17 de julho de 2015

O primeiro jubileu ... de madeira! Cinco anos de padre.


Biblicamente, vem de longe a festa do jubileu (Levítico, 25). Trata-se de um verdadeiro encontrar/achar de alegria, de júbilo, vivido como tempo de graça, tempo santo, também com fortes implicações sociais (perdão das dívidas, libertação dos escravos)…

A celebração do jubileu (yovel) era anunciada com o toque festivo com o chifre do carneiro. (Tudo a ver comigo, portanto!)

Celebro hoje cinco anos da minha ordenação sacerdotal. Um jubileu de madeira, segundo vi (http://www.iprb.org.br/Lerever/bodas_jubileus.htm).
A 18 de Julho de 2010, na cripta do Sameiro, era ordenado presbítero para o serviço do povo de Deus, depois de um ano de estágio em Águeda e arredores.
Dia feliz. Melhor, o dia mais feliz! E o diz que fez e faz com que todos os meus dias sejam mais felizes. Apesar de tudo, evidentemente…

Depois de Águeda, onde estive um ano como presbítero, fui enviado (alguns dirão que “desertei”) para a paróquia de Nossa Senhora da Glória, em Aveiro, onde ainda permaneço e estarei por mais um ano…

Dou a graças a Deus pela vida e pelo caminho. Pelas vitórias e pelas derrotas, pelas conquistas e pelos fracassos… De tudo se faz a vida!
Dou graças a Deus pela família, pelos amigos e até pelos inimigos… De tudo se faz a vida!
Dou graças a Deus pelos sonhos, pela saúde e pela doença… De tudo se faz a vida!
Dou graças a Deus pelos sorrisos e pelas lágrimas, pelo entusiasmo e pelo cansaço... De tudo se faz a vida!
Dou graças por cinco anos de “luta” e de (bom) “combate” para ser transparência de Deus para todos!

São cinco anos … jubileu de madeira! 
Que o Cajado do Bom Pastor (cf. Marcos 6,8) continue a ser o meu sustento, o meu refúgio. Que o Senhor continue a sussurrar-me: “basta-te a minha graça (cf. 2Coríntios 12,9). Basta-te o meu cajado”. 
E eu continue a dizer: "Como agradecerei ao Senhor tudo quanto Ele me deu" (Salmo 115).




Deixo aqui a entrevista que concedi ao Correio do Vouga poucos dias antes da minha ordenação.


"Quero ser padre para Deus e para quem mais precisar"
.
José António Carneiro, 29 anos, vai ser ordenado padre no próximo domingo, na Basílica do Sameiro, em Braga, pelas 15h30. Está na Diocese de Aveiro desde Outubro de 2009 e continuará pelo menos no próximo ano pastoral. Natural de S. Torcato, Guimarães, assume-se “amante e sócio” do Vitória de Guimarães, mas afirma que há um “clube” mais importante, do qual qualquer pessoa pode fazer parte sem se “preocupar com quotas”: a Igreja de Cristo.



Entrevista realizada por correio electrónico por Jorge Pires Ferreira CORREIO DO VOUGA - O diácono José António está na Diocese de Aveiro há menos de um ano. Pode apresentar-se?
JOSÉ ANTÓNIO CARNEIRO - Chamo-me José António Ribeiro de Lima Carneiro, nasci há 29 anos, cumpridos a 16 de Janeiro. Sou natural da vila de S. Torcato, uma localidade do arciprestado de Guimarães/Vizela, da Arquidiocese de Braga. Sou o segundo de cinco irmãos, oriundo de uma família católica, empenhada em movimentos de apostolado e na vida da comunidade paroquial. Apesar disso, não há qualquer tradição de sacerdotes, religiosos ou consagrados na minha família, pelo menos que eu saiba…

Está na diocese de Aveiro desde o dia 28 de Outubro de 2009. Antes disso, que trabalhos desempenhou?
Cheguei cá como diácono, ordenado em 2006, tendo trabalhado pastoralmente em três comunidades paroquiais de Vila Nova de Famalicão e, depois disso, tendo estado dois anos como jornalista (ou a fazer de jornalista, como digo a brincar!) no jornal “Diário do Minho”, pertencente à Arquidiocese de Braga, ao mesmo tempo que colaborava numa instituição social de apoio a rapazes oriundos de famílias disfuncionais, chamada Oficina de S. José, e também em duas paróquias do arciprestado de Braga, Sé Primaz e S. João de Souto.

