18 de janeiro de 2012

Janeiro, mês da Paz e da Unidade - Feliz coincidência ou reforçado apelo?

  

Cada início de ano é uma oportunidade para mergulharmos na essencialidade das coisas, da vida e da fé. No mês que começa com o Dia Mundial da Paz, decore também a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. Feliz coincidência ou necessário e reforçado apelo a cada um de nós?
A vivência da fé cristã impele-nos a fazer cada dia a viagem àquilo que vale, que conta, que tem valor. Logo no primeiro mês do ano civil somos desafiados a regressar à pátria da unidade e da paz, através destas duas celebrações. Na prática, trata-se de realizar, de refazer o mergulho na nossa fundação enquanto Igreja.
Não nos podemos dispensar, enquanto Igreja, sonhada por Deus, fundada por Cristo, de reconhecer que a falta de unidade entre os cristãos é um pecado grave, no meu entender, o mais grave que poderemos cometer.
Não me refiro apenas e só aos infelizes cismas, às terríveis separações que historicamente foram acontecendo com o passar dos anos por aqueles que professam a mesma fé em Jesus Cristo. Felizmente, vamos vendo e lendo sinais, réstias de luz e de esperança, de uma desejada e almejada unidade.
Refiro-me, aqui, muito expressamente à divisão que acontece todos os dias dentro da Igreja Católica Apostólica Romana, da Igreja que somos, através das nossas palavras e atitudes de exclusão, de marginalização, de indiferença, de falta de acolhimento. Não se trata de reconhecer a divisão nos e dos outros. Trata-se efetivamente de reconhecer a divisão que cada um de nós produz. Quantas vezes geramos desunião e não comunhão, rancor e não amor, antipatia e não simpatia!
A fé cristã, fundada em Cristo, que passou na terra fazendo o bem, faz-nos viver e estar neste mundo como peregrinos. Aquilo que a Carta a Diogneto tão bem expressou, nos finais do século II: Os cristãos “habitam pátrias próprias mas como peregrinos; participam de tudo, como cidadãos, e tudo sofrem como estrangeiros. Toda a terra estrangeira é para eles uma pátria e toda a pátria uma terra estrangeira”. Como cristãos, precisamos de reassumir que a única comunidade em que podemos realizar-nos é a humanidade reunida em Cristo, que é Aquele no qual toda a Criação se reúne.
Como escreve Timothy Radcliffe: “Deus é Aquele no qual ninguém fica à margem, porque o centro de Deus está em toda a parte e a sua circunferência em parte nenhuma. É na vastidão de Deus que estaremos completamente à vontade, porque todos lá estarão. É assim que sou/estou em Igreja?”
“Todos seremos transformados pela vitória de nosso Senhor Jesus Cristo” (Cf. 1 Cor 15, 51-58). Este é o tema proposto para a celebração da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos deste ano, entre 18 e 25 de Janeiro.
Acreditamos como verdade fundacional da nossa fé em Cristo que Nele somos transformados. Mas, a partir de Cristo, também podemos e devemos transformar-nos diariamente, convertermo-nos gradualmente. Não nos podemos escusar de dar passos de unidade afetiva e efetiva no seio das nossas comunidades, das nossas paróquias, do nosso presbitério, da nossa diocese.
Assim sendo, ainda resulta mais premente a temática pastoral diocesana. Somos mesmo fraternidade de famílias? Somos muitos membros. Será que somos UM Corpo? Com certeza que nos vamos esforçando, mas ainda não o seremos na devida expressão. Não cruzemos, por isso, os braços, pensando que estamos bem como estamos. Ousemos a diferença! Ousemos a coragem! Ousemos ir de novo à pátria da unidade e da paz, baseada na unidade perfeita da Trindade, que não exclui a diversidade nem a alteridade. Ousemos ser um!
Outro belo sonho de Deus para nós! Ser um connosco e em nós e sermos um com todos os outros!

José António Carneiro
Padre. Vigário paroquial da Glória
Publicado no Jornal Correio do Vouga de 18/12/2012

1 comentário:

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