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8 de agosto de 2009

CABing 2009: Contra-me outra história II







CABing termina depois de 10 dias intensos
Universitários em acampamento
nas margens do Rio Homem


São 36 jovens. A maior parte universitários, mas também há pré-universitários e licenciados. Estão reunidos há alguns dias em ambiente de total desprendimento e isolamento, junto ao Rio Homem, na freguesia de Sequeiros (Amares). Trata-se de mais uma edição do CABing, acampamento para universitários levado a cabo pelo Centro Académico de Braga (CAB) e que termina esta segunda-feira, depois de dez dias intensos de animação, de convívio de auto-conhecimento e de oração, a partir da temática “Conta-me outra história”.
Este acampamento pretende propiciar aos universitários uma experiência diferente, com uma forte componente espiritual, mas também com jogos, competição, dinâmicas e entretenimentos, com o claro objectivo de “mexer por dentro” e marcar quem participa.
Rui Ferreira e António Ary assumem os papéis de director e adjunto do acampamento. Indispensável também é o capelão. O padre Luís Ferreira do Amaral assume essas funções, presidindo às orações e à Eucaristia, num espaço sobranceiro a todo o campo.
Para tratar, por um lado, das lides domésticas, mas também para desempenhar a figura maternal foi escolhida Helena Vilaça, aluna de mestrado em Química Medicinal, na Universidade do Minho.
Com este núcleo trabalha uma equipa de animação que preparou o imaginário e, de alguma forma, superintende todas as actividades.
Com a maior parte dos participantes oriundos da zona de Braga e de Guimarães, o CABing 2009 conta com a presença de representantes do Porto, Coimbra ou Lisboa. Da capital, por exemplo, vieram Matilde Santos e Leonor Beirão. A primeira é estudante do 2.º ano de Enfermagem e a segunda de Gestão, no mesmo ano. Do Porto veio o estudante de Matemática Pedro Pamplona, enquanto que da “cidade dos estudantes” veio Carolina Cabo, que estuda no 3.º ano de Medicina.
Como equipa, este quatro jovens responderam às questões colocadas de forma conjunta. Salientando o espírito de companheirismo e de entreajuda de todos os participantes concordam em colocar o CABing como uma «grande experiência de crescimento», num «meio ambiente puro», «em contacto com a natureza» e longe da «confusão das cidades».
«Neste acampamento aprendemos a ver o essencial da vida», atira Guilherme Magalhães, estudante de Medicina, juntando-se à conversa.
Aproveitando a deixa, lança-se a questão: «O que é essencial?». Neste momento, as respostas vão caindo a conta-gotas: «o alimento, a partilha com os outros, a inter-relação». Parecendo estar esquecido no rol apresentado, surge outra interrogação em jeito de provocação: «Então, e Deus não é essencial?». «Essencialíssimo» foi a resposta saída de rompante, completada logo a seguir por uma convincente: «Aqui, em tudo o que fazemos estamos com Deus, não só nos momentos de oração e na missa».
Já a terminar, referem que «o CABing é mais dar do que receber». «Vimos com a ideia de dar alguma coisa, mas, no somatório geral, acabámos sempre por receber muito mais do que aquilo que damos», referem.

CABing 2009: Contra-me outra história I


Rui Ferreira é o director de campo do acampamento
CABing pretende “chocar”
e “mexer dentro” dos participantes

Com o director do acampamento o Diário do Minho (DM) procurou perceber o desenvolvimento do CABing 2009. Rui Ferreira (RF) repondeu as questões salientando quais as dimensões desenvolvidas nos dez 10 de acampamento, o que é que propõe e oferece a iniciativa e, ainda, como decorre um dia normal ou quais os jogos e actividades realizadas durante o acampamento para universitários. O jesuíta reforçou a ideia de que esta iniciativa, inspirada nos campos de férias da Companhia de Jesus, deixou claro que em muitos momentos a vida tem acessórios e mais e que algum desprendimento só faz bem. Caminhada nocturna, dinâmicas e orações são sempre momentos fortes do acamapamneto.


