31 de março de 2010

Fim da Quaresma: um balanço positivo!

Olá a todos

Como sabem a Quaresma termina amanhã (Quinta-Feira) até à Missa Vespertina da Ceia do Senhor, que inicia o Tríduo Pascal.
Porque já estava assim escalonado, peço à Malu, de A Capea, que escreve, com semelhante propósito, para a Sexta-Feira Santa. Desta forma terminamos esta caminhada conjunta, que me pareceu enriquecedora para todos.

Aliás, alguém me disse a brincar (ou a sério!) que estes textos que escrevemos podiam e deviam ser compilados e publicados...

Da minha parte, por tudo o que recebi, quero agradecer. E o nosso caminho rumo à Páscoa, à vida nova, continua.

Um Santo Tríduo Pascal para todos!

25 de março de 2010

37.º dia da Quaresma: Anunciação do Senhor: Ajoelhados diante de tão grande mistério


«O Espírito Santo virá sobre ti
e a força do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra.
Por isso o Santo que vai nascer será chamado Filho de Deus.
E a tua parenta Isabel concebeu também um filho na sua velhice
e este é o sexto mês daquela a quem chamavam estéril;
porque a Deus nada é impossível».
Maria disse então:
«Eis a escrava do Senhor;
faça-se em mim segundo a tua palavra».
Lc 1
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Estamos a nove meses do Natal. Hoje Jesus é concebido no seio de Maria, que aceita fazer-se serva do Senhor porque mais do Servo Sofredor. Ajoelhamos diante de tão grande mistério. Na missa de hoje, ao rezarmos, no Credo, “Incarnou pelo Espírito Santo, no seio de Maria”, somos convidados a ajoelhar. O Verbo de Deus desce à humanidade para elevar a humanidade à divindade. Admirável comércio que nos traz a salvação.
O Anjo expôs os desígnios de Deus a Maria e Ela aceitou a vontade do Pai. Deus vem à terra pelo Sim de Maria, que foi escolhida para ser o primeiro sacrário da terra a albergar a divindade.
A incarnação de Deus liga-se à compaixão: Deus vem porque tem uma paixão pelo humano, Deus está apaixonado pelo humano. Parte da sua iniciativa e destina-se à nossa redenção.
Porque este é um admirável mistério de compaixão, e porque o quero contemplar como mistério de salvação, deixo para contemplação as palavras seguintes:

Compaixão

“Compadecido dos errados caminhos dos homens”, humilhou-se a si próprio, tomando a condição de servo e morrendo na cruz, por amor. Em Cristo, Filho de Deus, feito Homem, realiza-se a compaixão na plenitude. O homem retoma a dignidade perdida e, porque infinitamente amado, recria-se o projecto original da relação consigo, com os outros e com Deus. Por um amor sem medida amado, o homem percebe-se coração de carne e, dignificando-se, arremessa para fora o coração de pedra. E dois corações de carne e milhares e milhões de outros, sempre a nascer, e sem conta, até ao fim dos tempos, fazem o mundo possível. Sem compaixão não seria possível vida. Porque não teria paixão nem coração.
Um beijo, um afago, um sorriso, um abraço, um colo, um despojar-se de si, um encontro de bocas e de lágrimas, um hino de ternura cantado nas longitudes da exclusão, uma vida dada para que o outro viva, um perdão sem mais passado, um retorno duma amizade perdida, um ir, sem volta, ao irmão de longe e encontrá-lo e dizer-lhe “aqui estou, por ti”, um morrer de pena e mágoa por não poder ir mais longe nem poder fazer mais, uma inquietante impotência frente à dor e ao sofrimento alheios, um não saber porquê mas saber crer e esperar, um dar tudo sem nada esperar, um da sem nada querer receber, um passar sem passar adiante e parar, reparar e ver, na frente, o irmão, embora rico ou pobre, mas na indisfarçável urgência de ser amado e acolhido e percebido, para além das aparências...ai, que seria o mundo sem compaixão?!
Artur de Matos, in Revista Boa Nova, Março de 2010.

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A Anunciação é uma festa mariana com acento cristológico. Por isso, neste dia, rezo a Maria:
À vossa protecção nos acolhemos
Santa Mãe de Deus
Não desprezeis as nossas súplicas
em nossas necessidades
Mas livrai-nos de todos os perigos
Ó Virgem Gloriosa e Bendita!

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O mistério da nossa reconciliação

A humildade foi assumida pela majestade, a fraqueza pela força, a mortalidade pela eternidade. Para saldar a dívida da nossa condição humana, a natureza impassível uniu-se à nossa natureza passível, a fim de que, como convinha para nosso remédio, o único mediador entre Deus e os homens, o homem Jesus Cristo, pudesse ser submetido à morte como homem e dela estivesse imune como Deus.
Numa natureza perfeita e integral de verdadeiro homem nasceu o verdadeiro Deus, perfeito na sua divindade, perfeito na sua humanidade. Por «nossa humanidade» queremos dizer a natureza que o Criador desde o início formou em nós e que Ele assumiu para a renovar.
Mas daquelas coisas que o Enganador trouxe e o homem enganado aceitou, não há nenhum vestígio no Salvador; nem pelo facto de se ter irmanado na comunhão da fragilidade humana Se tornou participante dos nossos delitos.
Assumiu a forma de servo sem mancha de pecado, elevando a humanidade, não diminuindo a divindade: porque aquele aniquilamento pelo qual o Invisível se fez visível, e o Criador e Senhor de todas as coisas quis ser um dos mortais, foi uma condescendência da sua misericórdia, não foi uma quebra no seu poder. Por isso Aquele que, na sua condição divina, fez o homem, assumindo a condição de servo fez-Se homem.
Entra portanto o Filho de Deus na baixeza deste mundo, descendo do trono celeste, mas sem deixar a glória do Pai; é gerado e nasce, de modo totalmente novo.
De modo novo, porque, sendo invisível em Si mesmo, torna-Se visível na nossa natureza; sendo incompreensível, quer ser compreendido; existindo antes do tempo, começa a viver no tempo; o Senhor do Universo toma a condição de servo, obscurecendo a imensidão da sua majestade; o Deus impassível não desdenha ser um homem passível, o imortal submete-Se às leis da morte.
Aquele que é Deus verdadeiro é também verdadeiro homem; e não há ficção alguma nesta unidade, porque n’Ele é perfeita respectivamente a humildade do homem e a grandeza de Deus.
Nem Deus sofre mudança com esta condescendência da sua misericórdia, nem o homem é destruído com a elevação a tão alta dignidade. Cada natureza realiza, em comunhão com a outra, aquilo que lhe é próprio: o Verbo realiza o que é próprio do Verbo, e a carne realiza o que é próprio da carne.
A natureza divina resplandece nos milagres, a humana sucumbe nos sofrimentos. E assim como o Verbo não renuncia à igualdade da glória paterna, assim também a carne não perde a natureza do género humano.
É um só e o mesmo – não nos cansaremos de repeti-lo – verdadeiro Filho de Deus e verdadeiro Filho do homem.
É Deus, porque no princípio era o Verbo, e o Verbo estava em Deus, e o Verbo era Deus; é homem, porque o Verbo Se fez carne e habitou entre nós.
Das Cartas de São Leão Magno, papa (Sec. V)

