5 de março de 2009

Director técnico da Oficina de S. José




«Equipa estável e coesa
é o segredo do nosso trabalho»

O lar de Infância e Juventude da Oficina de S. José tem actualmente 45 crianças e jovens acolhidos e está totalmente lotado e com lista de espera. Serafim Gonçalves (SG) é director técnico da instituição de há mais de uma década para cá e contou ao Diário do Minho (DM) os traços fundamentais desta casa que está a comemorar 120 anos de existência. O projecto educativo, as actividades, os recursos humanos e as parcerias são alguns assuntos abordados pelo director técnico que é limiano, casado e pai de uma criança com três anos. Destacando a seriedade do trabalho realizado na Oficina de S. José, falou de novos projectos em curso – concretamente o “DOM” e a implementação dos Sistemas de Gestão de Qualidade – e deu conta ainda dos sonhos que tem para a instituição. A reconstrução do actual edifício ou a construção de um novo espaço está à cabeça das preocupações, mas o grande sonho continua a ser que todas as crianças e jovens acolhidos sejam felizes no tempo que passam na instituição.

DM: Quais são as linhas mestras do projecto educativo e a orientação pedagógica seguida?
SG: A oficina de S. José é uma instituição que educa há 120 anos a esta parte. Durante os tempos foi-se ajustando aos novos paradigmas educacionais. O nosso processo educativo assenta, essencialmente, na perseverança, em criar laços afectivos fortes com as nossas crianças e jovens e desenvolver o nosso trabalho de forma profissional. Para atingirmos os resultados pretendidos torna-se imprescindível o trabalho em equipa. A pedra basilar de toda e qualquer educação é o trabalho em equipa, onde valores como a solidariedade, o respeito, a coesão, a sinceridade e a honestidade estão presentes.
O projecto educativo da instituição designa-se: educar para a afectividade. Isto porque consideramos que a educação que não passa por ligações afectivas estáveis e fortes tende a ser muito frágil.
Por isso, delineamos quatro grandes objectivos gerais que tentamos perseguir: valorizar as potencialidades da criança ou jovem, reforçar a interacção entre educandos e comunidade educativa, aprofundar a relação entre criança, família e instituição e, finalmente, alargar a intervenção junto das famílias.
Em relação a este último objectivo convém reforçar que é uma aposta da instituição, já que é fundamental ultrapassar as debilidades existentes, em meio familiar, para que se afigure possível o regresso, em tempo útil e de forma adequada, das crianças e dos jovens às suas famílias biológicas.

DM: Como acontece a admissão, o acolhimento e a integração dos utentes?
SG: Recebido o pedido das entidades competentes é analisado em equipa e se tivermos vaga e se for considerada pertinente a integração da criança/jovem comunica-se à entidade responsável do pedido que agende uma pré-entrevista com os familiares, o menor, os técnicos que acompanham o processo e os técnicos da instituição.
Nesta reunião pretende-se criar empatia com o menor para que ao chegar à instituição, esta não lhe seja totalmente estranha. Além disso, do ponto de vista técnico, tiram-se as primeiras informações relevantes, para se delinear linhas estratégicas de intervenção. Neste encontro dialoga-se sobre quais os direitos e deveres da criança/jovem e da própria família.
Há casos extremamente urgentes e aí temos de ser flexíveis e sabermo-nos ajustar às situações.
No que respeita ao acolhimento e integração promovemos alguns mecanismos que visam uma melhor integração num novo meio. Assim, no primeiro dia da chegada de uma nova criança/jovem ao lar e com a colaboração da Equipa de Acolhimento (composta por meninos da instituição) presente nesse horário, faz-se a apresentação aos menores que se encontram no lar e integra-se na actividade que estiver a decorrer. A apresentação ao grande grupo faz-se no período em que todas as crianças estão na instituição, através de uma dinâmica de “quebra-gelo”.

DM: O que se destaca de um plano anual de actividades?
SG: Todo o plano de actividades é elaborado, definido, aprovado e implementado de acordo com o projecto educativo. O tema deste ano é “Criar laços com futuro”. Importa referir que para todas as actividades há objectivos bem delineados, dos quais se faz posteriormente avaliação, em equipa, sobre se foram ou não atingidos.
Na instituição, temos as actividades desenvolvidas por vários grupos de Desenvolvimento Pessoal e Social: grupo de teatro, grupo de música popular, aulas de piano e grupo de expressão plástica. Realizam-se, também, várias actividades desportivas.
Durante o ano salientam-se como momentos mais marcantes as festas de Natal e S. José, nosso padroeiro. A colónia de férias é outra das iniciativas que fazemos todos os anos, durante 15 dias, em Apúlia, e na qual se pretende, além da interacção e convívio entre educadores e educandos, fazer o acolhimento e uma primeira integração dos novos utentes.
Todos os meses, há uma acção de formação previamente definida, direccionada para as crianças/ jovens, monitorizada por técnicos da instituição ou por especialistas convidados.
Ao longo do ano realizam-se, ainda, muitas outras actividades no exterior da instituição, que passam pelo lazer e pelo desporto e que visam o crescimento integral dos nossos utentes.

DM: Quais são os recursos humanos da instituição?
SG: Na valência do lar de Infância e Juventude trabalham na Oficina de S. José, sete elementos na equipa técnica e quatro na equipa educativa.
Todos estes elementos são formados na área das Ciências Sociais e Humanas. Há, ainda um grupo de auxiliares, em vários sectores, que colabora de forma inexcedível para que nada falte aos nossos meninos. São também verdadeiros educadores.

