível do projecto da saúde, os Leigos têm três subprojectos fundamentais: o primeiro é dar apoio aos postos de saúde que, em Benguela, são uma espécie de pequeno hospital, com internamento, pediatria, consultas, salas de parto e pós-parto. É o género dos centros de saúde de cá, mas com internamento.
A vertente da formação foi outras das missões que me foi incumbida. Principalmente aos enfermeiros já que eles fazem o papel dos médicos e eu era a única médica naquele posto.
Esta formação aos enfermeiros, que é um projecto continuado dos Leigos para o Desenvolvimento, é essencial e decorreu em cerca de cinco meses com encontros duas vezes por semana a 25 enfermeiros de outros postos de Benguela.
Ainda fiz formações básicas para jovens na área da educação para a saúde. HIV, educação sexual, amamentação, gravidez na adolescência, mas também vacinação, diarreia e tuberculose foram alguns dos temas abordados nestas formações para pessoas entre os 15 e os 20 anos.

DM: Quando foram e onde ficaram instalados?
MC: Chegamos a Benguela a 23 de Novembro. Ficamos instalados mesmo no centro da cidade, numa casa que a diocese cedeu aos Leigos para o Desenvolvimento e que se destina a acolher os voluntários que vão para lá como missionários.
A cidade de Benguela é linda. Está muito degradada não tanto pela guerra, mas pela não preservação e não conservação.
A adaptação inicial foi difícil uma vez que o calor intenso dava muita vontade de dormir. Lá o inverno, em termos de temperatura, parece a nossa primavera daqui.
Vivemos em comunidade. Connosco estavam mais três Leigos, do Porto, de Lisboa e do Algarve. Cada um tem os seus projectos, mas acabamos por falar em conjunto das nossas missões e das nossas dificuldades.
Apesar de vivermos na cidade, a nossa missão era desempenhada nos bairros da periferia da cidade, que estão carregados de problemas sociais, principalmente a pobreza e o analfabetismo.

PS: O nosso dia começava cedo. Às 6h00 era altura para levantar e cada um seguia para os seus projectos e trabalhos. Às 13h00, o almoço era em casa com a comunidade toda reunida e, no final, cada qual dirigia-se de novo para os projectos.
À tardinha, fazíamos oração comunitária preparada alternadamente e no final jantávamos. Depois de um tempo livre era hora de descansar porque o dia seguinte começava cedo.
Além desta rotina, de 15 em 15 dias havia um passeio comunitário.
O domingo era um dia mais pessoal. Íamos à Eucaristia, à igreja do Pópulo porque era muito portuguesa e até os sinos eram de Braga.
Na missão, estamos muito ligados à vida da diocese. Participamos nos encontros propostos pelo Bispo diocesano e lá existe uma grande união da família missionária

MC: Apesar da aparente rotina dos dias, a vida lá é menos cansativa, pelo menos visualmente. Não há televisão, telemóvel e outras tecnologias nem publicidade. O que há lá são pessoas. Cá, mesmo que não queiramos, estão sempre imagens a entrar pelos olhos e isso cansa-nos terrivelmente. Por isso, esta missão com pessoas é anti-stressante e muito mais livre.

DM: Qual a motivação para este desafio? O que é que vos moveu a partir para esta missão?
MC: No meu caso, a vontade de ajudar os outros está enraizada desde muito pequena. É um sonho que é mexido quer pela vontade de ajudar, quer também pela realização pessoal. É difícil dizer porque vamos já que, no meu caso, não foi a cem por cento por isto ou por aquilo em concreto. É uma mistura entre o desejo de ajudar, percebendo que lá somos úteis e que fazemos falta, e a felicidade e realização que isso nos traz.

DM: Quais são os grandes problemas de Benguela?
PS: Os grandes problemas e carências das pessoas assentam na saúde e na educação. Mas existe também desemprego, falta de condições, concretamente, falta de saneamento e falta de água.
Para fazer face às lacunas ao nível da educação, os Leigos para o Desenvolvimento apostam, desde a sua ida para Benguela, no projecto da alfabetização dos jovens.
Mas não podemos esquecer que alcoolismo está a aumentar quer nos homens, nas mulheres e até nas crianças. Há também violência doméstica, uma vez que a cultura é muito machista, e por causa da poligamia a mulher é muitas vezes desprezada e maltratada.
Claro que não resolvemos os problemas estruturais que eles sofrem, mas, ao nível da formação, podemos ajudar com coisas básicas e alguns truques que contribuam para superar as dificuldades causadas pela falta de recursos materiais.