E continuamos, até ao fim, até ao extremo:
37º dia. Amor de Deus
38ºdia.De mãos dadas
39ºdia.Mar com sabor a canela
40º dia. O que é a verdade
41º dia. Nova Civilização
42ºdia.Partilhasemfamenor
43º dia. Degrau de silêncio
44º dia. Teresa desabafos
45º dia. A Capela

24 de março de 2010

Sermão do Encontro. Senhor dos Passos. Águeda


É longo (um sermão), mas partilho a pedido de alguns. A minha reflexão na celebração do Senhor dos Passos, no passado domingo, dia 21 de Março, em Águeda. Disponível para enviar por email. 


Celebrar a Paixão de Cristo não pode ser, em qualquer tempo ou lugar, motivo de saudosismos ou sentimentalismos ocos e vazios de sentido. Mais ainda: celebrar Cristo que livre e radicalmente caminha para a Cruz não pode ser motivo de pieguice, niquice ou lamechice. Irmãs e Irmãos: só quem entende verdadeiramente a ressurreição, só quem crê num Cristo vivo, actuante e presente na nossa história, pode fazer com Ele este caminho até à Cruz, até ao Calvário, mas já com os olhos e o coração postos na manhã do terceiro dia, na manhã da ressurreição. Nós, os cristãos, não vamos da Paixão e da Cruz à ressurreição, mas sim desta para aquelas, da ressurreição à Cruz. A nossa fé e a nossa esperança não ficam em Sexta-Feira Santa mas estendem-se ao Domingo de Páscoa.

Nós acreditamos num Deus vivo, seguimos um Deus de vivos, não de mortos. Para chegar à vida de Deus, que não tem tempo, nem espaço, nem amarras, Cristo precisou de se dar e doar, por inteiro, totalmente, no alto da Cruz e de uma vez para sempre.
Mas, esta devoção dos Passos de Cristo é, antes de mais e acima de tudo, uma profissão de fé na ressurreição. Porque “se Cristo não ressuscitou é vã a nossa pregação e vã a nossa fé” (1 Cor 15, 14). Porque acredito que Jesus ressuscitou, celebro e vivo a sua Paixão não de forma trágica e dramática, mas como abertura a essa vida que só Deus pode dar, porque seu Autor e Criador.
O Domingo de Páscoa é a nossa origem cristã. É à luz da Páscoa que lemos toda a história da salvação. Em Cristo, o curso não vai do nascimento à morte, mas da ressurreição ao nascimento. É da condição de ressuscitado que olhamos Cristo nascido, perseguido, que teve uma vida pública, que pregou pelas terras da Palestina, que foi preso e crucificado.
Irmãs e Irmãos: Cristo veio para nos salvar na sua ressurreição. É aí que está a nossa identidade. Somos gente salva por Cristo pela sua ressurreição. Por isso, esta celebração que nos congrega não é fatalismo, mas uma confissão de fé pessoal e comunitária, em Cristo Senhor e Redentor, Ressuscitado e Vivo entre nós.
Para chegar à ressurreição, Jesus sabe bem o caminho que tem de percorrer. É neste caminho, humanamente doloroso e divinamente glorioso, que hoje entramos acompanhando Cristo que caminha livremente para a Cruz. No Evangelho de João, Jesus diz: “Eu dou a minha vida para tornar a tomá-la. Ninguém a tira de mim, mas eu espontaneamente a dou. Eu tenho autoridade para dá-la, e autoridade para tornar a tomá-la. Este mandato recebi de meu Pai” (Jo 10, 17-18). Jesus abraça fervorosamente a vontade do Pai, ainda que isso lhe cause suores de sangue e lhe venha a tirar a própria vida no alto da Cruz, no Calvário.