DM: A casa tem a colaboração de outras pessoas externas. Como é o trabalho dos voluntários?
SG: Ao longo dos anos, apraz-nos reconhecer, sempre houve gente disponível para colaborar e trabalhar com as nossas crianças e jovens. Colaboram nas actividades lúdico-recreativas e no acompanhamento do tempo de estudo dos nossos educandos, mas acima de tudo pretendemos que sejam uma referência positiva na vida dos menores.
Regra geral, é gente que "veste a camisola", isto é dedica-se à causa, normalmente durante vários anos. Isto passa-se, por exemplo com professores aposentados, jovens estudantes e outros profissionais que fazem questão de passar cá algumas horas por semana, e dar de si para ajuda dos menores que nos estão confiados.

DM: Quais são as valências da instituição?
SG: Actualmente, e no que respeita à área social, são duas as valências que a Oficina de S. José dispõe: lar de Infância e Juventude e ATL. No lar estão 45 utentes, na sua grande maioria provenientes do distrito de Braga (apenas um é do distrito de Viana do Castelo).
Sobre a valência do ATL nem é preciso dizer muito. Todos sabemos que este, como muitos outros, está em lenta agonia.

DM: Como é o dia-a-dia da instituição?
SG: A vida no interior da instituição assemelha-se de alguma forma à vida familiar.
De manhã acordamos e cuidamos da higiene pessoal. Depois toma-se o pequeno-almoço e cada um segue a sua vida: escola ou trabalho.
Os menores que têm tempo livre no horário escolar ficam na instituição para realizar actividades ludico-formativas.
Ao fim da tarde realizam-se as actividades previamente definidas, seja dentro seja fora da instituição.
O jantar é verdadeiro momento de encontro e é precedido de um “ritual” de breve encontro para fazer alguma avaliação sobre o dia, pondo em comum experiências e vivências.
O ritmo de fim-de-semana, tal com em todas as famílias, é um pouco mais flexível: o levantar é mais tarde, realizam-se actividades desportivas e intercâmbios, faz-se limpezas de espaços pessoais e comuns. À noite o programa pode passar por ver um filme ou dar um passeio.

DM: A Oficina de S. José está a trabalhar em novos projectos, concretamente o “DOM” e a implementação dos Sistemas de Gestão de Qualidade?
SG: O projecto “Desafios, Oportunidades e Mudança” (DOM) da responsabilidade da Segurança Social foi assumido pela Oficina de S. José uma vez que é gerador e potenciador de um melhor serviço prestado em prol daqueles com quem trabalhamos diariamente.
O DOM visa, essencialmente, reforçar a equipa técnica e disponibilizar os meios tendentes a uma melhor qualificação da intervenção e dos interventores.
A juntar a este, a Oficina de S. José está a fazer a implementação de Sistemas de Gestão da Qualidade, projecto que está a ser acompanhado por uma especialista. Com o intuito de melhorar o trabalho realizado e, ainda, numa fase embrionária, já se começam a notar alguns resultados.
Estamos a convergir esta implementação com o Manual da Qualidade, que saiu recentemente, e que se destina aos lares de infância e juventude.

DM: Com que parceiros conta a Oficina de S. José?
SG: Estamos conscientes de que a responsabilidade de educar estas crianças e jovens é tarefa de toda a comunidade envolvente. O sucesso deste trabalho será tanto maior quanto a participação activa de toda a comunidade.
Na comunidade, englobamos as instituições escolares – que têm um papel importante na definição da melhor integração e acompanhamento a dar ao menor.
Os centros de saúde e a Segurança Social assumem papel relevante neste domínio. Com esta última temos acordos de cooperação, mormente para as valências de ATL e Lar de Infância e Juventude.
Mas há outras parcerias estabelecidas, como por exemplo, o Instituto Português da Juventude, a Câmara Municipal, a Universidade do Minho e a Universidade Católica Portuguesa, o Governo Civil, o Sporting Clube de Braga e a Junta de Freguesia de São Lázaro.
Há ainda uma boa colaboração com as instituições que perseguem objectivos análogos aos nossos, quer pelo diálogo e partilha comum, quer pela organização de actividades recreativas e de formação conjunta para educandos.

DM: Como director técnico, qual é o grande sonho que tem para a instituição?
SG: Temos muitos sonhos. No entanto no que respeita a este campo específico, nestes 120 anos, gostaríamos que fosse anunciada a reconstrução ou restauro ou a construção de raiz de um novo espaço, mais e melhor adequado às necessidades da nossa população-alvo. Um lar de infância e juventude precisa de estruturas mais pequenas para que se possa fazer-se uma intervenção mais individualizada e personalizada, tornando-se, assim, mais eficaz.
Sabemos que para isso é necessário dinheiro, apoios, e sabemos, também, que a actual direcção está empenhada na consecução daquele objectivo.
A criação do Apartamento de Autonomização, dentro do programa comemorativo dos 120 anos, também seria uma boa forma de marcar a efeméride.
Gostaríamos que até ao final do ano estivesse concluído o processo de implementação da qualidade.
Mas o nosso maior sonho continua a ser o mesmo de sempre: que as crianças e jovens sejam o mais felizes possível no tempo que cá estão. Para atender a esta população só uma resposta de qualidade serve: damos a estas crianças e jovens o máximo que pudemos e exigimos-lhes o máximo que cada um pode dar.
Destacamos, finalmente, que na Oficina de S. José todos os elementos são importantes, desde o porteiro até ao director da instituição. Todos têm um papel fundamental na educação e na integração destas crianças e jovens, ainda que com funções diferentes. Uma equipa estável e coesa é o segredo do nosso trabalho.

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