22 de novembro de 2012

Fé e memórias do leigo que falou no Concílio





Não é descabido, nem pela riqueza de pensamento nem pelo testemunho de fé, ler e ouvir o filósofo Jean Guitton. Acresce a isto o facto de este ser, até ao momento, em toda a história da Igreja, o único leigo a quem foi dada a palavra num Concílio. Em pleno Ano da Fé, que assinala os 50 anos da abertura do Vaticano II, no qual usou da palavra, eis mais uma razão para ler. Sugiro uma entrevista concedida à jornalista italiana Francesca Pini, que dá origem ao livro com o título “No coração do infinito”.
Do alto dos seus 96, na altura em que concedeu esta entrevista (Jean Guitton faleceu em março de 1999, com 97 anos) o filósofo francês não se envergonha de falar da sua fé, e de dizer que acreditar é diferente de saber e de compreender; ao invés, acreditar é aderir na noite. Sempre procurando aproximar fé e razão, mas sem deixar de lado o seu catolicismo, chega a dizer: “O fundamento da minha vida de filósofo foi ajudar as pessoas a optarem por um Deus criador em vez do panteísmo”.
Amigo pessoal de Paulo VI, confessa, a certa altura deste livro, que depois de ter ficado viúvo, a mando de um dos confessores, foi a Roma dizer ao seu amigo: “Agora que a minha mulher morreu, gostaria de me fazer padre”. Ao pedido do amigo, Montini respondeu: “Segunda-feira diácono; terça-feira, padre; quarta-feira, bispo; quinta-feira, cardeal; sexta-feira, papa.” E, termina Guitton, comentando o momento à jornalista: “Troçou de mim”!
Com liberdade de espírito, abertura, franqueza, lucidez, sabedoria, mística e fé, eis Guitton à nossa mercê, para ser lido e apreendido, enquanto homem, filósofo, místico e, acima de tudo, cristão até ao fim!

In Correio do Vouga, 22/11/2012


Pe. JAC

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