17 de abril de 2009

"Sentir", de Marco Gonçalves, em Braga

Amanhã à noite tenho a nobre missão de apresentar este livro, "Sentir", de Marco Gonçalves.
A poesia que toca Deus com os pés na lama.

Começa às 21h30, no auditório da Junta de Freguesia de S. Victor, em Braga




O que eu disse na Apresentação, transcrevo para quem quiser:



Apresentação de “Sentir”, de Marco Gonçalves

Houve um tal (Sócrates) que disse “Só sei que nada sei”; outro (Guitry), mais adiante, teve dita de escrever “ o pouco que sei devo-o à minha ignorância”. Pois é desta forma que me situo diante do poeta Marco Gonçalves que hoje tenho a dita e a responsabilidade de apresentar – a minha visão é claro! – a partir deste pequeno livro (os livros não se medem pelas páginas, tal como os homens não se medem aos palmos) que temos à frente e que tem por título “Sentir”.
Escrever sobre sentimentos é sempre subjectivo. Não sentimos todos do mesmo modo, não vivemos os mesmos acontecimentos da mesma maneira, nem valorizamos ou desvalorizamos todos as mesmas coisas. Este é o ponto de partida: o autor escreve sobre o seu sentir, e não sobre o meu ou o vosso sentir.
Não tenho conhecimento – a não ser a minha ignorância – para vos falar objectivamente do Marco. Com certeza, muitos de vocês conhecem-no melhor do que eu. Mas uma coisa posso e é essa que vou fazer: vou procurar mostrar-vos e revelar-vos o Marco a partir do que ele escreve neste opúsculo.
As palavras que escrevemos revelam-nos – como Deus se revela na Palavra encarnada, no Verbum, no Logos, no Dabar divino, que é Jesus Cristo.
Pois, também o Marco se revela no que escreve. E nós, leitores, temos a missão, de o conhecer nessa revelação. E é esse conhecimento – tal como o da Palavra de Deus – que cria relação, comunicação, comunhão.
Ao lermos “Sentir” conheceremos o Marco. Talvez não na forma como ele se quis revelar, mas mais na forma como aprendemos e apreendemos essa revelação.
Correndo sempre o risco de ser errada, deturpada ou distorcida deixo-vos a minha visão, o que eu conheci do Marco com a leitura, não tão pausada e mastigada como deveria ser, dadas as circunstâncias de última hora, mas que é aquilo que me ficou gravado, na memória e no coração.
1. As palavras são ora brandas ora severas, às vezes graves e escuras outras vezes quentes e apetecíveis. São assim os sentimentos. O Marco usa variedade, uma panóplia de vocábulos. É objectivo e conciso no que diz: em tempo de crise económica, é a chamada economia de palavras.
2. Há contudo – parece-me – uma linha condutora, um lugar comum: a infância. Achei curioso em 41 poemas, aparecer 23 vezes a palavra “infância”, ou então “criança(s)” e ainda “menino”. Pois, a minha conclusão: o Marco sente com olhos, com ouvidos, com mãos e com coração de criança. E sente-se bem com isso e, como tal, a ausência da infância é uma “triste lembrança”. Esta leva o autor a pedir com fervor, como quem reza, “a não injustiça de ser homem sem ser criança”.
Isto leva-me a concluir que a “infância” seja para o autor um tempo de felicidade, um tempo que marcou positivamente e que ficou marcado, com selo quente, nas entranhas e no coração.
Esta não é uma infância temporal, mas mais do que isso: será, em meu entender, um estado permanente de sonho, de descoberta e de caminho, de abertura à novidade e simultaneamente à transcendência e à humanidade, de simplicidade, de pureza, de utopia, de sentimento, de ternura, carinho e amor.
Será, em certa maneira, aquela infância que Deus quer nos adultos ao dizer, pela voz de Cristo, no Evangelho: “Se não vos tornardes como crianças, não entrareis no Reino dos Céus”.
Esta é uma infância bíblica, de não auto-suficiência, de dependência, de quem como filho se abandona confiante nas mãos do Pai, o do Céu, que também é Mãe.
É uma infância duradoira, como modus vivendi permanente, que se abre ao futuro sem esquecer o presente, que é o futuro que nos é dado viver.
3. Se todos fossem meninos, se fossem crianças e cantassem as canções da infância, então a UTOPIA era possível, tudo seria fértil, as sementes seriam árvores e tudo daria fruto. Mas, nem sempre é assim: há escuridão, trevas e sombras. Todavia, abre-se lugar à esperança e o desejo de retorno e regresso à idiossincrasia da infância – o “retornar ao ventre morno” – permitirá uma vida com sentido, com finalidade, aberta aos outros e a Deus.

4. Um livro, o primeiro de Marco Gonçalves: uma meditação teológica e poética. Permite-me, contudo, discordar quando dizes que “alguns versos meus tocam em Deus, mas os meus pés permanecem na lama.”. Gosto da frase e percebo-a, mas atrevo um comentário: por muito que tentemos, nunca conseguiremos dizer Deus, porque Ele está além, para lá (meta) daquilo que possamos dizer, e, por isso, a conclusão final, apesar de todas as tentativas, será que Deus é mistério.
Conheces e lês os grandes místicos, cristãos ou budistas ou hinduístas, mas penso, como tu pensas, que nem eles conseguiram dizer Deus plenamente.
Contudo, gosto dessa atitude de estar com os pés na lama, ou seja com os pés no mundo, atento e conhecedor da circunstância que nos é dada viver. Só quem está na lama consegue levar a Deus o mundo que habita, e o Marco faz isso e fá-lo bem.
Espero que o continues a fazer em muitos poemas e versos, que se farão livro, com os quais nos vais voltar a brindar.

José António Carneiro | 18 de Abril de 2009

3 comentários:

  1. olá eu também fui a apresentação,e gostei do modo como a derigiu,os barulhos do micro ficam sempre bem,correu tudo bem.*

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  2. Espero que tenha corrido tudo muito bem.

    Abraço amigo em Cristo

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  3. obrigado Margarida

    ainda bem que esteve presente

    Obrigado Joaquim, pela força.

    Correu bem

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