2 de agosto de 2010

Missa Nova: a minha primeira de muitas...

Olá a todos.
Escrevo, em primeiro, para pedir desculpas pela minha "aparente" ausência...
Celebrei "Missa Nova" este domingo... O trabalho foi bastante, o cansaço muito, a alegria maior ainda...
Partilho convosco dois textos e uma imagem: uma fotomontagem, a homilia, e a palavra de gratidão...
É a minha homenagem a quantos permitiram que eu seja hoje o que sou.
Obrigado a todos. 

Homilia

Celebramos o 18.º domingo do Tempo Comum. Diante de nós temos uma palavra desafiadora, que produzirá o fruto necessário se a deixarmos ecoar no nosso coração e se tivermos a coragem de a levarmos para o concreto da nossa vida.
O Evangelho de Lucas que escutamos é muito mais largo e abrangente do que à primeira vista possa parecer.
Desenganem-se aqueles que pensam, porventura, que este texto, esta parábola, é uma seta aos ricos, aos que têm muitas posses e bens, materialmente falando.
Para Jesus não está em causa as posses de cada pessoa, os seus bens, as suas riquezas. Jesus está mais preocupado com a relação que estabelecemos com elas. Daí que, na Bíblia, não se fale tanto em pobreza/riqueza material, mas mais em pobreza/riqueza espiritual ou evangélica. Ou seja: não importa se temos muito ou pouco; importa como lidamos com o que temos.
Dito isto, desenganemo-nos nós que temos poucas posses, poucos bens, uma pequena conta bancária, ou mesmo nenhuma, poucos carros e poucas casas. Este evangelho é para nós, para todos. É para os que não têm isto e para os que têm isto e muito mais.
O que Jesus quer é que a nossa riqueza maior, o nosso tesouro a nossa melhor conta bancária seja Deus.
Tornar-se rico aos olhos de Deus, acumular tesouros no céu é a lição que Jesus nos quer ensinar neste evangelho.
Jesus quer que todos nós, ricos e pobres, sejamos desprendidos, desapegados, libertos.
Para Jesus a riqueza não é má em si mesma. Ponto primeiro. Os bens materiais não são intrinsecamente maus. O uso que fazemos deles é que é mau se servem para a auto-afirmação, a auto-dependência, a avareza, a soberba, o egoísmo e o fechamento em si mesmo, olhando apenas o seu umbigo.
Jesus quer-nos de mãos abertas, de braços estendidos para Deus e para os outros. Ele quer que o Seu e nosso Pai seja o tesouro maior e que os outros sejam tratados com dignidade, justiça e equidade.
Jesus apregoa, deste modo, o poder das mãos vazias, da humildade, da simplicidade, da pequenez. Tal como Ele viveu.
Irmãs e irmãos:
Qualquer um de nós, por muitos ou poucos bens que tenhamos, pode ser o “insensato” do evangelho.
O mestre ensina que há mais alegria em dar do que em receber. Claro que este dar tem a tradução suprema do dar-se, do doar-se, do oferecer-se gratuitamente, como Jesus o fez maximamente na cruz.
Deus não fica em si. Sai e dá porque se dá, dando o Filho para nossa salvação.
O poder de Deus é a humildade, o fazer-se pequeno: encarnando, o Filho faz-se igual a nós, a fim de, pela ressurreição, nos fazer igual a Ele.
Da encarnação à cruz, o poder de Cristo é um não poder. Ele que tudo podia apenas quis poder dar-se.
Por isso, a conversão da nossa vida passa por esta atitude de doação gratuita, fazendo-nos cada dia, imagem e semelhança de Deus.

Também as leituras de Coelet e de Paulo vão neste sentido.
O sábio do AT, autor do Eclesiastes, reflecte sobre a vida, sobre o seu sentido e finalidade. Contudo, não consegue chegar à conclusão magistral que o próprio Jesus faz no Evangelho.
Para Coelet tudo é ilusão, vaidade, oco, vazio, vento, vapor, sem valor. Só Deus dá sentido, só Ele é o sentido, a orientação, a finalidade, o horizonte, a meta, a felicidade.
Paulo, na segunda leitura, é mais desafiador uma vez que nos exorta a viver sempre à luz da Páscoa. O homem cristão é homem pascal, que passa com Cristo da morte à vida.
Os imperativos tornam este texto uma exortação. Paulo pede que percorramos o caminho pascal todos os dias.
Sim! A Páscoa tem de acontecer todos os dias na nossa vida. Não é verdade que apenas o Natal deve ser todos os dias. Com mais razão, para os cristãos, todos os dias devem ser Páscoa, porque todos os dias devemos morrer para o pecado e ressuscitar para a vida de Deus; todos os dias devemos morrer para o que é terreno a fim de aspirarmos e nos afeiçoarmos às coisas do alto.
Só assim, caros irmãos, seremos homens novos, pascais, ressuscitados, à imagem de Cristo que é tudo em todos.
Só assim Deus é o nosso tesouro.
Só assim acumulamos tesouros no céu.
Só assim estamos no caminho que leva a Deus.
Ousemos corrê-lo.