Depois de uma vida passada fazendo o bem, curando e ensinando, arrastando multidões para o ouvir, eis que chega a “hora”, a hora da glória, ou a gloriosa hora.
Jesus veio cumprir o plano salvador de Deus desenhado desde o princípio, desde a criação. Veio incomodar os poderes instalados. “Não julgueis que vim trazer a paz à terra. Vim trazer não a paz, mas a espada” (Mt 10, 34). Jesus traz uma guerra, não de armas, mas silenciosa, que deve ter lugar no coração humano e quer a mudança e a conversão: “Se não vos arrependeres perecereis do mesmo modo” (Lc 13, 3.5).
Aos poderes instalados e acomodados Jesus desafiou, mas estes não aceitam o desafio. E mais que isso: vêem Nele uma ameaça ao seu poder déspota e absolutista, tratando logo de eliminá-lo. Não percebem que a única ameaça que Jesus faz tem a marca da verticalidade de uma vida recta, coerente e, acima de tudo, dada na horizontalidade dos irmãos que caminham ao seu lado, num serviço generoso, gracioso e gratuito.
Jesus não quer poder, glória ou espectáculo. “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida como resgate em favor de muitos” (Mt 20, 28). Ele quer apenas oferecer gratuitamente a salvação, a felicidade. Ele quer dar sentido, Ele quer ser o sentido, a orientação, o Caminho que leva ao encontro do Pai e que traz felicidade à vida humana.
Ele veio pregar o amor. O amor deve se a nossa lei maior. “Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei” (Jo 13, 14). Este é o testamento de Cristo.
Se os oponentes e opositores de Jesus Lhe querem dar a morte, apesar de toda a pedagogia, de todos os ensinamentos, de todos os milagres, de todas as boas acções, a Hora de Cristo, ou as últimas horas são marcadas por um abandono mais ou menos generalizado: fogem e dispersam-se aqueles que com Jesus calcorrearam tantas estradas poeirentas da Palestina. Os discípulos continuam sem perceber este projecto de Deus. Para eles, o Messias não poderia morrer numa Cruz. Também eles fogem da Paixão de Amor que é caminho decidido para a glória final.
Uns fogem, outros escondem-se, poucos permanecem fiéis e seguem o caminho de Cristo, acampanhando-O mais de perto ou nem tanto. Mas, outros estão lá seguindo Cristo em todas as horas, mesmo na hora última e definitiva da glória, da Cruz.

Por isso, esta celebração dos Passos de Cristo não turva o nosso olhar para, com os olhos da fé, vermos a presença da Mãe, na Hora de Cristo e em todas as horas. Ela está aqui presente como esteve sempre. Assume plenamente a sua missão de Mãe, como aquela que ama e acompanha os Passos do Filho, ou o Filho nos passos na sua vida humana.
Desde o início, Maria é apaixonada por Cristo. Essa paixão irrompe logo naquele “Fiat”, inédito e inaudito, esse “Sim” dito, assumido e comprometido. “Faça-se em mim segundo a vossa vontade” (Lc 1, 38) é o harpejo confiante que ecoa de Maria. Funciona como programa de toda a sua vida; o cumprimento da vontade de Deus é a sua missão primordial. Ela é escolhida desde toda a eternidade, vocacionada por Deus que fez dela o primeiro sacrário da terra a albergar a divindade.
O anúncio do Anjo à menina de Nazaré marca o início de um novo tempo para o povo de Deus, pois é o cumprimento do Antigo Testamento com a abertura do caminho para o Reino de Deus. De facto, a Anunciação do anjo a Maria marca o início da Redenção humana. Com o seu “sim”, Maria divide a história da humanidade em antes e depois, em antigo e novo. Ao aceitar o projecto de Deus, Maria insere-se na aliança de Deus com seu povo: através dela o Filho de Deus se fará homem e se fará presente e actuante em seu tempo e por toda a eternidade.
Na Anunciação, Maria prova a sua fé e faz-se instrumento nas mãos de Deus para que a salvação aconteça. O “Sim” de Maria é um dom inteiro de si mesma. Ela dá-se toda naquele “Sim” dado ao Anjo. A partir dele, a sua vida fica transformada. Aceita ser a “serva do Senhor” porque Mãe do “Servo Sofredor”.
Nascido o Filho de Deus, do seio de Maria, no presépio de Belém – um grandioso hino à humildade, à simplicidade e à pobreza – depressa a Mãe sente que Aquele Menino está já a ser perseguido.
Ainda há pouco nascido e Jesus já é um exilado. Maria e José vêm-se obrigados a fugir para o Egipto dada a maldade dos poderosos que querem já aniquilar Aquele Menino.
Começam já as dores da Mãe que não terminaram com as dores de parto. Muito sofre uma Mãe por causa dos filhos, e Maria não é excepção.
De dores falando, olhemos a dor desesperante de Maria na cena da perda e do encontro de Jesus no templo de Jerusalém, aos doze anos. E se a dor da perda é grande nada menor se parece revelar a dor do encontro entre os Doutores. “Não sabíeis que devia estar na casa de meu Pai?” (Lc 2, 49). Palavra talvez incompreensível aos ouvidos de Maria e de José, mas que a Mãe sabe guardar no seu coração, cheia de fé, como que já conhecedora da grandiosa missão do Filho. Estas dores, primeiro a da perda, depois a do encontro, são acalentadas pela certeza de que Jesus tem uma missão grande a cumprir como Enviado do Pai.

Mas, a Senhora das Dores não termina aqui a sua via-sacra. A festa do casamento em Caná, traz como que outra flecha ao coração maternal de Maria. O Evangelho de João relata o diálogo entre Mãe e Filho: “Não têm vinho”, “Mulher que temos nós a ver com isso. Ainda não chegou a minha hora” (Jo 2, 3.4). Palavra fria, crua, directa, mas carregada de simbolismo bíblico. O que aparentemente parece uma palavra insensível aos nossos ouvidos, para Maria é grande elogio. É que Maria é a nova Mulher, a nova Eva, uma vez que se por Eva veio o pecado e a perdição, por Maria veio a graça e a redenção. Por isso, não podemos sequer imaginar Nossa Senhora entristecida pela palavra de Jesus. Antes pelo contrário. Maria guarda, de novo, tudo no seu coração e confia, continuando a fazer-se instrumento nas mãos de Deus para acontecer a salvação. “Fazei o que Ele vos disser” (Jo 2, 5), disse Maria aos serventes convencida e sabedora, por um lado, da necessidade da festa e, por outro, do poder e da missão do Filho. Esta palavra de Maria, resposta àquela de Jesus, é, por assim dizer, uma profissão de fé da Mãe, como que a dizer e a sugerir: “Não vos preocupeis porque o meu Filho providenciará!”.

