Ainda em Natal, já mesmo a terminar o tempo, mas não a alegria e a certeza da presença do Deus Emanuel, a liturgia da Palavra leva-nos, agora com os Magos, até ao presépio. Sempre até ao presépio, o lugar onde Deus acampa, e, por isso, ir ao presépio é, acima de tudo, ir ao nosso coração, o verdadeiro presépio/morada do Menino Deus.
Continuamos, por isso, a aprender nesta bela escola do presépio. E aprendemos hoje com os Magos do Oriente.
Fabulosa catequese nos é dada nestas leituras. Enfoque especial ao Evangelho, sem deixarmos de acenar ao luminoso e esperançado texto de Isaías, na primeira leitura.
São, para mim, absolutamente secundárias as questões relativas à origem da estrela que os Magos seguiram. Também a questão dos seus nomes é secundária, extra-evangélica. Não importa se eram Baltasar, Belchior e Gaspar. Não importa se um era europeu, um africano e outro indiano. Não importa se eram reis ou não. Não é até fundamental saber se ofereceram mesmo ouro, incenso e mirra, mesmo que venha assim expresso na página do Evangelho.
Esta festa da epifania de Deus que celebramos está longe de ser uma pequena história infantil, alimentada no nosso imaginário, desenhada com as cores da superficialidade das novelas e das fábulas.
Afinal de contas, o que é que é essencial, nesta solenidade da Epifania?
Em primeiro lugar, epifania significa, do grego, manifestação. Trata-se, para nós cristãos, da manifestação do mistério de Deus, invisível e escondido desde sempre e, agora, tornado conhecido e visível, em Jesus que nasce no presépio. Jesus é o sacramento do Pai, a revelação do Pai. Em boa verdade, como expressa José Augusto Mourão, “a epifania é o cumprimento da missão do Filho [revelar e mostrar o Pai] e ponto de partida para a missão individual de cada cristão”. A epifania de Deus leva-nos à missão diária, quotidiana, fazendo-nos Suas testemunhas e sinais.
Importa perceber que a estrela que os Magos seguem, segundo relato de Mateus, é essa luz nova que desponta, no cumprimento pleno das palavras do profeta Balaão («Eu o vejo, mas não agora,/ eu o contemplo, mas não de perto:/ uma estrela desponta de Jacob,/ um ceptro se levanta de Israel» (Números 24,17) e do profeta Isaías, tomado como primeira leitura de hoje, («chegou a tua luz e brilha sobre ti a glória do Senhor » (Isaías 60,1).
Esta estrela que arde e brilha nos olhos e no coração dos Magos orienta os seus passos e, neles, os nossos passos, para a verdadeira Estrela que desponta e que é Jesus. E os Magos e, com eles, a humanidade que somos, orientamos para aquele Menino toda a nossa vida. É o que significa o verbo «adorar». Esta «adoração» é o verdadeiro presente a oferecermos ao Deus Menino, muito mais do que ouro, incenso e mirra.
Fazer deste Menino, que traz em Si a plenitude de Deus – verdadeiro Deus e verdadeiro Homem – centro e luz da nossa vida, é imperativo desta solenidade. É este Deus que os Magos adoram Naquele Menino com Maria, Sua Mãe.
Essencial, ainda na epifania, é perceber também, como a Deus lhe repugnam as portas. O presépio não tem portas. Deus quer as portas só para estarem abertas, nunca fechadas, para todo aquele que O quiser ver. Não é preciso marcar entrevista, nem audiência, nem tocar à campainha. Ele é verdadeiramente Emanuel, Connosco e em Nós. É num Deus assim que acredito.
Importante lição dos Magos, mesmo a terminar: depois de encontrar a Luz, que é o Menino Jesus, podemos e devemos seguir por outro caminho. Surpreendente! Até para regressarmos a casa precisamos de aprender um caminho novo! No nosso caso, poderá não ser caminho novo no percurso e no trajecto, mas deverá ser sempre renovado na motivação, no entusiasmo, na alegria e na certeza da presença da Luz de Deus em nós.
Um Santo Domingo.
faz tão bem ler as tuas reflexões! continua, sempre que puderes =)
ResponderEliminar