DM: Conseguem eleger o melhor momento neste tempo de missão?
MC: Tudo o que tenha envolvido aquelas pessoas foi bom. As mamãs, os bebés, os sorrisos, a paciência, a alegria espontânea apesar de todos os problemas. Apesar de tudo são felizes e trago isso no coração. Aprendemos tanto naquela missão e ensinamos tão poucas coisas. Há uma gratidão sem limites naquela gente que é fantástica, amorosa, dedicada e sincera.

PS: O que mais me alegrou foi, sem dúvida, a conclusão do centro para jovens no Bairro da Graça, em Benguela. Foram dias e dias durante meses seguidos e, felizmente, deixamos a obra acabada e disponível para ser usada.

DM: E momentos menos bons também existiram?
MC: Se o melhor são as pessoas, para mim e na minha área de trabalho, o pior é não conseguir ajudar essas pessoas.
Em termos médicos, quando percebemos que não temos as condições necessárias e suficientes para tratar e diagnosticar alguma doença é muito triste. Muitas crianças que poderiam ter ido para Luanda a fim de terem mais condições de tratamento e, no fim de tanto trabalho, os pais não quiseram ou deixaram de aparecer no posto. Investimos em alguns e muitos pais fugiram com os filhos. Claro que muitos deles com certeza morreram.
Lidar com o não poder fazer mais foi das coisas que mais me custou. E lidar com a morte foi mesmo muito difícil.
Lá lida-se com a morte e com a vida todos os dias. Com a vida, porque cada mamã tem, em média, sete filhos. Com a morte, porque se perguntamos a uma mãe quantos filhos tem com frequência ouvimos “ tenho dez, sete mortos e três vivos”. Quando ouvi essa resposta fiquei petrificada.

PS: O meu pior momento foi aperceber-me da falta de apoio social às populações em geral. O que o Governo dá não chega aos mais carenciadas. Assiste-se, em geral, a um grande desfasamento entre ricos e pobres.
Quando pedimos apoio para a construção do centro juvenil do Bairro da Misericórdia percebi como é difícil para o Governo olhar os mais carenciados.

DM: Para esta missão tiveram alguma preparação específica?
MC: Nos Leigos para o Desenvolvimento tivemos um ano inteiro de formação e preparação para a missão. Nesse ano, desenvolvemos a relação connosco próprios e com os outros, além de tentarmos perceber o que significa ser voluntário, e alguns aspectos da vida em comunidade. Só no final dessa preparação decidimos se queremos avançar e aí a organização vê se temos o perfil necessário e coloca-nos onde o nosso trabalho for mais necessário.

PS: Aprofundamos também o lado espiritual para que com o nosso testemunho de vida cristã possamos ser referência e exemplo para aquelas pessoas.
Na missão, há lugar fundamental para a vivência religiosa. Temos que escolher um trabalho pastoral a desenvolver na comunidade paroquial onde estivermos e participamos todas as semanas na Eucaristia.
Eu, por exemplo, dei apoio a um agrupamento de escuteiros e a Márcia fez formação humana a jovens raparigas de um lar.

DM: Tudo o que experimentaram, de bom e menos bom, permite-vos dizer, desde já, que esta vida em missão é para repetir?
MC: Eu já estou cheia de saudades. Vim para terminar a minha especialidade na área da pediatria e isso demora-me três anos, mas gostaria de ter ficado mais um ano. Claro que a vontade de repetir existe. A curto prazo? Se três anos for curto prazo, então poderá ser.

PS: Sim, eu também tenho vontade de repetir. A melhor altura para isso depois se verá. Para já, vou dedicar-me à arquitectura num atelier. Claro que temos de procurar casa e pensar na nossa vida de casal, já que não o fizemos antes.

