11 de novembro de 2008

Praxe: humilhação ou integração?




Na passada terça-feira, dia 4, pelas 21h30, o CAB (Centro Académico de Braga) deu início a uma actividade intitulada “Bate Papo Universitário”. O objectivo desta iniciativa é uma aproximação efectiva à academia minhota, situada a distantes léguas do espaço sede deste Centro Universitário. Decorreu este evento no Puzzle Bar na rua Nova de Santa Cruz, bem próximo do contexto universitário bracarense, e teve uma adesão bastante animadora: cerca de 70 estudantes.
O mote para o primeiro Bate-Papo foi a praxe. E não podia tocar num assunto mais sensível aos estudantes da Universidade do Minho nos últimos tempos. O verniz estalou com uma polémica reportagem que uma estação de televisão fez emitir e na qual apareciam imagens das praxes em Braga. A imagem negativa constantemente veiculada pela imprensa deu origem a um “blackout” da parte da academia minhota, quebrado especialmente nesta iniciativa. O “Papa” Rui Jorge, responsável máximo da praxe na Universidade do Minho, fez questão de estar presente, juntamente com o seu antecessor, António Carneiro, que foi um dos convidados destacados para o evento. Do outro lado da discussão encontrava-se Vítor Andrade Cunha, licenciado em Sociologia pela UM, e destacado membro de uma associação intitulada AGIR, que assumiu uma posição bastante crítica face à praxe.
Estavam lançados os dados para um debate, acicatado por um pequeno inquérito, efectuado uns dias antes na Universidade, que lançava as bases do diálogo. A maioria dos alunos referia-se à praxe como «integração», salvaguardando todavia o cuidado pelos “exageros”. Foi precisamente neste ponto que tocou Vítor Cunha numa das suas intervenções, aventando que as praxes podem ser por vezes demasiado «vexatórias», quase como «cópias das praxes que aplicavam aos recrutas no serviço militar». Num texto da sua autoria relatou muitas praxes exageradas, que envolviam cânticos sexualmente insinuatórios, e referindo que «não se pode falar em transmissão de valores» desta forma. Todavia, salvaguardou que acredita que um certo tipo de praxes, em que de facto se pratique a integração, onde não seja exercida coacção para que os alunos adiram, seria uma praxe a que ele mesmo assentiria.
Do outro lado da contenda reagiu António Carneiro, ressalvando que «só pode falar de praxe aquele que passou por ela», revelando que a preocupação daqueles que praxam é integrar os alunos e «isso é visível». Igualmente referiu que o cabido de cardeais existe para controlar as praxes violentas e exercer uma função de vigilância para que não aconteçam exageros que «acontecem sempre». Na questão dos palavrões insultuosos, António Carneiro fez questão de lembrar que o ministro actual elaborou uma directiva, para o presente ano lectivo, que pretendia alertar para o cuidado de um maior brio nas palavras usadas nas praxes, algo que «está a ser seguido pela nossa academia».
Esta posição foi fortalecida por Magda Pinheiro, membro do conselho de anciãos, que salvaguardou que muitos alunos se declaram anti-praxe por «motivos ideológicos» e não devido à violência das praxes, referindo também que «escutou muitos alunos» ao longo de seis anos, tentando prestar-lhes apoio quando se propõem a declarar-se anti-praxe.
O espírito académico foi igualmente referido como uma das virtudes da praxe, isto depois de se ter falado da academia coimbrã como um exemplo de tradição académica.
A última questão do debate, bastante participado pela plateia, cingiu-se sobre a recente polémica que se abateu sobre a academia minhota. A imprensa esteve em discussão. Frases como «não se pode tomar a árvore pela floresta» foram citadas para fortalecer a necessidade de uma imprensa coerente e independente. Este ponto foi fortalecido pelos dois convidados, apesar de antagónicos nas posições.
O diálogo terminou com um nítido convergir de posições, a favor de uma praxe que se quer integradora e ciente dos seus pergaminhos. Vítor Andrade Cunha, convidado que aceitou assumir uma posição incómoda, mas louvável, no debate, terminou referindo que são «mais os pontos que nos unem do que aqueles que nos separam», dando relevo ao espírito de escuta e reflexão a que se assistiu neste debate.
Duas horas depois o debate terminava com a sensação de que muito ficou por dizer, mas fortalecendo a importância que o diálogo e confronto de ideias tem para um efectivo progresso.

Texto de Rui Ferreira, SJ, publicado no Diário do Minho

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