Como veio parar à Diocese de Aveiro?
Terminados estes dois anos, e consolidada a minha decisão de me entregar a Cristo e à Igreja como sacerdote, abriu-se a possibilidade de fazer uma experiência pastoral noutra diocese, concretamente na de Aveiro. Foram variadas as razões que levaram à minha vinda para Aveiro: a Arquidiocese de Braga, na pessoa do Arcebispo e também dos responsáveis do Seminário, viram com bons olhos a ideia; também a diocese de Aveiro, na pessoa do seu Bispo, D. António Francisco, que, como se sabe, foi bispo auxiliar de Braga - e deixou saudade - aceitou a minha vinda; e, por fim, claro está, eu mesmo quis vir. Claro que é do conhecimento geral a boa relação de permuta e partilha existente entre estas duas dioceses a este nível. Só para recordar, outras pessoas de Braga estão ou estiveram em Aveiro (actualmente o P.e Costa Leite; no passado o P.e Fonte, entre outros…).

É um minhoto aberto à beira-mar, à Bairrada, à serra?
O mais importante é que sinta que a Igreja não tem fronteiras, a nenhum nível, e também neste. Somos ordenados para Cristo, para a Igreja Universal, com expressão na Igreja Particular (diocese), claro está, mas com a abertura de coração para viver a missão onde for mais necessário. Estou incardinado na Arquidiocese de Braga, mas isso não impede, ou não pode impedir, esta abertura de coração para anunciar Cristo e o seu Evangelho onde for preciso. É com essa vontade que estou em Aveiro, mais concretamente na Unidade Pastoral Águeda, nestas nove paróquias que a compõem. Durante o próximo ano, segundo “acordo” com a Arquidiocese de Braga e a Diocese de Aveiro, e com a minha vontade, continuo por terras aveirenses. No final do ano, reunimo-nos, avaliamos, pensamos e decidimos o futuro.

Como é o seu trabalho na Unidade Pastoral de Águeda?
É um trabalho normal: celebrações da Palavra, sacramentos, catequeses, cartórios, pastoral juvenil e vocacional, um pouco de tudo neste caminhar contínuo com o Povo de Deus que nos é confiado. Trabalhar em equipa, para além de enriquecedor, é frutuoso. Dou graças por sempre ter estado em equipas sacerdotais. A minha estadia em Aveiro tem sido extremamente positiva porque me tem permitido conhecer outras formas de trabalho pastoral, outras pessoas, outras formas de ser Igreja. Daí que o balanço é, até ao momento, muito positivo, e espero que continue a ser no próximo ano.

Como foi o seu despertar para a vocação de padre?
O meu despertar vocacional aconteceu pelos 12 anos, quando me preparava para a Profissão de Fé e fui desafiado pela catequista para acolitar à missa. A partir daí o testemunho e o exemplo do meu pároco sempre me inquietou e fez-me colocar a tradicional questão do ser padre. Mas depressa passou com o tempo, para explodir, mais tarde, já com 17 anos, e com a ajuda já de outro pároco. Terminado o 9.º ano, feita a experiência de trabalho operário, entrei no Seminário de Nossa Senhora da Conceição, em Braga, para o 10.º ano, e aí estive até ao 12.º. Depois do Secundário, entrei no Seminário Conciliar de S. Pedro e S. Paulo, e aí fiz toda a minha formação teológica e pastoral em ordem ao sacerdócio, quer na Faculdade de Teologia quer no próprio Seminário. A família sempre me apoiou e continua. Não esqueço os sacrifícios e as dificuldades dos meus pais e irmãos ao longo destes anos.

Trabalhou no “Diário do Minho”. Isso marcou-o?
Foi uma experiência que me proporcionou um contacto mais directo com a imprensa escrita e com a comunicação social em geral, âmbito e dimensão fundamental para a vida da Igreja e para a sua missão pastoral no mundo actual, que vive em constante vertigem. Já ninguém duvida da importância dos “media”, e a Igreja não lhes pode, de forma alguma, passar ao lado. Mas também apreciei o meu trabalho na Oficina de S. José. Lá encontrei rapazes que, apesar de todo um saldo negativo ao nível dos afectos e da família, me ensinaram que a vida vale sempre a pena, que há sempre luz e esperança, horizonte e meta.