Durante a vida pública de Jesus, Maria ao ouvir os ensinamentos do Filho alegra-se, mas, ao mesmo tempo, sofre ao perceber a repulsa à mais bela proposta de felicidade alguma vez ouvida. Por mais que a linguagem do Filho tenha sido extraordinariamente bela e transcendente e, ao mesmo tempo, humanamente acessível, havia sempre quem se opusesse. As autoridades, os fariseus, os chefes, os escribas, os doutores, procuravam constantemente alguma coisa para contradizê-lO e acusá-lO. Possivelmente, já sabiam que Ele era o Messias e não se contentavam apenas em persegui-lO, propondo-Lhe armadilhas, quando Ele pregava. Começaram a conspirar para matá-lO.
Maria vivia na ansiosa expectativa de quando e como isso ocorreria. Chegada a hora, a Mãe deverá ter acompanhado o Filho, preso, levado ao Sinédrio, condenado por esse júri forjado, flagelado e coroado de espinhos. Mãe que é Mãe sofre!
Foi grande com certeza o sofrimento de Maria, ao ver o sangue de Jesus verter sobre a terra. Maria assistirá, na manhã seguinte, à triste cena da condenação oficial de Jesus por Pilatos, começando logo depois a triste e dolente marcha para o Monte Calvário, a trajectória da Via Crucis. Nas curvas e subidas desse caminho, a Mãe deve ter encontrado o Filho. Este terá sido o encontro de dois corações que sempre se amaram e buscaram um ao outro e mais ainda no momento em que se aproxima a separação física destes dois seres.
É, com toda a certeza, intensa a relação maternal-filial entre Cristo e Maria. Apesar de tudo, o cordão umbilical que biologicamente os ligou ainda não foi totalmente cortado.
Por breves trocas de olhares, neste caminho de dor, Ela O conforta, assegurando-lhe que está com Ele. Embora sem levar a cruz ao ombro, como o Cireneu, Ela carrega com Ele todo o seu sofrimento. Mas, também o Filho a conforta assegurando que vai “renovar todas as coisas” (Ap).

Durante a crucifixão, cada pancada é um golpe no coração da própria Mãe. Aquela agonia foi morosa. Jesus, levantado na cruz, pendente entre o céu e a terra, com os braços abertos como um arco-íris de paz sobre o mundo, exclama: "Pai, perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem" (Lc 23,34). Nessa cena, O Evangelho de S. João descreve Maria de pé, junto à Cruz. Jesus, já quase morto, faz o último testamento: "Mulher, eis o teu filho” “Filho, eis a tua mãe” (Jo 19). Palavra solene, carregada de dor mas de total confiança.
A dor da perda do Filho feriu brutalmente o coração de Maria. Porém, a fé que nela habitava, fazia-a crer que a morte de Jesus não seria o fim e acreditava que Deus teria uma resposta para tudo aquilo. Cristo Ressuscitado é a resposta esperada, a confirmação da certeza há muito sabida no coração daquela que nunca deixou de acreditar e que é bem-aventurada por todas as gerações.
O Fundador da Companhia de Jesus, Santo Inácio de Loyola, nos seus Exercícios Espirituais, faz-nos a contemplar um encontro entre a Mãe e o Filho Ressuscitado. Santo Inácio chama a atenção para a relação íntima e intensa dos dois. E deixa claro que é de se esperar e de crer que entre aqueles que tinham tal intimidade e que viviam envolvidos em tal amor, que a primeira aparição de Jesus após Sua ressurreição – ainda que não relatada na Escritura – teria sido à sua Mãe. É uma ideia razoável. Não só por Jesus ter sido um bom filho e desejar terminar com a dor da sua mãe, mas pelo mérito próprio de Maria: é justo que aquela que primeiro aceitou fazer a vontade de Deus e que com o seu “Sim” mudou a história humana fosse a primeira portadora da grande novidade – a vida venceu a morte! Jesus está vivo. Ressuscitou!
Ninguém sabe como foi aquele encontro. Ninguém sabe o seu conteúdo. Podemos apenas crer nele e vê-lo com os olhos da fé e de uma saudável e pertinente imaginação. É uma contemplação riquíssima: Mãe e Filho livres da dor e do sofrimento, perdidos no tempo a conversar sobre todos os acontecimentos, cheios de alegria, consolo e glória.

A certeza da ressurreição de Cristo não ficou apenas no encontro entre Mãe e Filho. Maria experimenta primeiro a glória de Deus e logo sai em missão: tendo visto o Filho vivo é também portadora da maior notícia já ouvida pelos homens.
Naqueles primeiros momentos após a ressurreição de Jesus, Maria une-se aos Apóstolos. Mãe do Mestre e Mãe daqueles homens confusos pela transformação ocorrida nas suas vidas.
Maria compreendeu o mistério que cercou a ressurreição de Jesus e ensina-nos a compreendê-Lo, mostrando a actualidade daquele acontecimento perdido num túmulo de Jerusalém e que continua hoje a acontecer, silenciosa e gloriosamente, em cada vida que renasce, não da morte física, mas da morte do pecado.
Por tudo, a Mãe de Deus e nossa Mãe, Mãe das Dores e Senhora da Piedade, é Mãe da Confiança no Ressuscitado. No seu coração, Maria confia: Ela sabe que depressa virá o terceiro dia e como tal permanece fiel até ao fim, até ao extremo. "Feliz aquela que acreditou em tudo o que lhe foi dito da parte do Senhor!" (Lc 1,45).

JAC

Agradeço desde já as fotos que me enviaram. Pela gentileza do acto, obrigado!

