30 de janeiro de 2009

Paulo de Tarso, quem és tu?(3)

Bispo do Porto apresentou
tópicos pastorais para a Igreja


A partir da teologia de São Paulo, D. Manuel Clemente apresentou ontem alguns tópicos pastorais para a agenda da Igreja, particularmente ao nível da nova evangelização, da mobilidade dos cristãos e da territorialidade das paróquias.
A pouca popularidade do Apóstolo das Nações entre os cristãos, a sua actividade evangelizadora marcadamente pascal e a acentuação da argúcia de Paulo, quer do ponto de vista da geografia física quer humana, no trabalho pastoral, foram aspectos relevados pelo Bispo do Porto, no Auditório Vita, a cerca de duas centenas de pessoas.
Dando nota do gosto pela presença na Arquidiocese de Braga, D. Manuel Clemente estruturou a sua intervenção, em alguns pontos, na linha do tema previsto (“Tópicos actuais de uma pastoral paulina”) e começou por destacar que a celebração do Ano Paulino deve servir para tirar tópicos que ajudem à própria acção pastoral da Igreja.
«São Paulo não é um santo popular, tal é a força dos seus escritos e a veemência das suas convicções», disse, destacando, por exemplo, que na diocese do Porto existe apenas uma paróquia que tem o Apóstolo por padroeiro e uma igreja a ele dedicada.
«Podemos estar 2000 anos depois da Páscoa, mas ainda estar antes dela», defendeu. Num registo sempre pastoral, o Bispo do Porto disse que «tudo o que se refere à iniciação cristã e à vida da Igreja e tudo o que define o ser cristão tem em São Paulo um ponto de partida absoluto: Cristo morto e ressuscitado».
Para o prelado, nada pode dispensar a Igreja dos dias de hoje de apresentar o mesmo que Paulo: Cristo e o seu mistério pascal.
«Foi pascalmente – continuou D. Manuel Clemente – que os tessalonicenses assumiram o destino de Cristo e de Paulo em verdadeira imitação deles» e, desse modo igualmente pascal, se fizeram seguidores e testemunhas.
«Conversão e espera» são duas notas que devem definir as comunidades cristãs dos dias de hoje, notou o prelado, a uma plateia totalmente rendida à intervenção.
Defendendo que os desafios pastorais de hoje são exigentes como os de Paulo foram, D. Manuel Clemente afirmou: «Cristo não “ajuda” a efectivação das nossas esperanças e desejos como o fariam os deuses de antes e de hoje, mas, muito pelo contrário, Cristo constitui-se como nossa esperança e nosso desejo».
Por isso, «manter e avivar a tensão escatológica das comunidades cristãs é um tópico tão paulino como indispensável», frisou o prelado, que confindenciou já ter tido a vontade de em celebrações eucarísticas interromper o rito nas expressões “Vinde, Senhor Jesus!” ou “Enquanto esperamos a vinda gloriosa de Jesus Cristo Nosso Salvador” e inquirir se é mesmo isso que cada um quer.
Esta atitude da esperança cristológica «não passa por iludir problemas, mas preenchê-los com a esperança de quem vive agora do fim para o princípio», à luz da Páscoa de Cristo.
Segundo o Bispo do Porto, a «maior urgência pastoral de hoje é proporcionar a quem nos procura, com a veemência e o afecto de Paulo, a oportunidade de vislumbrar o que a sua existência pode ser se for a de Cristo em si, apurando o desejo e realizando a esperança».
Isto mesmo faz com que «os actos habituais se tornem em hábitos pastorais», já que antes disto «temos conversa religiosa, senão entretenimento religioso», afirmou.

Territórios vão além da geografia física
Apoiado nas estratégias seguidas pelo Apóstolo no anúncio do Evangelho, quer em relação à geografia física quer humana, D. Manuel Clemente defendeu a necessidade da criação de «comunidades móveis» e de novas formas de a Igreja trabalhar em rede.
«Toda a nossa pastoral assenta ainda e sobretudo em bases territoriais, mas hoje os territórios vão muito além da geografia física», disse. A inspiração paulina deve ajudar a encontrar os novos pontos-chave para a evangelização, como as famílias e associações, entre outras.
«A nova evangelização, como a primeira, não se fará por ocupação maciça do espaço, mas por expansão dinâmica das vivência e convivências», defendeu. «Uma ou mais famílias num bairro, um movimento numa escola ou num movimento sócio-profissional, uma presença nos media ou na internet corresponderão às cidades escolhidas pela argúcia e perícia de Paulo» na sua evangelização, afirmou o presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais.
A este respeito, o prelado sugeriu que dioceses e paróquias em geral vivam e convivam mais em rede e em colaboração. Nesta linha, também os agentes de pastoral deverão colocar-se em atitudes de cooperação eclesial, como um corpo unido.

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