29 de outubro de 2011

Dizer e fazer: Eis a questão!


1. A Palavra de Deus, neste 31.º domingo comum, alerta-nos para a importância do ser, da harmonia entre o dizer e o fazer, da coerência entre o ensino e a vida. Hoje, Jesus, na continuação da luta estabelecida com as "cabeças pensantes" do seu tempo, denuncia os «mestres da suspeita», os que dizem mas não fazem. Os que se sentam na cadeira, como Mestres e Doutores, mas não gozam da autoridade como testemunhas fiáveis e credíveis. Podem ser escutados, mas não devem ser seguidos. São bons instrutores. Mas péssimos educadores. São bem-falantes, mas maus praticantes. É uma denúncia veemente, uma crítica dura que visa sobretudo a classe religiosa e sacerdotal, se quisermos, a classe dirigente, mas que nos atinge a todos. Em última instância, esta palavra leva a ver com que linhas nos cosemos.

2. Jesus fala com a habitual indignação profética. Para todos os tempos, e em especial para o que nos é dado viver. Desafio muito directo aos que, na comunidade cristã, temos a missão da animação, da educação e do ensino. Sim! Desafio, em primeiro, aos bispos, aos padres e diáconos, mas aberto a todos os crentes, em geral, desafiados à humildade e ao serviço como opção e como estilo de vida.

3. No evangelho que ouvimos proclamar, Jesus "puxa as orelhas":
a) aos que não fazem o que dizem. O nosso maior pecado é a incoerência. Não vivemos o que dizemos. A nossa conduta desacredita-nos. Às vezes, tantas se calhar, guiamo-nos pelo dito "se não os podes vencer junta-te a eles".  Os cristãos, esquecemos facilmente que o nosso exemplo de vida mais evangélico será motor de transformação do nosso mundo e do nosso tempo.
b) aos que atam fardos pesados e põem-nos aos ombros dos outros, mas eles nem com o dedo os querem mover. É bem certo. Com frequência, somos exigentes e severos com os outros, mas sempre muito compreensivos e indulgentes connosco. O que exigimos aos outros não o imaginamos sequer para nós...
c) aos que fazem as coisas para serem vistos pelos homens. Não podemos negar que é muito fácil viver pendentes e dependentes da nossa imagem, procurando quase sempre “ficar bem” perante os outros. Nunca como nos nossos dias se cultivou tanto a cultura da aparência. Nunca se usaram tantas máscaras. Estamos sempre mais atentos ao nosso prestígio pessoal e bem estar...
d) aos que gostam do primeiro lugar nos banquetes e dos primeiros assentos nas sinagogas, das saudações nas praças públicas. Dá-nos vergonha confessá-lo, mas gostamos tanto destas honrarias. Procuramos ser tratados de forma especial. Queremos que nos tratem com critérios diferentes dos usados para a "plebe"...
e) aos que se  deixam tratar por ‘Mestres’… e doutores. O mandato evangélico não pode ser mais claro: renunciemos aos títulos para não fazermos sombra a Cristo; orientemos apenas e só a atenção apenas para Ele.

4. Esta palavra desafiadora de Jesus pode ligar-se perfeitamente à educação das gerações mais jovens, dos filhos, com todas as problemáticas que lhe estão inerentes, e que vamos assistindo. Mas, o que não pode sociedade nenhuma esquecer é que «a autoridade do mestre, em educação, passa mais pelo que ele vive e faz e não só pelo que diz. O testemunho da vida é a forma simples e espontânea de irradiar valores e a credencial das palavras que se comunicam» (CEP, Educação, 14).

5. Não podemos ficar com a ilusão de que darmos uma boa educação, simplesmente pelo facto de ocuparmos os filhos em muitas aprendizagens, da natação ao desporto, da catequese à informática, do balet ao que quer que seja. Não durmamos descansados, só porque entregamos os filhos a instituições de suposta ou reconhecida qualidade. Não nos tranquilizemos, simplesmente porque ainda mandamos bem e temos mão nos filhos. Tudo isso é pouco ou quase nada. Se pai e a mãe não oferecerem, como verdadeira família, um ambiente animado pelo amor e firmado pelo testemunho. Sem essa atmosfera, sem esse clima não há educação. E o trabalho do professor, do padre e do catequista, de qualquer educador, estará seriamente comprometido.

6. Este aviso, quase "puxão de orelhas, que nos brota da palavra proclamada é para ser levado a sério, por todos. Com a paciência do costume, Jesus vai-nos educando a mente e o coração, para sermos melhores discípulos. Aprendamos Dele e com Ele. A coerência, a simplicidade, a verdade, a honestidade, o testemunho, por palavras e obras, é, talvez, o maior e mais urgente desafio aos que nos dizemos e somos, afectiva e efectivamente, cristãos neste tempo.

7. Aos que nos alimentamos da Palavra e do Pão da Eucaristia não esqueçamos uma regra de ouro: “crê o que lês, ensina o que crês, vive o que ensinas». Só assim seremos discípulos verdadeiros de Jesus Cristo.


Pe. JAC

1 comentário:

  1. Como me revejo em alguns desses pontos...
    Ainda tenho tanto para mudar, mas com a ajuda Dele sei que vou conseguir!

    ResponderEliminar

[A propósito da solenidade de Cristo Rei]

  “Talvez eu não me tenha explicado bem. Ou não entendestes.” Não penseis no futuro. No último dia já estará tudo decidido. Tudo se joga nes...