 

23 de março de 2010

Nossa Senhora da Soledade: Passos de Cristo em Águeda

Nestas celebrações destes três dias que pretendem reafirmar e reforçar a nossa fé em Jesus Cristo, morto, ressuscitado e vivo entre nós, olhamos hoje, em particular, a Mãe, a Senhora das Dores, a mulher atenta e solícita às dores e sofrimentos de quantos se abrem e confiam na misericórdia, na protecção, na compaixão e providência de Deus.
O relato das Bodas de Caná, que ouvimos proclamar, é o nosso contexto para olharmos esta figura singular da história da salvação, como Mulher e Mãe, intercessora e medianeira de todas as graças. Este episódio mostra-nos claramente como a Mãe de Jesus actua junto daqueles que dela necessitam. Ele é verdadeiramente Mãe de clemência e de misericórdia.
S. João começa por dar conhecimento da presença da Mãe de Jesus, do próprio Jesus e dos seus discípulos na festa do casamento.
Maria, a dado passo, percebe que o vinho está para acabar e por isso, cheia de zelo e de prestimosa caridade, observa a Jesus: “Não têm vinho” (Jo 2, 3). Para evitar que os anfitriões passem vergonha diante dos convidados, pede a seu Filho o milagre. Com discrição, mas certa de que Ele o é capaz.
Este pedido de Maria a Jesus traduz a sua relação maternal com a humanidade. Amor materno que antevê a aflição dos filhos, que procura diminuir-lhes o sofrimento, que quer desde sempre dar-lhes o que de melhor puder dar.
Diz a este respeito o Beato José Maria Escrivã: “É próprio de uma mulher [mãe] e de uma solícita dona de casa notar um descuido, prestar atenção a esses pequenos detalhes que tornam agradável a existência humana: e foi assim que Maria se comportou”. É assim que Maria intercede junto de Deus pela humanidade, como se dissesse constantemente: “eles não têm mais vinho”, sugerindo ao Senhor que dê, de novo, aos homens e mulheres daquele tempo e de todos os tempos, a alegria perdida no meio dos seus sofrimentos e tribulações.
A resposta de Jesus à sua Mãe, à primeira vista, poderia parecer dura, mas só àqueles que não possuem uma verdadeira e completa compreensão da Escritura. Disse Ele: “Mulher, que tem isso a ver contigo e comigo? Ainda não chegou a minha hora”. (Jo 2, 4).
Ora, analisando melhor a resposta de Jesus, podemos ver como ela é, de facto, elogiosa para Maria. Em primeiro lugar, convém lembrar que Ele a chamou de “mulher”, também no Calvário, dizendo do alto da Cruz: “Mulher, eis o teu filho” (Jo 19, 26).
Além disso, chamando-a de “mulher”, Ele fala como Deus fala às suas criaturas. Mas, ainda mais importante do que isso, Jesus chama sua Mãe de “mulher”, para que todos reconheçam nela aquela “mulher” que profetizou no Génesis, quando amaldiçoou a serpente ou a “mulher” relatada no Apocalipse.
Voltando àquela festa de Caná, Maria adverte os serventes: “Fazei o que Ele vos disser” (Jo 2,5). E é ensinando àqueles homens que fiquem atentos ao movimento do seu Filho que Maria se torna também intercessora de Deus junto da humanidade. O milagre, o sinal de Caná, não aconteceria se os serventes não ouvissem e obedecessem ao que Jesus lhes indicaria. Por isso, era necessário que um canal de comunicação se abrisse entre a divindade e a humanidade. E, em Caná, Maria foi essa via comunicadora de vida nova que age movida por uma “caridade preventiva”.
Maria pediu o milagre por caridade e de imediato dá aos servos um conselho que serve para todos nós: “Fazei tudo o que Ele vos disser”. Por este motivo a Igreja a chama de Mãe do Bom Conselho, Mãe que continuamente nos comunica bons conselhos e aspirações.
Vendo as nossas aflições e respondendo com o pedido de que façamos o que Jesus disser, Maria torna-se intercessora de Deus, medianeira. Tal como em Caná, o milagre nas nossas vidas não poderá acontecer se não tivermos olhos e ouvidos abertos para fazer o que o Senhor nos diz. Com Deus, participamos do milagre de fazer vida nova no mundo e é Maria quem nos conduz nesse mistério de amor e construção.
As Bodas de Caná revelam-nos esta Mãe solícita e atenta, presente e actuante na vida dos homens. Com as palavras do poeta Dante, na “Divina Comedia”, rezo a Maria, intercessora e medianeira que continue a ser o que sempre foi: Mulher e Mãe!

Mulher, és tão grande e tanto vales
que, quem graça e a ti não recorre,
seu desejo é o de voar sem ter asas.
A tua benignidade não só socorre
a quem pede, mas muitas vezes,
generosamente, ao pedir, precede.
Em ti, misericórdia, em ti, piedade,
em ti, magnificência, em ti se reúne
tudo quanto na criatura há de bondade!
(Dante Allighieri, Divina Comedia, Paradiso, XXXIII,13-21)

20 de março de 2010

V Domingo da Quaresma: É SEMPRE TÃO NOVO TUDO O QUE DEUS FAZ!










Quando Jesus irrompe na vida de alguém,
interrompe a normalidade de um percurso,
e rompe essa vida em duas partes desiguais:
uma que fica para trás,
outra que se abre agora à nossa frente,
recta como uma seta directa a uma meta,
a um alvo, um objectivo intenso e claro,
tão intenso e claro que na vida de cada um
só pode haver um!

D. António Couto

19 de março de 2010

A Caminho da Páscoa: um Grande Fim de Semana!!!