MC: Estar lá foi mesmo muito bom. Estamos a chegar e quase que ainda nem desfizemos as malas. As pessoas interrogam-nos e dizem que deve ter sido uma experiência interessante e enriquecedora, mas aquilo não foi experiência foi vida concreta, com rotina, amigos, com laços criados, com dificuldades, com alegrias .
Quando lá estava pensava que os corajosos estavam do lado de cá. Mas tenho consciência que a missão voluntária cumpre-se em qualquer lado.

DM: A família aceitou bem a vossa decisão?
MC: Não, isso foi um pouco complicado. Os meus pais não ficaram radiantes, mas também não se opuseram. Alguém dizia que nós escolhemos ser missionários, mas os pais não escolhem ser pais de missionários.

PS: Comigo foi igual e, principalmente, a minha mãe não aceitou muito bem. Agora que vim inteiro está tudo bem.

DM: Que conselhos dão àqueles que de alguma forma sentem o “bichinho” da missão?
PS: É uma vida muito intensa, cheia de emoções e ninguém deve, se se sentir chamado, desperdiçar a oportunidade, correndo o risco de estar a estragar dons e talentos.

MC: Acho que há pessoas que sabem de antemão que nunca fariam uma missão deste tipo e acho bem que seja assim. Isto não é para todos, mas os que vão para a missão não são mais corajosos por irem. Não temos todos os mesmos sonhos e os mesmos desejos. O que digo é que aqueles que se sentirem de alguma forma inclinados para o voluntariado missionário têm mesmo que ir. Quem tem o bichinho não tenha medo.

DM: Alguma vez se sentiram inseguros?
MC: Nunca sentimos nada ao nível de guerra, nem de insegurança nem de criminalidade. Mesmo na altura das eleições tudo foi muito calmo.
As pessoas lá olham para nós com muita estima e tratam-nos muito bem. Vêem-nos como voluntários cristãos e não como empresários.
Na missão, nós somos um com eles embora tenhamos melhores condições que eles. Eles sabem disso e não compreenderiam sequer que vivêssemos como eles. O nosso estilo de vida não choca absolutamente em nada. Vivemos de modo simples e sem ostentação.

© Diário do Minho
DR

17 de janeiro de 2009

As Pessoas Sensíveis

DR


As pessoas sensíveis não são capazes
De matar galinhas
Porém são capazes
De comer galinhas
O dinheiro cheira a pobre e cheira
À roupa do seu corpo
Aquela roupa
Que depois da chuva secou sobre o corpo
Porque não tinham outra
O dinheiro cheira a pobre e cheira
A roupa
Que depois do suor não foi lavada
Porque não tinham outra
"Ganharás o pão com o suor do teu rosto"
Assim nos foi imposto
E não:
"Com o suor dos outros ganharás o pão".
Ó vendilhões do templo
Ó construtores
Das grandes estátuas balofas e pesadas
Ó cheios de devoção e de proveito
Perdoai-lhes Senhor
Porque eles sabem o que fazem.


Sophia de Mello Breyner Andresen

16 de janeiro de 2009

Noite de luar - música de Vida Dupla


É assim. O grupo Vida Dupla musicou um texto meu.
Para os que quiserem ouvir




e também deixo a letra:


Num luar entristecido
Eu assim te recebi
Não deixei de te contar
Tudo o que sinto por ti.

Enquanto te contava
Sem eu me aperceber
A tristeza do luar
Começou a desaparecer.

Ao chegar a hora certa
Com a noite já mudada
Desprendi do coração
Como tanto te amava.

E ao fim da revelação
Não me pude mais conter
Deixei espaço ao coração
Para o resto te dizer!

Texto: José António Carneiro (2005)
Música: Vida Dupla

Amigos

Nestes dias assim ficamos sempre mais reflexivos. De que será? Será a idade a avançar?
Mas, também nestes dias recordamos os que muito queremos...



Se eu pudesse sempre
Estar contigo meu amigo
Estaria eternamente
Junto de ti, contigo.

Partir, sonhar e viver
Me impinge nova rota
Que eu a quero percorrer
Pois lá, meu coração brota.