M: O que é que o CABing oferece aos universitários que se inscrevem para participar?
RF: O CABing oferece, em primeiro lugar, dez dias diferentes, de animação e de convívio como proposta de mudança. A ideia é estar um período distante daquilo que normalmente preenche o nosso quotidiano. Deixar as nossas seguranças, certezas e comodismos. Certamente, neste dias, alguma coisa “mexe dentro” daqueles participam e alguns não resistem ao choque.
As propostas de actividades que a equipa de animação faz visam também “mexer por dentro”, quer ao nível da fé, da relação com os outros, do contacto com a natureza e ao nível do auto-conhecimento.
Há, por isso, quatro vectores fundamentais neste acampamento: Deus, natureza, amizade e serviço.

DM: Como se exploram essas dimensões e esses pilares do acampamento?
RF: Para explorar a dimensão espiritual, reservam-se alguns momentos, concretamente de oração. De manhã, temos o “Bom dia, Senhor” que é a oração da manhã, na qual o capelão lança alguns desafios e algumas propostas para o dia.
Todos os dias pegamos num conto mais ou menos conhecido da nossa infância (Pinóquio, Patinho Feio, Bela Adormecida, Capuchinho Vermelho) e tentamos fazer a ponte de ligação com o Evangelho. Já chegamos até à conclusão que a história do Pinóquio tem muito a ver com o Evangelho.
Além disso, temos a proposta da missa diária.
Para explorar a relação com a natureza, quase que basta o local onde nos encontramos. Depois, as actividades propostas vão na linha de manter os participantes em contacto directo com a natureza, quer nos jogos da manhã quer nos da tarde.
Para fortalecer os laços da amizade e do serviço a “roda” (local de reunião do campo) é fundamental como espaço de encontro e de conversa. Também existem outras pequenas iniciativas como o amigo secreto e o chá antes de dormir, como momentos para o convívio e o fortalecimento da relação.
Este campo funciona como um grupo só e não como cada um para si.

DM: Como é um dia normal no acampamento?
RF: A alvorada é pelas 08h30. Depois segue-se um momento de ginástica matinal: dois animadores vestem-se de forma criativa e orientam uma pequena sessão matinal de ginástica.
Depois vem o pequeno almoço e entretanto uma equipa prepara o repasto da manhã e outra lava a loiça do jantar.
Seguem-se jogos que normalmente metem água, para aproveitar a própria altura do banho.
Depois do almoço há o tempo da “sesta” que serve para descanso e para lavar roupa e louça.
À tarde faz-se outro jogo seguindo-se um tempo livre antes da missa.
À sobremesa do jantar uma equipa prepara, diariamente, um sketch, representando uma história concreta.
Costuma fazer-se, depois disso, algum jogo nocturno com mais movimento, aproveitando o escuro e as potencialidades do local. Depois disso é descanso.

DM: Quais são os momentos fortes do acampamento?
RF: No meu entender é a caminhada que se realiza sempre a meio do acampamento. Trata-se de um dia e meio de caminhada, com dormida ao relento. Costuma ser um momento fulcral do acampamento.
A sensação de ir pela noite por locais que não conhecemos com o indispensável nas mochilas, sabendo que vamos dormir ao relento cria experiências fortes nos participantes. O regresso ao campo é quase sempre um momento de festa, porque apesar de não termos o conforto das nossas casas é como que um regresso ao berço.
Este é um tempo que serve essencialmente para se conhecer melhor aquelas pessoas que ainda não tivemos oportunidade de conhecer. Depois da caminhada, normalmente o campo dá uma reviravolta e as pessoas ficam mais animadas.