Um fim de semana em cheio. Neste caminho para a Páscoa, vejo-me, em amplitude máxima, em plenitude, a desempenhar o meu ministério diaconal, concretamente no anúncio da Palavra de Deus.
Hoje, dia de S. José, com os cristãos da Borralha, numa festa da catequese para todos os pais. É bom confrontar a vida, com a do pai adoptivo de Jesus, o homem justo e obediente, que faz da vontade de Deus a sua vontade. Deixo a seguir as minhas ideias partilhadas, numa celebração de acção de graças.

Em Águeda começa a celebração do Senhor dos Passos, e neste primeiro dia, os nossos olhos voltam-se mais especialmente para a Mãe, a Senhora da Dores, Mãe da Solidariedade e do Bom Conselho. Partilharei depois aqui as minhas ideias apresentadas.
Amanhã, em duas celebrações, encontro-me com os cristãos, em celebrações da Palavra. Uma em A-dos-Ferreiros, outra no Gravanço. Com eles, poderei contemplar o Deus do perdão. "Ninguém te condenou? Nem eu te condeno".
Domingo volto a anunciar a Palavra de Deus, no Sermão do Encontro, e no Sermão do Calvário. Com isto vou abrindo-me à luz da Ressurreição, pela qual devemos ler todos estes passos de Cristo.

Por agora rezo e agradeço ao Senhor por tudo isto. Porque tudo isto faz parte da minha vida, do meu caminho, do meu ministério. E eu agradeço. E peço que rezem por mim, para que seja bom e fiel transmissor e anunciador da Palavra de Deus, que é Jesus Cristo.

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1. Celebramos a festa litúrgica de S. José, dia dedicado com plenitude de sentido, ao Pai. Aos nossos e aos de todos.
Humanamente falando, hoje temos uma belíssima oportunidade de agradecermos os pais que temos. Pelo que eles foram para nós, pelo que serão no futuro, mas, particularmente, pelo que eles são no presente, neste tempo que nos é dado viver.
Todos nós somos filhos, todos devemos a nossos pais uma gratidão incomensurável.

2. Teologicamente falando, este dia surge como oportunidade para olharmos S. José, pai terreno de Jesus, como modelo e exemplo da paternidade, mas também como exemplo de fé e de confiança nas promessas e nas palavras de Deus.
Olhamo-lo como personagem singular da história da salvação. Ele foi escolhido para ser o pai adoptivo de Jesus.

3. O Evangelho de Mateus faz-nos olhar S. José pelo prisma da fidelidade e do consentimento ou assentimento à vontade de Deus.
O evangelista fala depois do nascimento de Jesus. Conta em modo directo esse nascimento, dando relevo à figura de José.
Face ao mistério da incarnação – no qual Maria concebe Cristo pela virtude e pela força do Espírito Santo – José, esposo de Maria, não querendo difamá-la resolveu repudiá-la em segredo. Não é de estranhar, humanamente falando, esta reacção de José, que, apesar de ser um bom e justo judeu, não compreende ainda os desígnios de Deus neste nascimento milagroso.
Mas nessa altura, a epifania, a revelação de Deus, por meio do Anjo, vem colocar as coisas em ordem. “Não temas receber Maria pois o que nele se gerou é fruto do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho e tu pôr-Lhe-ás o nome de Jesus”. Deus diz a José como vão ser as coisas. E o texto termina: “José fez como o Anjo do Senhor lhe ordenara”.

4. Aqui está o ensinamento que podemos retirar deste grande santo da Igreja. José faz da vontade de Deus a sua própria vontade. Ele aceita o plano. Não porque não tem outra saída, mas porque confia, porque sabe que Deus tem um plano de salvação para a humanidade.
José faz-se deste modo instrumento de Deus na execução do plano salvador, não só porque aceita a vontade de Deus, mas porque a sua vida, daí em diante, estará em estreita relação com o Filho e com a Mãe.
José soube ser verdadeiramente Pai, ainda que adoptivo, ou seja, não biológico. Foi José, com Maria, que educou, que esteve perto, sempre presente, sempre ao lado de Jesus. E quando não esteve ou deixou de estar, particularmente depois da morte de José, encontrou a melhor forma e sinal de estar perto do Filho e de Maria.

5. Não me quero alongar mais. E porque hoje é dia de agradecermos os pais que temos permitam-me terminar com uma história a este respeito: é a história do nó!

História do Nó

Era uma vez, uma família normal e natural. Um casal, ainda jovem, com um filho que estava no 2.º ano da escola.

No final do período, os pais foram convocados para uma reunião com a directora de turma. Nessa reunião a professora falou aos pais da importância destes dedicarem tempo e atenção aos seus filhos, ao seu crescimento e às actividades em que eles estão envolvidos.


A certo momento, o pai da nossa história pediu a palavra e disse que, infelizmente, por causa da ocupação profissional, tinha pouco tempo para estar com o seu filho, e às vezes, passava dias sem falar com ele.

Mas, contou também a forma que encontrou para manifestar e mostrar ao filho quanto o amava e gostava dele. Disse o pai: “todas as noites, quando chego a casa, mesmo já cansado do trabalho, vou junto da cama do meu filho, que já dorme, e dou-lhe um beijo. Ao mesmo tempo, faço um nó no lençol. Este foi o sinal que combinamos para que ele, ao acordar, se lembre que estive junto dele e que lhe dei um beijo de boa noite”.

Na sala, todos ouviram emocionados a história.

No final da reunião, a professora, em conversa com esse pai, agradeceu o testemunho e ficou extremamente admirada ao ver que esse senhor era pai de um dos seus melhores alunos.

Moralidade: A relação de pai e filho é fundamental para um crescimento saudável e harmónico. O amor, o carinho, a presença, a proximidade do pai são fundamentais no processo de crescimento, mas neste, também os sinais e as provas de amor e afecto têm um lugar fundamental.

(ideias partilhadas na celebração do dia litúrgico de S. José)

JAC

16 de março de 2010

28.º dia de Quaresma: Deus está por nós!