 
Palavra final de gratidão

A alegria que neste momento habita e inunda o meu coração não pode ser contida por nada nem ninguém. Sinto-me feliz, hoje, neste dia em que presido à missa de apresentação à comunidade cristã que me viu nascer, crescer, fazer-me homem, cristão e sacerdote.

Para aqui chegar o caminho foi longo, não apenas recto, mas não menos belo. Foi íngreme, sinuoso e pedregoso, mas não menos saboroso. Cheio de dores e cheio de encantos, cheio de pessoas e cheio de Deus.

Neste momento da celebração, resta-me uma palavra final de gratidão, que não se resume a esta palavra no tempo, mas que se abre à totalidade da doação do meu sacerdócio, no seguimento daquela Palavra única, eterna, definitiva e de vida – Jesus Cristo – que fez e faz diferente a história humana.

Esta palavra, faço-a não porque seja parte integrante de um eventual protocolo, não porque seja bonito e simpático e fique bem, mas porque é tradução do sentimento mais profundo e maior que me abarca neste momento e me faz exteriorizar o que sinto.

1.Deus quer!
Com o poeta eu digo que Deus quer! Deus quer assim. Deus chamou-me à vida, em primeiro, a ser cristão, em segundo, a ser padre, em terceiro. Com o fado português, posso dizer: Foi Deus! A Ele devo o que sei e o que sou. A Ele também me entrego, todo inteiro, para o servir a Ele, à Igreja e à Humanidade, nos irmãos que mais precisarem.

2.O homem sonha!
Como estreitos e dilectos colaboradores de Deus, devo o que sou aos meus pais, que me quiseram, me educaram, que tudo fizeram por mim. Tantos esforços, trabalho, empenho, alegrias e tristezas. A eles devo a minha vida e, por isso, a eles entrego e ofereço a graça do meu sacerdócio ministerial.

Com os meus pais, não posso esquecer os meus quatro irmãos: o Miguel, a Carla, o Rui e o Agostinho. Eternamente grato vos fico pelo esforço suplementar, a todos os níveis, que realizastes para que fosse possível a minha caminhada para o sacerdócio. Por isso, este dia não é só meu é vosso também.

Alargo a minha gratidão à minha muita família: meus tios paternos e maternos, meus primos em todos os graus, a meus padrinhos.

Permito-me evocar aqui todos os que, ao longo deste meu percurso, foram chamados a morar com o Senhor, na Jerusalém Celeste, particularmente os meus avós paternos e maternos e, ainda, mais recentemente, os meus tios paternos Joaquim e Artur. Por eles rezo aqui e agora, na certeza da sua intercessão por todos junto de Deus.

Com o tempo o conceito de família vai-se alargando e, à página tantas, começam a ter lugar nela, outros tantos amigos.
Se aqui os quisesse elencar a todos não me bastaria uma resma de papel. Tenho a sorte de ter muitos amigos que me dão o prazer da sua amizade. Abarco-vos a todos aqui presentes e lembro os que, justificadamente, não estão cá.
Mesmo assim gostaria de elencar alguns pela relevância que têm na minha vida.
Começo por aquele que foi, é e continuará a ser um ombro amigo, uma voz sonora e canora, uma mão terna a segurar e a acompanhar. Aquele que no bom e no mau, teve a palavra certa, desafiadora, realista, querendo sempre o melhor para mim. Obrigado Padre Fernando, pela amizade, pela paciência comigo, pelo testemunho de amor e fidelidade a Cristo e à Igreja, pelo exemplo e entrega ao Evangelho onde for preciso. Grato para sempre por tudo, na certeza de que continuamos unidos, apesar da separação.

Saúdo, neste momento, os Padres da Congregação do Verbo Divino, nomeados pelo Sr. Arcebispo, para as paróquias de S. Torcato, Gominhães e Gonça. Permitam-me fazer votos de um frutuoso trabalho apostólico entre nós, nesta porção do Povo de Deus que sabe e quer peregrinar rumo a Cristo.

Estendo a minha gratidão a todos os párocos da minha vida, desde o Pe. Arieira, que está em Deus, passando a todos os que estiveram depois dele, com especial referência ao Pe. João Alberto e ao Pe. Miranda. O primeiro, que encontrei mais tarde como professor, porque me inquietou e me fez perguntar “Porque não?”. O segundo porque me introduziu no Seminário Menor e porque me acompanhou naqueles difíceis primeiros tempos. Eternamente grato lhes fico pelo vosso serviço eclesial e pela vossa amizade.

