4 de novembro de 2008

Entrevista na Catequese da Sé



Cónego Manuel Joaquim Costa em entrevista, no Patronato da Sé
«Os Jovens não podem cegar nem ensurdecer»


O grupo de catequese (GC) do 7.º ano do Patronato da Sé, catequizandos e catequistas, entrevistou o cónego Manuel Joaquim (CMJ), pároco da Sé e S. João do Souto juntamente com o padre Domingos Paulo Oliveira, no âmbito de uma actividade entre catequeses. Depois de dois encontros a reflectir sobre o “Ser grupo com Jesus” nada melhor do que falar sobre a vida da paróquia com o responsável da comunidade que recebe por estes dias (de 6 a 9 de Novembro de 2008) a visita do Arcebispo de Braga. Desafios lançados aos jovens para uma vida positiva e manifestação da esperança na juventude foram pontos essenciais da conversa que ainda serviu para se aclararem aspectos relacionados com a vida sacerdotal.

GC – Tem o sonho de ser padre desde pequeno?
CMJ – Desde muito pequeno. Ainda não andava na escola e ia à catequese com os meus irmãos aos padres de Montariol, em Braga. Olhando para aqueles frades eu sentia dentro de mim uma grande vontade de ser padre. Embora não quisesse aquela coisa castanha que eles vestiam. Por isso, desde pequenino eu ia dizendo lá em minha casa que queria ser padre. E todos me gozavam e brincavam com isso. Envergonhei-me um bocado e deixei de falar no assunto. Só mais tarde, quando me preparava para a profissão de fé, é que ganhei coragem para falar com a minha mãe e dizer-lhe que queria ir para o Seminário.


GC – Arrepende-se de ter seguido esta vocação?
CMJ – Não, de maneira nenhuma. Nunca me arrependi embora não é fácil seguir este caminho. Se olharem a vida dos vossos pais também vêm que não é fácil ser-se casado porque surgem sempre problemas e complicações. A mim como padre é a mesma coisa. Há dificuldades mas nunca me arrependo e gosto de fazer o que faço.

GC – O que é que pensa dos jovens concretamente de nós?
CMJ – Penso que sois um luxo e tenho muita esperança em vós. Foi belo ter celebrado convosco a festa da fé, no ano passado, e é belo ver-vos agora aqui com vontade continuar a crescer de mãos dadas.


GC – Que actividades sugere aos jovens?
CMJ – Em primeiro lugar, peço que nunca se deixem cegar nem ensurdecer. Hoje há o risco, e particularmente na vossa idade, de cegar perante o ecrã da televisão ou da PSP ou do computador. Outro perigo é o de ensurdecer com o fones postos nos ouvidos. Nem se ouve o silêncio nem o barulho. Quando passo por gente da nossa catequese na rua, muito nem nos vê nem nos ouvem, porque cegaram e ensurdeceram. Isso é pena porque nós devemos falar uns com os outros, sorrir, cumprimentar, ser espontâneos. Os jovens devem valorizar o bom cinema, a boa leitura o bom desporto e também a participação muito alegre e muito simples na vida da paróquia, especialmente na Eucaristia.

GC – Gosta da sua vocação?
CMJ – Gosto muito. Foi muito bom eu ter feito a minha descoberta da vocação no Seminário junto com outros companheiros que hoje em dia estão espalhados por toda a arquidiocese. Continuamos ligados e amigos uns dos outros.

GC – O que é que entende por comunidade paroquial?
CMJ – É o conjunto dos baptizados que frequentam determinada paróquia ou se sentem ligados a ela. É a comum unidade no mesmo baptismo e na mesma vida em Deus que a todos nos assiste. A comunidade vive seguindo os conteúdos da Palavra de Deus e alimentando-se do amor fraterno.

GC – Na paróquia quem deve construir a comunhão?
CMJ – Todos temos uma responsabilidade essencial. Como num corpo quando algum membro ou órgão falha, todo o corpo falha. Assim é na Igreja. Todos nós somos membros vivos do corpo misterioso de Jesus. Todos os membros, mesmo que pareçam insignificantes, são essenciais na harmonia de todo o corpo. Se um membro sofre todo o corpo sofre. A Igreja, como corpo de Cristo, precisa de todos os seus membros para construir a comunhão. Claro que eu como padre estou ao serviço da união e da unidade de todos. Mas eu sozinho não faço comunidade nem comunhão. O padre precisa de muitos colaboradores.

GC – A união na Igreja é importante?
CMJ – É importantíssima. Nos tempos actuais, as pessoas devem olhar os cristãos sentirem-se interpeladas pelo seu modo de estar e de viver. Se os cristãos vivem desunidos é um sinal negativo e um mau testemunho.

GC – Como é que procura ser discípulo de Jesus?
CMJ – Em primeiro, de manhã, o meu primeiro pensamento é para Jesus agradecendo mais um dia que me dá. Assim, sintonizo o meu dia em Jesus. Unido a Jesus, procuro estar vigilante amando todas as pessoas que vêm ter comigo.

GC – Porque não escolheu ser frade?
CMJ – Olha, não sei muito bem. Alguma coisa me chamava para ser padre secular ou diocesano. Não senti que a minha vocação fosse para viver numa comunidade seguindo uma regra, como fazem os frades.

GC – O que significa Igreja?
CMJ – Significa uma assembleia convocada, um povo convocado e reunido por Deus para construir a fraternidade, a união, o bem e viver o amor. Ser igreja é o motivo que nos reúne aqui neste momento.

GC – A visita do Senhor Bispo à paróquia pode ajudar na construção da comunidade?
CMJ – Muito, porque o Bispo é o principal responsável pelas comunidades da arquidiocese, contando, é claro, com a ajuda dos párocos. Por isso, sentimo-nos felizes por o Bispo nos visitar como representante de Jesus. O Bispo vem confirmar o esforço que fazemos para crescermos todos como Povo de Deus.

Terminada a entrevista, houve um outro tempo em que os catequizandos fizeram outras perguntas ao cónego Manuel Joaquim Costa. Fazemos um apanhado das ideias que daí resultaram.

O dia do cónego Manuel Joaquim Costa é normal. «Como, bebo, durmo, trabalho». «Gosto de ouvir música mas não tenho muito tempo. Gosto de ver as notícias e bons filmes».
Vive no Patronato da Sé, onde tem um escritório e um quarto para dormir.
No percurso para ser padre teve «muito apoio e estímulo», nas, «no início, nem tanto».
O padre recebe um salário normal. «Depende das comunidades e do que elas possam pagar».
A vida sacerdotal é «bastante atarefada». «Há sempre muitas coisas para fazer».
Como é presidente da direcção do Patronato da Sé, às vezes tem que ir a tribunal resolver «alguns assuntos importantes da instituição».
«Não me chocava que um dia a Igreja viesse a dizer que não é essencial os padres serem celibatários». Mas «eu sinto-me bem como estou e como sou». «O celibato é o pedido que a Igreja nos faz para estarmos mais disponíveis para os outros e para Deus».
Na Igreja é importantíssimo o mostrarmos ao mundo Jesus, pelo testemunho de vida.

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