Naquele tempo, por ocasião de uma festa dos judeus, Jesus subiu a Jerusalém. Existe em Jerusalém, junto à porta das ovelhas, uma piscina, chamada, em hebraico, Betsatá, que tem cinco pórticos. Ali jazia um grande número de enfermos, cegos, coxos e paralíticos. Estava ali também um homem, enfermo havia trinta e oito anos. Ao vê-lo deitado e sabendo que estava assim há muito tempo, Jesus perguntou-lhe: «Queres ser curado?» O enfermo respondeu-Lhe: «Senhor, não tenho ninguém que me introduza na piscina, quando a água é agitada; enquanto eu vou, outro desce antes de mim». Disse-lhe Jesus: «Levanta-te, toma a tua enxerga e anda». No mesmo instante o homem ficou são, tomou a sua enxerga e começou a caminhar. Ora aquele dia era sábado. Diziam os judeus àquele que tinha sido curado: «Hoje é sábado: não podes levar a tua enxerga». Mas ele respondeu-lhes: «Aquele que me curou disse-me: ‘Toma a tua enxerga e anda’». Perguntaram-lhe então: «Quem é que te disse: ‘Toma a tua enxerga e anda’». Mas o homem que tinha sido curado não sabia quem era, porque Jesus tinha-Se afastado da multidão que estava naquele local. Mais tarde, Jesus encontrou-o no templo e disse-lhe: «Agora estás são. Não voltes a pecar, para que não te suceda coisa pior». O homem foi então dizer aos judeus que era Jesus quem o tinha curado. Desde então os judeus começaram a perseguir Jesus, por fazer isto num dia de sábado (Jo 5, 1-3a.5-16).

No caminho para a Páscoa é progressiva a revelação do nosso Deus. Depois dos convites fortes, directos e incisivos à conversão e à penitência, a liturgia encarrega-se, com o correr dos dias, de nos apresentar um Deus que quer o humano. E quer de uma maneira inédita e inaudita. É Deus que sai de Si para vir ao encontro do homem pecador que se abre à misericórdia. O Evangelho chamado por uns do Filho Pródigo e por outros do Pai Rico em Misericórdia é um harpejo belíssimo nesse ponto.

A cura do enfermo de Betsatá, que representa todas as nossas doenças, males e pecados, por intermédio de Jesus vem ainda mais acentuar essa característica do nosso Deus: Ele não vem para os sãos, mas para os doentes, não vem para os puros e os santos, mas para os pecadores. Vem para mim e para ti!

Jesus insurge-se contra o legalismo e o farisaísmo em nome do bem maior da pessoa humana. E isso causar-lhe-á a morte que, como sabemos, é redentora e salvadora.

É fantástico que a meio deste caminho quaresmal, de deserto, de conversão, recebamos esta mensagem positiva e de esperança: Deus está por nós e só quer o nosso bem. Estamos nós dispostos a que Deus nos faça bem?

Rezo, por isso, com as palavras do salmo:

Deus é o nosso refúgio e a nossa força,
auxílio sempre pronto na adversidade.
Por isso nada receamos, ainda que a terra vacile
e os montes se precipitem no fundo do mar.



Os braços dum rio alegram a cidade de Deus,
a mais santa das moradas do Altíssimo.
Deus está no meio dela e a torna inabalável,
Deus a protege desde o romper da aurora.



O Senhor dos Exércitos está connosco,
o Deus de Jacob é a nossa fortaleza.
Vinde e contemplai as obras do Senhor,
as maravilhas que realizou na terra.


Com renovação do pedido de desculpa pelo meu atraso não esqueçamos que o nosso caminho continua. E não tem fim. Agradeço desde já o enlevo e a dedicação que cada um tem posto nesta iniciativa. É para o bem de todos. Obrigado!

28º dia. Amor de Deus
35º dia. Teresa desabafos
36º dia. A Capela

Pedido de desculpa

Olá a todos particularmente aos meus colegas de caminhada.

Por motivos pessoais e técnicos não conseguirei colocar no blgue a minha reflexão antes das 13h00 de hoje.

Peço desculpa a todos pelo imprevisto.

até amanhã

11 de março de 2010

Oração em Sexta-feira da Quaresma


Cumprir os Teus mandamentos
É para mim motivo de alegria
Porque me invade o entusiasmo
E vivo a plenitude interior
Amando como Tu.

És Senhor de amor e compaixão
E tocas meu coração para a ternura
Diante dos sofredores.

Amas até ao extremo, infinitamente.

Oxalá possa eu, na simplicidade quotidiana
Ter o Teu olhar profundo
Que vê o coração,
O Teu sentir compassivo
Que perdoa todo o mal,
O Teu amor ofertado:
Imolação no alto da cruz.

JAC
6.ª feira da III Semana. Ano C

7 de março de 2010

19.º Dia da Quaresma: Deus não se enche de nós!


Naquele tempo, vieram contar a Jesus que Pilatos mandara derramar o sangue de certos galileus,
juntamente com o das vítimas que imolavam.
Jesus respondeu-lhes: «Julgais que, por terem sofrido tal castigo,esses galileus eram mais pecadores
do que todos os outros galileus?
Eu digo-vos que não. E se não vos arrependerdes, morrereis todos do mesmo modo.
E aqueles dezoito homens, que a torre de Siloé, ao cair, atingiu e matou?
Julgais que eram mais culpados do que todos os outros habitantes de Jerusalém?
Eu digo-vos que não. E se não vos arrependerdes, morrereis todos de modo semelhante.
Jesus disse então a seguinte parábola: «Certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha.
Foi procurar os frutos que nela houvesse, mas não os encontrou.
Disse então ao vinhateiro: ‘Há três anos que venho procurar frutos nesta figueira e não os encontro.
Deves cortá-la. Porque há-de estar ela a ocupar inutilmente a terra?’
Mas o vinhateiro respondeu-lhe: ‘Senhor, deixa-a ficar ainda este ano, que eu, entretanto, vou cavar-lhe em volta e deitar-lhe adubo. Talvez venha a dar frutos. Se não der, mandá-la-ás cortar no próximo ano».
(Lc 13,1-9)

1. O Evangelho deste III Domingo da Quaresma reforça e renova o apelo e o desafio à conversão. Trata-se de uma conversão que possibilite uma transformação radical da vida, que implique mudança de mentalidades e de actividades, fazendo de Deus o centro e dos seus valores a prioridade.

