29 de novembro de 2013

Uma Igreja em estado de missão!


 
A Missão Jubilar na diocese de Aveiro


1. O plano pastoral que a Diocese de Aveiro viveu este ano chamou-se Missão Jubilar. Tratou-se de um programa preparado e discutido atempadamente, desde as bases, fato que se revelou fulcral para que todos sentissem esta "hora" como sendo a sua, este projeto como sendo seu e de toda a Igreja diocesana. Vive este hora foi lema congregador, grito audível em tantos locais da diocese, palavra visível, escrita e mostrada nas torres das igrejas, edifícios religiosos e nas casas de milhares de pessoas espalhadas entre o mar, a serra e a ria.

Foi intuito deste plano pastoral fazer de toda a ação missão. Disse-o o bispo diocesano: "Somos uma Igreja em estado de missão". Não só com iniciativas pontuais e mensais de anúncio e de evangelização, mas levando cada cristão a viver o seu "ser em Cristo", através de ações simples e concretas, experimentadas no dia-a-dia, dentro e fora do templo, assumindo as bem-aventuranças do Evangelho como caminho dos discípulos de Cristo.

Na mensagem inicial, D. António Francisco disse que este programa pastoral, mais do que pedagogia criativa, é a alma inspiradora do nosso ser igreja, vivendo o nosso ser em Cristo. Porque aquele que experimenta a doçura do amor de Deus, realidade fundante de toda a missão, não pode senão ser anunciador da alegria desse amor dado a todos sem exceção. Porque quem recebe de Deus tantos dons, não os pode enterrar e fechá-los a sete chaves, entre as pregas de um coração egoísta egocêntrico.

Bem a propósito as palavras do Papa Francisco, na sua mais recente exortação apostólica A Alegria do Evangelho: "Porque alguém acolheu este amor [de Deus] que lhe devolve o sentido da vida, como é que pode conter o desejo de o comunicar aos outros?" (n.º8).

O ano da Fé foi substrato de toda a missão pastoral vivendo e exprimindo a força da fé e a alegria da confiança, tal como rezamos na oração da Missão Jubilar.

 
2. Ao olhar para trás, em jeito de balanço possível (sim, eu acredito que o mais importante que a Missão Jubilar proporcionou é aquilo que fica no segredo do coração de cada um e que Deus bem conhece), sou levado a crer que se conseguiu iniciar o "choque operativo" pretendido, mesmo sabendo que não fica acabado.

Durante este ano fomos mais capazes de sair do templo para nos encontrarmos com o Homem de hoje na sua situação atual. Não quisemos esperar na sacristia, egoisticamente sós, mas ousamos ser mais Igreja fora da igreja. Fomos capazes de partir como missionários e mensageiros para levar a todos os recantos e a todas as casas a feliz notícia do Evangelho das bem-aventuranças.

Com a abertura das portas, que tanto nos fazem entrar como sair (ou nos fazem entrar para sair), buscamos ser uma Igreja casa de todos, mãe para todos. Com a incursão em zonas desconhecidas, em periferias existenciais, tantas vezes as nossas seguranças são (felizmente!) abaladas e corremos o risco de sofrer acidentes. Mas, diz o Papa Francisco, é preferível uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por sair do que uma Igreja doente por se fechar comodamente.

Durante a Missão Jubilar, foi possível desinstalar muitos, talvez adormecidos e anestesiados numa prática ritualista, fechada no templo, como ovelhas gordas e instaladas confortavelmente nos bancos da igreja. E chegou-se a tantos outros ociosos, tal como os trabalhadores da parábola do Evangelho sentados sem trabalho.

Foi possível chamar para a ação e para a missão, talvez daqueles que hoje, como Zaqueu, estão a espreitar, curiosos, ou daqueles que estão ainda nos "átrios" e que ainda não conseguem ou não querem dar o passo de entrada.

A Missão Jubilar permitiu aproximarmos mais uns dos outros. Conhecemo-nos mais e melhor, somos mais família, cuidamos mais da fragilidade uns dos outros, sentimo-nos mais solidários e mais simpáticos com todos, gostamos mais de trabalhar juntos...

 
3. A Missão Jubilar teve a graça de não criar novas estruturas. Potenciamos as que temos (e já são tantas!) para que vivam com entusiasmo a missão. Creio que todos os que se dispuseram docilmente a viver cada pequena ação proposta tomaram consciência de que Deus conta com cada um para ser rosto de esperança, alegria e transparência do amor de Deus.

Creio que fomos capazes de nos mostrarmos como Igreja de Deus peregrina no meio da peregrinação dos homens deste tempo. Não causamos indiferença. Saímos à rua e às praças e às periferias. Mostramos alegria, mesmo entre as depressões de tristeza e desespero do tempo presente. Mostramos a luz da fé, que arde nos nossos corações, luz pequena, ténue e frágil, mas que ilumina e alumia a escuridão da noite. Mostramos que a fé se exprime e experimenta em obras de caridade, de partilha e de atenção aos mais fracos.
 

4. Claro que nem tudo foi como sonhamos... Mas os sonhos de Deus para a Diocese de Aveiro atravessam os sonhos que persistimos e ainda acalentamos. A hora é de missão, agora, como sempre. Vive esta hora!

 
(texto escrito para o Semanário Digital da Agência Ecclesia, publicado esta semana)
 
Pe. José António Carneiro
Vigário paroquial de Nossa Senhora da Glória-Sé de Aveiro
Comissão Coordenadora da Missão Jubilar

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