DM: Que tipo de jogos costumam desenvolver?
RF: São sempre diversificados. Todos têm uma finalidade e há alguns que são sempre muito marcantes. Este ano vamos fazer o jogo dos Ricos e dos Pobres. Trata-se de um pequeno-almoço servido por escalões estabelecidos a partir do rendimento das equipas ao longo do acampamento. Uns tem direito a croissants com queijo e fiambre e outros apenas a pão e água. Costuma ser também um momento forte do acampamento, despertando ódios e amores.
Na sequência disso, realizam-se trabalhos de campo para eles ganharem dinheiro. A ideia é mostrar que na vida é preciso trabalhar para conseguirmos as coisas.
Temos também uma manhã de auto-gestão sem a equipa de animação. De manhãzinha, sem acordarmos ninguém deixamos um bilhete a dizer que fomos descansar e que eles estão conta própria. É sempre interessante ver as reacções deles, ver aqueles que de alguma forma, assumem um pouco a liderança. É um momento que aproveitamos para filmar, sem que eles saibam, é claro.

CABing 2009: Contra-me outra história


Bruna Pereira, professora de Ensino Básico
«O choque inicial é difícil e
quase desisti nos primeiros dias»

Bruna Pereira participa pela terceira vez num acampamento para universitários promovido pelo CAB. O primeiro foi para conhecer o ambiente e nos restantes já incorporou a equipa de animação. Mas, para esta professora do Ensino Básico «as coisas foram difíceis». «No primeiro acampamento que participei, há cinco anos atrás, quis ir-me embora ao fim dos primeiros dias», revelou, adiantando que «o choque inicial foi muito difícil». Hoje, Bruna Pereira entende que uma iniciativa deste género exige muito desprendimento, e «na primeira experiência, vinha muito agarrada às coisas materiais», reconhece. «É fundamental ter aquele choque inicial que eu tive», defende, entre sorrisos, e dando conta de que «o CABing é uma experiência que vale muito a pena», pelas pessoas novas que se conhecem e pela aprendizagens que daí advêm. «Nestes ambientes, onde temos apenas o essencial e o básico para viver estamos sempre dispostos a aprender coisas novas», afirmou.



CABing favorece
espírito participativo

Ricardo Dias participa no segundo CABing, o primeiro como animador. Por esse facto, está mais numa «atitude de aprender, acatando as dicas que os mais “rodados” nestas andanças vão dando», disse. Para este animador, a actividade mais marcante até ao momento foi o início do acampamento. «O primeiro jogo deu para ver que o grupo de participantes era muito interessante e que mostravam um entreajuda formidável». «Este é um grupo que está aberto à surpresa e à novidade – refere – e isso traz mais entusiasmo ao acampamento». Da mesma opinião é Helena Vilaça, também elemento da animação, destacando que o acampamento tem corrido bem e enaltecendo o «espírito participativo» do grupo. Esta estudante de mestrado na UM entende que a experiência que já viveu na aldeia açoriana de Rabo de Peixe lhe dá alguma «bagagem e traquejo» para iniciativas como o CABing.



Descargas ilegais?
Um “paraíso perdido”
aqui ao pé de Braga

A edição deste ano do CABing decorre numa propriedade privada, na freguesia de Sequeiros, em Amares, mesmo nas margens do Rio Homem. Segundo o padre Luís Ferreira do Amaral os proprietários foram «impecáveis», cedendo gratuitamente um espaço bastante requisitado para acampamentos. Depois de estar no local mais acredito que há muitos “paraísos perdidos”, sem muitas vezes darmos conta deles. Aquela propriedade, com a variedade de vegetação que ostenta, com as zonas de sol e de sombra que proporciona e, acima de tudo, com rio mesmo ao lado constituem um desses espaços paradisíacos para os apaixonados pela natureza. Pena que, segundo alguns populares e moradores da localidade, as águas do Homem apareçam algumas vezes «mais carregadas» e «com mais espuma» que noutros dias. Serão descargas ilegais? A pergunta impõem-se sem mais e exige atenção das autoridades.

