Celebramos o 25.º Domingo do Tempo Comum. Caminhamos a passos largos para o fim do ano litúrgico. A Palavra de hoje põe-nos a reflectir sobre o dinheiro e os bens materiais. Notemos, antes de mais que, no Evangelho, Jesus fala do dinheiro com uma frequência surpreendente. É porque precisamos de estar atentos quanto a isso. Sem terras nem trabalho fixo, a sua vida itinerante de Profeta dedicado à causa de Deus permite-lhe falar com total liberdade. Por outro lado, o Seu imenso amor aos pobres e a Sua extrema paixão pela justiça de Deus levam-no a defender sempre os mais excluídos.
Este Evangelho de Lucas apresenta-nos mais um passo de Jesus a “caminho de Jerusalém”. É uma palavra aparentemente difícil de compreender. Jesus instrui os discípulos, daquele tempo e de todos os tempos, acerca da forma como se hão-de situar face aos bens deste mundo. Para Jesus, o que está em causa é a busca do Reino de Deus. Jesus apela aos “filhos da luz”, em oposição aos “filhos das trevas”, para que sejam empreendedores na busca do Reino. Para tal, pede a habilidade e a sagacidade que o “administrador” do Evangelho usou. Jesus não louva a “má administração” ou até a “desonostidade” do administrador. Não! Jesus coloca-o como exemplo daqueles que querem segui-lo totalmente e de verdade e que são capazes de relativizar tudo o resto.
A mensagem essencial gira à volta da sábia utilização dos bens deste mundo: eles devem servir para garantir o bem mais duradouro que é o Reino de Deus, fazendo-nos recordar que todos somos administradores dos dons que Deus nos concede.
A primeira parte do texto (vers. 1-9) apresenta a parábola de um administrador sagaz e astuto. A parábola conta-nos a história de um homem que é acusado de administrar de forma incompetente (e talvez desonesta) os bens do patrão. Chamado a contas e despedido, este homem preocupa-se em assegurar o futuro. Chama os devedores do patrão e reduz-lhes consideravelmente as quantias em dívida. Dessa forma – supõe ele – os devedores beneficiados não esquecerão a sua generosidade e irão acolhê-lo em sua casa, em caso de necessidade.
Na cultura judaica, o administrador, actuando em nome do seu senhor não recebia remuneração, mas tinha uma comissão própria na execução das dívidas. Na prática, com esta atitude de perdoar parte da dívida, este administrador “mete uma cunha” junto dos devedores, a fim de garantir o seu futuro, após o despedimento.
Este administrador é, por isso, um exemplo pela sua habilidade e sagacidade: ele sabe que o dinheiro tem um valor relativo e troca-o por outros valores mais significativos – a amizade, a gratidão.
Jesus conclui a história convidando os discípulos a serem tão hábeis como este administrador (vers. 9): os discípulos devem usar os bens deste mundo, não como um fim em si mesmo, mas para conseguir algo mais importante e mais duradouro (o que, na lógica de Jesus, tem a ver com os valores do “Reino” de Deus).
Na segunda parte do texto (vers. 10-13), Lucas apresenta-nos uma série de “sentenças” de Jesus sobre o uso do dinheiro avisando os discípulos de todos os tempos para o bom uso dos bens materiais: se sabemos utilizá-los tendo em conta as exigências do “Reino”, seremos dignos de receber o verdadeiro bem, quando nos encontrarmos definitivamente com o Senhor ressuscitado.
O nosso texto termina com um aviso de Jesus acerca da deificação ou divinização do dinheiro (vers. 13): Deus e o dinheiro representam mundos contraditórios e procurar conjugá-los é difícil… Os discípulos são, portanto, convidados a fazer a sua opção entre um mundo de egoísmo, de interesses mesquinhos, de exploração, de injustiça e um mundo de amor, de doação, de partilha, de fraternidade.
Em tempo de grave crise económica, ninguém duvida que o mundo em que vivemos decidiu que o dinheiro é o deus fundamental e que tudo deixa de ter importância, desde que se possam acrescentar mais uns números à conta bancária.
Por dinheiro, há quem trabalhe doze ou quinze horas por dia, num ritmo de escravo;
Por dinheiro, há quem sacrifique a sua dignidade e exponha a sua intimidade, diante de uma câmara de televisão;
Por dinheiro, há quem venda a sua consciência;
Por dinheiro, há quem não tenha escrúpulos em sacrificar a vida dos outros;
Por dinheiro, há quem seja injusto, explore os seus operários, se recuse a pagar o salário do mês porque o trabalhador é ilegal e não se pode queixar às autoridades…
Diante disto, que exame de consciência fazemos? Ser escravo dos bens e do dinheiro é algo que só acontece aos outros? Talvez não cheguemos, nunca, a estes casos extremos; mas até onde seríamos capazes de ir por causa do dinheiro?
Tudo isto não significa que o dinheiro seja uma coisa desprezível e imoral, do qual devamos fugir a todo o custo. O dinheiro (é preciso ter os pés bem assentes na terra) é algo imprescindível para vivermos neste mundo e para termos uma vida com qualidade e dignidade… Mas, Jesus recomenda que o dinheiro não se torne uma obsessão, uma escravidão.
Não esqueçamos a valente denúncia do profeta Amós, na primeira leitura. Ele fala uma constante na história da humanidade. Há gente que engana os outros em proveito próprio. Cobram além da conta. Não conhecem a gratuidade: tudo é objecto de venda. Há gente sem escrúpulos que com a obsessão de acumular dinheiro passa por cima de tudo e de todos.
Que razão tinha e continua a ter o profeta Amós que se atreveu a denunciar a sociedade israelita do seu tempo (século VIII a.c).
O Profeta lembra-nos que Deus não esquece e não pactua com quem explora as necessidades dos outros, a miséria, o sofrimento, a ignorância. O nosso Deus não suporta a injustiça e a opressão. Ele não está do lado dos opressores, mas dos oprimidos; e qualquer crime contra o irmão é um crime contra Deus.
Se há entre os cristãos quem explora estes esquemas desumanos, quem oprime e explora os pobres (embora ao domingo até vá à missa, e faça parte dos movimentos de apostolado da paróquia e até dê quantias significativas para obras), convém que tenha isto em conta. “Deus não esquece nenhuma das suas obras”, mas, como também lembra Paulo, na segunda leitura, “Deus quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade”.
Esta palavra de hoje lembra-me uma história antiga:
Um dia alguém perguntou a um sábio:
- O que é que mais te surpreende na Humanidade?
O sábio respondeu:
- Os homens e as mulheres...
- Porque? – perguntou.
E o sábio disse:
Porque perdem a saúde para juntar dinheiro,
depois perdem dinheiro para recuperar a saúde.
E por pensarem tanto no futuro,
esquecem-se do presente
de tal forma que, acabam por não viver nem o presente, nem o futuro.
E vivem como se nunca fossem morrer...
e morrem, como se nunca tivessem vivido.
Pe. JAC
Já conhecia a resposta deste homem!
ResponderEliminarTenho-a afixada no meu local de trabalho,
para toda a gente ler :)