Vai ser ordenado padre num momento difícil da Igreja, não só pelos escândalos recentes, mas também pela constante mudança, pela perda de sentido de Deus na sociedade...
Reconheço o tempo difícil que a Igreja vive. Não o olho com fatalismo, mas com esperança. É o exemplo de Jeremias que consegue ver o ramo de amendoeira a florir, quando tudo à volta é lama, lodo, destruição e invernia. A crise é oportunidade para pensarmos melhor, para discernirmos os melhores caminhos. Apesar de estarmos num tempo em que muita gente coloca Deus de lado porque se sente auto-suficiente e endeusada, olho-o com optimismo e como desafio. Criticada a Igreja sempre será. É a sua sina. Porque Deus, na pessoa do Filho, foi e é criticado. Não é isso que me assusta. Se algo me assusta é o comodismo das pessoas, clérigos e leigos, particularmente. Recordo as palavras do Papa a caminho de Portugal: “Os inimigos estão no interior”. É isto que temos de pensar, é isto que temos de combater. A Igreja é sempre derrotada aos olhos do mundo. Mas Deus continua a confiar e a apostar nela. Se assim não for, não faz sentido. A Igreja, aliás, nasce da derrota, do escândalo da cruz. Aos olhos do mundo, como é que a cruz pode ser vitória? Só aos olhos de Deus e da fé, podemos olhar a cruz como sinal de salvação, porque o Crucificado é o Ressuscitado. Aí está a nossa esperança, é aí que somos (estamos) salvos.

Como vê o ministério do padre? É importante o sacerdócio ministerial?
A missão do padre passa por deixar ver em si mesmo Deus. O padre deve ser transparência de Deus. As pessoas devem ver Deus através do padre. Naquilo que ele é: pessoa, humano, imperfeito, limitado, frágil, vaso de barro, mas entregue, dado, oferecido a Deus, todo inteiro. O ministério sacerdotal não é importante em si mesmo. É-o na medida em que Deus é importante. Deus é que é importante e fundamental. Se assim não for invertemos as prioridades: e a prioridade é Cristo e o seu Evangelho, enquanto o sacerdócio (baptismal ou ministerial) é instrumento para que Deus seja e esteja no mundo, nas pessoas. Não quero ser padre “porquê”. Quero ser padre “para quê” e “para quem”. Quero ser padre, em primeiro, para Deus e, depois, para quem mais precisar.

Tem algum lema ou frase inspiradora?
Escolhi, com os colegas que serão ordenados comigo, como lema da ordenação uma frase inspirada em S. Paulo: “Tudo faço por causa do Evangelho”. Para a Missa Nova escolhi a frase dos Actos dos Apóstolos: “Recebereis a força do Espírito Santo e sereis minhas testemunhas até aos confins do mundo”.
Uma e outra têm como pano de fundo uma das minhas citações preferidas de Santa Teresinha do Menino Jesus: “Queria percorrer a terra, pregar Teu nome, implantar no solo infiel a Tua cruz gloriosa, mas, ó meu Bem Amado, uma missão só não me bastaria. Quereria, ao mesmo tempo, anunciar o Evangelho nas cinco partes do mundo, e até nas ilhas mais longínquas. Quereria ser missionário, não apenas durante alguns anos, mas quereria tê-lo sido desde a Criação do mundo até à consumação dos séculos”.

Para terminar, fale-nos dos seus gostos pessoais.
São muitos os meus gostos pessoais. Gosto de ler e escrever. Leio de tudo um pouco: desde o jornal à revista, ao livro de teologia ou ao romance. Ou poesia, que é um dos meus amores. Gosto de ler simultaneamente vários livros e procuro retirar deles aroma e seiva para a minha vida. Também gosto de escrever. Poesia em particular. Procuro partilhar o que escrevo, não pela qualidade que veja nisso, mas porque o que eu acho que não tem valor nenhum pode ajudar outras pessoas, uma vez que gosto de escrever sobre as minhas situações e circunstâncias de vida e a forma como eu as encaro e procuro superar. Aproveito este meu gosto ao nível dos blogues e das redes sociais. Escrevo frequentemente no meu blogue pessoal (www.caritasdei.blogspot.com). Dos meus rabiscos poéticos, fizeram uma pequena publicação que serviu para assinalar os onze anos da elevação da minha terra natal a vila. O opúsculo chama-se “Meu Deus”. Está esgotado. Primeiro, porque se produziram poucos, segundo, porque ofereci muitos, mas, principalmente, porque não houve procura que justificasse nova edição… Também gosto de música. De ouvir, particularmente portuguesa, de todos os estilos e tempos, mas também de me aventurar, na viola ou no piano, a compor, rudimentarmente, algumas coisas. A estas chamo-lhes os meus devaneios… Gosto, por efeito (ou defeito!) de formação, de música clássica, claro está! Gosto de desporto. De todo. De ver e de jogar. Aprecio mais o desporto-rei. E porque sou natural da cidade-berço de Portugal não é preciso dizer qual é o meu clube… Amante e sócio! Mas há uma outra equipa, clube, ou associação, o que se quiser dizer, que é de quem quiser fazer parte e não se quer preocupar com quotas: a Igreja de Cristo. Nesta milito todos os dias.



Clipping da minha ordenação


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