15 de junho de 2009

Esclarecendo reportagem RAP

As cinco entradas que estão a seguir neste blogue referem-se a uma reportagem publicada no Diário do Minho de 15 de Junho, sobre Renovação da Acção Pedagógica (RAP), que está a ser desenvolvido e experimentado em Portugal. Este projecto traz vantagens aos escuteiros mas também muitas dificuldades e levantam alguns problemas...

Para os interessados é continuar a ler
os outros podem, se quiseram ver!

Corpo Nacional de Escutas está a renovar oferta educativa


Ivo Faria é o coordenador nacional da equipa do projecto do RAP


O Corpo Nacional de Escutas (CNE) está a experimentar novas metodologias e novas formas de trabalho direccionadas aos seus elementos nas diferentes secções. Renovação da Acção Pedagógica (RAP) é a designação deste projecto e Ivo Faria (IF) é o responsável nacional pela sua implementação. Causas da renovação, prazos e números, objectivos, mudanças e vantagens são algumas das questões a que responde o também chefe da Região de Braga do CNE, além de nos elucidar sobre os principais pontos de mudança que acarreta esta renovação. Tudo isto acontece após a celebração do Ano do Centenário do Escutismo e depois de os Escuteiros de Portugal terem visto um dos seus padroeiros ser canonizado por Bento XVI – falamos de São Nuno de Santa Maria (D. Nuno Álvares Pereira).

Texto e foto: José António Carneiro

DM – O que é e porquê um programa de renovação do Escutismo?
IF – A Renovação da Acção Pedagógica (RAP) é a uma tradução não literal de “Renewed Aproach to Programme”, que significa exactamente “Renovação da Abordagem ao Programa”. Este é um projecto de renovação desenvolvido a nível internacional pela Organização Mundial do Movimento Escutista para as associações repensarem o projecto educativo e a oferta pedagógica. A tradução portuguesa não é exactamente a mesma coisa, mas vai dar ao mesmo. A acção pedagógica é algo mais vasto que o programa.
A nível mundial começou a notar-se uma escassez de dirigentes e verificou-se que a taxa de penetração a nível da juventude estava a cair, particularmente nos países com mais escuteiros. Embora Portugal não padecesse nem padeça dessa dificuldade, os nossos projectos educativos já remontavam a 1992. Por isso, achou-se por bem renovarmos a nossa oferta educativa.

DM – Quais são os objectivos de base do RAP?
IF – Achamos que era importante reforçar a acção do Corpo Nacional de Escutas como associação de educação não-formal ou seja, na linha do aprender fazendo, sendo os próprios escuteiros agentes do seu crescimento.
Outro objectivo a cumprir passa por conferir maior coerência ao “edifício pedagógico” do CNE. Começou-se a achar que a forma como trabalhamos nas quatro secções – embora tendo místicas e formas de ser muito próprias, e em termos pedagógicos haver igualmente bastantes diferenças –, faltava algo que interligasse melhor as idades. Em Portugal, notámos que nas transferências ou passagens de secções perdíamos muitos elementos porque não se adaptam à secção seguinte.
Além destes, pretendeu-se introduzir inovações na pedagogia que nós não estávamos a incorporar e, ainda, dar mais actualidade à nossa acção sem perder valores, método e mística. Na prática, trata-se de ajustar a nossa acção aos tempos de hoje e à experiência acumulada.

DM – Quando arrancou?
IF – Em Portugal, o RAP arrancou em 2001 e, nessa altura, estabeleceram-se alguns objectivos. A fixação da proposta educativa, ou seja, o estabelecimento de um documento que sintetize aquilo que queremos fazer com os jovens, foi aprovado em 2003, tal como a fixação dos objectivos educativos finais, que são a expressão daquilo que o CNE procura que um caminheiro seja quando chega a hora da partida (22 anos). Três anos mais tarde foram fixados os objectivos educativos de secção (que são os finais de cada secção), foram definidas as áreas de progressão pessoal (pólos educativos) e, finalmente, foi aprovada a renovação do sistema de progresso.
A fase piloto deste projecto arrancou em Setembro de 2008 e terminará no próximo mês de Setembro.