Reconheço e agradeço o trabalho de tantos padres que de uma forma ou de outra me moldaram e me marcaram.

Agradeço à Arquidiocese, na pessoa do Arcebispo e dos seus bispos auxiliares, agradeço aos Seminários de Braga, Menor e Maior, e à Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa. A todos os que foram das equipas formadoras, os que são actualmente, aos reitores e directores, aos professores, aos orientadores espirituais, aos confessores. Obrigado pela paciência e pela pedagogia.

Quero lembrar aqui todos os meus colegas de curso, de percurso de formação, os do meu ano – alguns aqui presentes – e de todos os anos, os que hoje são padres e os que optaram e optam por outro caminho. Obrigado pela vossa amizade.

Mas, quero particularizar um. Um amigo mais novo, ou irmão mais novo, uma vez que me considera um irmão mais velho. Obrigado Zé Miguel, pelo dom da tua vida, a Cristo e à Igreja, já como diácono, depois como sacerdote. Obrigado pela estima que é mútua, obrigado pela presença sempre discreta e solícita. E se o meu caminho te impulsionou, de alguma forma, podes crer que, também o teu caminho impulsionou o meu, no serviço do Reino de Deus.

No meu percurso tive o prazer de contactar com muitas pessoas e muitas realidades. Não posso, por isso, deixar de evoca lugares simbólicos do meu caminho, quer durante quer depois do Seminário:
As paróquias onde durante anos a fio fiz visita pascal – Moure (Vila Verde) e Anais (Ponte de Lima) – bem como aos seus párocos, Pe. Sandro e Pe. José Oliveira;
As paróquias de Vila Nova de Famalicão onde fiz estágio pastoral – Brufe, Cavalões e Santo Adrião – e a sua equipa sacerdotal, actualmente formada pelo Pe. Paulino e Pe. Francisco, não esquecendo o Pe. Mário que vive na mesma comunidade onde o nosso diácono José Miguel fará estágio pastoral no próximo ano;
As paróquias da Sé Primaz e de S. João de Souto, onde durante dois anos, estive a trabalhar pastoralmente com o Cón. Manuel Joaquim e o Pe. Domingos Paulo;
A Oficina de S. José (Braga) onde, nos mesmos dois anos, convivi com rapazes formidáveis, marcados por histórias difíceis com um saldo afectivo negativo, mas que me ensinaram que a vida tem sempre horizonte e meta; não esqueço os alunos, os prefeitos, os directores e técnicos, os voluntários, os funcionários e hóspedes: obrigado pela amizade e pela presença;
Não esqueço, igualmente, o Jornal Diário do Minho, onde estive dois anos tentando ser jornalista, apesar de o não conseguir. Saúdo os seus responsáveis – a administração na pessoa do Cón. Fernando Monteiro, e a direcção na pessoa do director cessante, Pe. Miguel Pereira, bem como o seu novo director Prof. Doutor Silva Pereira, a quem desejo sucesso na nova tarefa. Saúdo, ainda, todos os colegas de redacção, fotocomposição, departamento comercial, gráfica e distribuição, bem como todo o pessoal de secretaria e recepção. O Evangelho é Boa Notícia de Deus e no DM tive a graça e a oportunidade de O anunciar de uma forma diferente, mas não menos bela.

Não pára por aqui o meu caminho, a minha saga, que em Outubro de 2009 me levou a outra diocese, a outro arciprestado, a outras paróquias.
Saúdo daqui a UPA – Unidade Pastoral de Águeda – as suas nove paróquias – Águeda, Barrô, Borralha, Castanheira, Macieira, Préstimo, Trofa, Lamas e Segadães. Saúdo a sua equipa sacerdotal e diaconal – os padres José Camões, Jorge Fragoso, José Carlos e Francisco Rebelo e os diáconos Augusto Semedo e Afonso Oliveira. Alargo a minha saudação ao arciprestado que tão bem me acolheu e acolhe e faço-o na pessoa do seu arcipreste, Pe. Júlio Grangeia, a todos os párocos, diáconos e a todos os cristãos que por lá peregrinam, como eu, rumo a Cristo.
Saúdo o Sr. Bispo de Aveiro, D. António Francisco, o pastor e o amigo, e nele saúdo toda a diocese que me acolheu durante este ano de estágio e que me acolherá, pelo menos, durante o próximo ano, como presbítero. Agradeço a hospitalidade, a generosidade e o sentido eclesial. Na certeza de que estamos na mesma barca, a remar na mesma ria, agradeço, por tudo.