2. Aqui, Jesus atira tudo contra o nosso coração, empedernido e manchado pelo pecado. Jesus serve-se de factos - mais ou menos históricos - e serve-se da parábola da figueira para nos dizer que a nossa vida precisa de conversão. Ele grava com selo no nosso coração a necessidade da conversão.

3. Evocando factos e fazendo a crónica deles, Jesus tira lições. Ele não se insurge contra o poder nem invoca o fatalismo. Jesus mostra e faz ver que face à precariedade da vida só nos resta convertermo-nos.
Esta é a lição fundamental para nós. Porque Jesus convida a cortar definitivamente com a nossa mentalidade apertada que liga directamente o pecado ao castigo. Dizer que o bom é recompensa de Deus e que o mau é castigo equivale a acreditar num Deus mercantilista e chantagista que nos usa como marionetas ou fantoches. Ora, o nosso Deus é “Aquele que é”, não é nada disso, senão amor.
Num tempo que estamos todos com os olhos postos e presos no Haiti, na Madeira ou no Chile este relato evangélico vem fazer luz e dizer-nos que todos precisamos de conversão.

4. Na segunda parte do relato, surge a parábola da figueira que vem reforçar e realçar a ideia da misericórdia, da compaixão e da paciência de Deus para connosco.
Nós somos a figueira, Cristo o agricultor e o Pai o dono do pomar. Os três anos referidos no Evangelho – como tempo em que a figueira não deu fruto – parecem evocar os três anos do ministério público de Jesus, com todos os cuidados de preparação em relação à figueira. Mas, mesmo assim, não houve frutos.
É, deste modo, que é dado “ainda mais um ano” para que possamos frutificar. É mais uma oportunidade. É, de novo, um fortíssimo convite à conversão.

5. Não podemos adiar indefinidamente a nossa transformação, a nossa conversão (metanoia). Precisamos de aproveitar o tempo que nos é dado e nos resta. Precisamos de dar fruto, que é como quem diz, a nossa vida deve seguir à luz dos critérios e dos valores de Deus e do Evangelho. Mas, não esqueçamos: Deus não se esquece nem se “enche” nunca de nós!

Tu que foges de Deus, por mais que fujas,
hás-de encontrá-lo eternamente ao lado.
Ele é o eterno Amor-Perdão
de cujas mãos velantes cai sempre mel doirado!...
Não foge Deus de ti, por mais que fujas.
Pobre mendigo de bordão quebrado,
olha os seus olhos.
Para as almas sujas é que mais seu olhar está voltado.
Sobre os desertos cai a luz mais alta.
O vento passa e purifica os céus.
O mar tem portos místicos de abrigo.
Onde a dor é demais, Jesus não falta.
Podes pensar, talvez, viver sem Deus.
Deus nunca deixará de estar contigo.
(Moreira das Neves, “Mendigo de Deus”)


A nossa caminhada continua. A nossa saga não pára. O caminho não está concluído. Rumo à Ressurreição, ao Homem Novo, ainda faltam etapas. Vamos passar por aqui:

19º dia. Amor de Deus
26º dia. Teresa desabafos
27º dia. A Capela

JAC

3 de março de 2010

Servir: norma de vida


Pedes-me que sirva
não forçado ou oprimido
mas fazendo do serviço
a minha norma de vida.

Sabes com certeza
a minha avidez de poder
e por isso recomendas
que sirva os próximos e os distantes.

Peço-te que me faças simples,
tira de mim a arrogância e o orgulho,
ensina-me o amor.

Faz-me andar conTigo
e na Tua presença
poderei viver como Tu.

Quarta-feira da segunda semana
JAC

2 de março de 2010

Transforma-me Tu!

Deus Pai
conheces as minhas incoerências
porque faço o que não digo ou acho bem.

Sofres quando a minha vida
não é repleta de actos de amor,

Sofres quando Te celebro
e não vivo nem testemunho a celebração.


Sofres quando olho sem ver
o sofrimento do mundo.


Murmuras ao meu coração
que seja autêntico e verdadeiro
fiel e leal.


Eis-me, Senhor,
para me transformar pelo amor.
Transforma-me Tu!


Terça-feira da segunda semana
JAC

Uma flor para a Madeira: Fantástica música



Não resisti a esta música. Fantástica.
Além do mais, conheço pessoalmente o Zé Perdigão que é de Guimarães e acho que tem uma voz belíssima. Pena que a oportunidade dele já tenha chegado um pouco tarde...
Bom, com isto também mando - e já mandei - a minha flor para a Madeira.

1 de março de 2010

Meus Deus, queria...


Meu Deus
queria um coração terno e delicado
desejoso de amar a todos
pressentindo as suas necessidades
mesmo antes dos seus pedidos.


Meu Deus
queria que fosses meu mestre do amor
que me livrasses do egoísmo
que dificulta escutar os irmãos.


Meu Deus
queria amar sem julgar
dar sem pedir
oferecer sem passar recibo
entregar-me incondicionalmente,
queria aprender de Ti
amando até ao fim.


Meu Deus
sozinho nada posso
conTigo conseguirei.


Segunda-feira da segunda semana
JAC

[A propósito da solenidade de Cristo Rei]

  “Talvez eu não me tenha explicado bem. Ou não entendestes.” Não penseis no futuro. No último dia já estará tudo decidido. Tudo se joga nes...