José Manuel Pureza e Teresa Martinho Toldy em Braga
Espiritualidade do século XXI
é a mesma de sempre
Texto e foto: José António Carneiro
A espiritualidade para o século XXI é a mesma de sempre. Foi desta forma que José Manuel Pureza iniciou a sua intervenção no âmbito do VIII Ciclo de Conferências promovido pela Fundação Bracara Augusta, com o tema “Globalização: desafios para o século XXI”. Anteontem à noite, na Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, aquele docente da Faculdade de Economia de Coimbra, juntamente com Teresa Martinho Toldy, apresentaram ideias para “Uma espiritualidade para o século XXI”. Alfredo Dinis, director da Faculdade de Filosofia da Universidade Católica Portuguesa (UCP), moderou o debate, que contou ainda com a presença de Rui Madeira, administrador delegado do Theatro Circo, para o momento de abertura que constou da leitura de um excerto do “Livro do Desassossego” de Fernando Pessoa.
José Manuel Pureza, que é investigador na área dos Estudos Sociais, deixou aos presentes no auditório alguns tópicos daquilo que considera ser uma «espiritualidade fecunda». Para o docente, «esta espiritualidade é a mesma de sempre» e «não convida à alienação, mas desafia à desinstalação e ao compromisso». Apoiado na ideia de que a espiritualidade tem a ver com a vida real e concreta das pessoas, defendeu que «uma espiritualidade que não ajude a transcender as pessoas do lodo e do lamaçal em que andam tantas vidas humanas não será uma espiritualidade fecunda».
O orador denunciou uma «espiritualidade anti-stress» e uma «espiritualidade de fuga», especialmente prolixa em publicações e propostas comerciais que visam buscar «a paz interior e as boas sensações», e «até nas estações de serviço se encontram».
Antes, porém, a doutorada em Teologia, na Alemanha, já havia denunciado um «abuso contemporâneo do termo espiritualidade que aparece muito ligado ao esoterismo».
Concentrando a sua intervenção no âmbito da tradicional teodiceia, Teresa Martinho Toldy afirmou que a questão da espiritualidade se tem de ligar à questão do mal, do sofrimento e do sentido. Fundada no pensamento de teólogos como Metz e Eli Wiesel (este segundo foi Nobel da Paz), disse que o humano tem como que uma «necessidade de ver o invisível».
Citando o exemplo bíblico de Job, a professora de Ética, na Universidade Fernando Pessoa, considerou que Deus pode ajudar a suportar o sofrimento àqueles que acreditam, mas rejeitou a ideia de um Deus que põe à prova por meio da dor e do sofrimento. Nesse sentido, Teresa Martinho Toldy afirmou que «um Deus que se identificasse com o Holocausto não seria Deus, mas um demónio».
Em tempo de debate, José Manuel Pureza recusou ver a «fé como um analgésico». Respondendo a uma inquietação vinda da plateia sobre uma experiência científica que mostrou que os crentes suportam mais a dor do que os não crentes, este investigador opôs-se à ideia da fé como «analgésico», que é o mesmo que dizer «ópio». E concluiu: «a fé pertence a outro domínio».
Na próxima sexta-feira, dia 17, será a vez de Alexandre Quintanilha, Maria Eduarda Barros Gonçalves e Eduardo Jorge Madureira participarem neste ciclo de conferências.
in DM, 12/10/08
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