Ainda que seja assim
Há amigos que não esqueço
Nesta vida que vivi…

E por muito que eu não queira
Há alguns que permanecem
No lugar que eu fiz para Ti.

inédito josé antónio carneiro
2007

Salve, Dies Natalis

DR

Em dia de aniversário, recordamos sempre as nossas origens, ou Origem... Estou mais velho, com mais cabelo branco mas cada vez mais agradecido!!!



Da origem

I. Ab initio, erat Verbum. Assim decretou S. João.

II. O espírito afirma, e ri-se da inteligência que discute… Ele vive indiferente ao seu vestuário de ideias. Estas, caem e renovam-se, como as folhas das árvores, mas o tronco é sempre o mesmo…
Na própria alma, há o quer que é imutável, para além das nuances que a esfumam em vagas aparências nova.

III. A alma fala, exibe-se, adora o mundo; o espírito, silencioso, do íntimo do nosso ser, contempla… Às vezes, com um simples gesto, apaga todas as vozes da alma, que muda então de conversa… E a Vida põe nova máscara.

IV. Antes das cousas, já existia Deus, mas só depois do homem é que ele vive.

V. Deus é a última criatura e o primeiro criador.
Enquanto me comovo e rezo, enquanto Deus, de existente, se torna vivente, em meu espírito, nasce uma estrela no infinito.

Teixeira de Pascoaes (1877 – 1952)
Senhora da Noite. Verbo Escuro

15 de janeiro de 2009

Envolvimento




Senhor,
Fazes-me compreender
O valor do envolvimento.
Não o envolvimento que aprisiona
Que espezinha e que massacra
Mas, o envolvimento que cria relação,
Que inicia a entrega e a doação,
O envolvimento que gera o amor gratuito
De um para o outro,
de mim para o outro
E que exige a reciprocidade.
Nesta tensão do envolver e do deixar-se envolver
Assentam os fundamentos de uma verdadeira relação
Que é capaz de aceitação.
Assenta, também, a minha vocação
E a de todo o humano.
Vocação como realização de uma sedução
Que é envolvimento.
Tu me seduzes e me envolves
E eu quero deixar-me seduzir
E envolver!

inédito José António Carneiro
2004

Se




SE tu podes impor a calma, quando aqueles
Que estão ao pé de ti a perdem, censurando

A tua teimosia nobre de a manter,

SE sabes aguardar sem ruga e sem cansaço,
Privar com Reis continuando simples,

E na calúnia não recorres à infâmia

Para com arma igual e em fúria responder,

- Mas não aparentar bondade em demasia
Nem presumir de sábio ou pretender

Manifestar excesso de ousadia,

-
SE o sonho não fizer de ti um escravo
E a luz do pensamento não andar

Contigo num domínio exagerado,

SE encaras o triunfo ou a derrota
Serenamente, firme, e reforçado

Na coragem que é necessário ter

Para ver a verdade atraiçoada,

Caluniada, espezinhada, e ainda

Os nossos ideais por terra,
- mas ergue-los

De novo em mais profundos alicerces

E proclamar com alma essa Verdade!


SE perdes tudo quanto amealhaste

E voltas ao princípio sem um ai,

Um lamento, uma lágrima, e sorrindo

Te debruçares sobre o coração

Unindo outras reservas à Vontade

Que quer continuar, e prosseguindo

Chegar ao infinito da razão,


SE a multidão te ouvir entusiasmada

E a virtude ficar no seu lugar,


SE amigos e inimigos não conseguem

Ofender-te, e se quantos te procuram

Para contar com o teu esforço não contarem
Uns mais do que outros, - olha-os por igual!,


SE podes preencher esse minuto

Com sessenta segundos de existência

No caminho da vida percorrido


Embora essa existência seja dura


À força das tormentas que a consomem,

Bendita a tua essência, a tua origem,


O mundo será teu,

E tu serás um Homem!



Rudyard Kipling
(versos portugueses de António Botto)

[A propósito da solenidade de Cristo Rei]

  “Talvez eu não me tenha explicado bem. Ou não entendestes.” Não penseis no futuro. No último dia já estará tudo decidido. Tudo se joga nes...