Não nomeio aqui tantos amigos que sentidamente guardo no meu coração e que de tantas formas me ajudaram e apoiaram e são para mim exemplo e testemunho. Tende a certeza que o meu coração é muito pequeno para guardar tudo o que sinto por vós, mas é suficientemente grande para ter um lugar especial para cada um.

Não podia esquecer todos os que contribuíram para esta celebração e para este dia festivo na comunidade. A todos os movimentos da paróquia, à Irmandade de S. Torcato, na pessoa do Dr. Novais de Carvalho, à Junta de Freguesia, na pessoa do Dr. Bruno Fernandes, à Câmara Municipal de Guimarães, na pessoa do Dr. António Magalhães, a todas as instituições – Rancho Folclórico de S. Torcato, Rancho Folclórico da Corredoura, Centro Recreativo Cultural e Artístico de S. Torcato, ao Comando de Destacamento de Guimarães da Guarda Nacional Republicana, na pessoa do Capitão Amado, e ao Comando do Posto da GNR de Guimarães/S. Torcato, na pessoa do Ajudante Pires. Obrigado pela vossa presença e pelas manifestações de amizade.

Também todas as pessoas que se voluntariaram para ajudar na confecção e serviço do almoço que teremos a seguir no recinto em frente a este santuário. A todos o meu sincero obrigado.

Particularizo todos os grupos corais da paróquia que se uniram para animar esta Eucaristia e os Escuteiros que me acompanharam desde minha casa até aqui. Agradeço ao Fernando o trabalho e empenho colocado sempre, mas particularmente neste último mês. Agradeço também aos instrumentistas da Banda de Golães, ao Martinho e ao Fábio, pela preciosa colaboração.

Também aos acólitos, ao Grupo de Jovens, à Catequese. Obrigado.

3. A obra nasce!
Nunca somos obra acabada. Estamos constantemente em feitura, em realização, em devir. Com a certeza do vosso apoio e oração tenho a certeza que continuarei a nascer para Deus com cada irmão que renasce e ressuscita para Cristo. Ele é tudo em todos. É a força e o sustento. A Ele entrego meu sangue e meu suor. Nele me abandono. Nele sou e só assim serei. Obrigado a todos!

7 comentários:

  1. Parabéns Padre JAC pela sua ordenação sacerdotal, que o Senhor fortaleça cada dia mais a sua vocação e doação a Ele e o próximo.
    Seja firme, o Senhor o cubra de bençãos.
    Maria

    ResponderEliminar
  2. Neste momento ao dirigir-me ao JAC como Padre e depois de ler devagarinho para encaixar toda a riquíssima mensagem deixada, o meu coração pula de alegria e júbilo.
    Peço a Deus que fortaleça essa luz que brilha tão intensamente dentro de si e que, ainda que à distância, sempre senti nas muitas postagens suas.Ainda que à distância, também algo me dizia que estava perante um ser especial e escolhido. Por tudo o que foi consumado, os meus parabéns.
    Um abraço muito sentido em Cristo e Maria

    ResponderEliminar
  3. Parabéns. Meu coração se encheu de alegria ao ler cada plavra. Que benção!

    abraços fraternso,

    Gisele

    ResponderEliminar
  4. :)
    Louvado seja o Senhor!

    Gostei muito de ler cada palavra.

    Abraço grande em Cristo

    ResponderEliminar
  5. Zé António,
    que o Mestre que te chamou e chama a cada momento seja sempre o SENHOR da tua vida e te conceda a graça da Fidelidade a este projecto que abraçaste e que é verdadeiramente apaixonante!
    Recebe um abraço amigo de quem reza por ti e está unida neste ideal de SER em Jesus Cristo e de procurar ser manifestação da Sua presença para toda a Humanidade.
    Elisabete

    ResponderEliminar
  6. Pois! Que mais há para dizer, Pe. JAC?
    Que sou uma felizarda...um pouquinho"atrevida" mas feliz!
    Obrigada pelos momentos especiais vividos...
    Obrigada pela benção recebida...
    Ah!... e foi sempre um bom Jornalista! Eu sou testemunha.
    Um abraço.

    ResponderEliminar
  7. É verdadeiramente uma graça muito especial termos um menssageiro como o Padre JAC.

    Que Deus o cubra de bençãos e que a vontade do Pai seja feita
    Parabéns e um grande abraço
    Utilia

    ResponderEliminar

[A propósito da solenidade de Cristo Rei]

  “Talvez eu não me tenha explicado bem. Ou não entendestes.” Não penseis no futuro. No último dia já estará tudo decidido. Tudo se joga nes...