DM – Quantos agrupamentos a nível nacional estão envolvidos na fase de experimentação?
IF – São cerca de 10 por cento dos agrupamentos, ou seja, 94, num universo de mais de 900. Na região escutista de Braga concentram-se a maior parte dos agrupamentos piloto. Da Arquidiocese são 24: Arentim, Barcelos, Calendário, Castelões, Caxinas, Cervães, Creixomil, Delães, Galegos Santa Maria, Guilhofrei, Louro, Medelo, Mesão Frio, Montariol, Moreira de Cónegos, Nossa Senhora do Amparo, Polvoreira, Requião, Ronfe, Santa Eufémia de Prazins, São Paio (Vila Verde), Sé Primaz, Silvares e Taipas.
A juntar a estes, estamos ainda responsáveis pelo supervisionamento do processo do RAP no único agrupamento piloto de Viana do Castelo – o de Monserrate.

DM – Quando vai ser alargado a todo o país?
IF – O projecto de experimentação, de alguma forma, já cobre todo o país. Vai ser alargado a toda a associação (mais de 900 agrupamentos) a partir de Janeiro de 2010, com o arranque da formação.

DM – Que inovações concretas introduz?
IF – Sem grandes desenvolvimentos, o RAP traz: uma proposta educativa para a associação; um novo sistema de progresso; um quadro simbólico e místico renovado; uma equipa de patronos renovada; modelos de vida para ajudar a enriquecer os imaginários das actividades e seis áreas de desenvolvimento pessoal.

DM – O que muda?
O sistema de progressão passa a ser mais flexível e adaptável a cada criança ou jovem. Temos também dois novos patronos: São Tiago e São Pedro.

DM – E o que deixa de existir com estas mudanças?
IF – Agora, o progresso deixa de ser baseado em provas.

DM – O RAP traz também a confecção de novos manuais e de nova literatura escutista?
IF – Sim, quatro novos manuais para os dirigentes (um por cada secção) e para os jovens e crianças. Para estes, não são bem manuais, são mais cadernos para registar experiências e vivências. O dos Lobitos e Exploradores chama-se “Caderno de Caça”; o dos Pioneiros, “Diário de Bordo”; e o dos Caminheiros, “Caderno de Percurso”.

DM – Quando chegarão aos escuteiros?
IF – Estão em versão “draft” para serem avaliados, a par da fase experimental. Há um concurso de ideias para formatos dos cadernos/diários. Estão também a ser produzidos subsídios para inserir nos mesmos com conteúdo flexível, uma vez que depende de cada criança/jovem.


Renovação Pedagógica
Alguns números e datas

69 mil – número aproximado de escuteiros a nível nacional, segundo censos de 2008.
16 mil – número aproximado de escuteiros na Região de Braga, a mais numerosa do país.
94 – é o número de agrupamentos que a nível nacional estão a testar o RAP.
24 – número de agrupamentos na Região de Braga que estão a testar o RAP.
1 – Monserrate é o único agrupamento de Viana do Castelo que está incluído na fase piloto do RAP.
2001 – data do arranque do projecto em Portugal.
2003 – aprovada a definição dos objectivos.
2006 – aprovada a organização das secções.
2008 – início da fase piloto.
2009 – conclusão da fase piloto.
2010 – início da implementação em todos os agrupamentos.

Sistema de progresso deixa de basear-se em provas


Liberdade de escolha recai no escuteiro

O sistema de progresso é uma das alterações mais relevantes que o projecto de Renovação da Acção Pedagógica (RAP) traz consigo, particularmente o facto de acabarem as provas para passar a existir oportunidades educativas, estabelecidas pelo método.
Este novo sistema de progresso assenta na ideia de que o caminho para se chegar ao topo é diferente em cada um dos escuteiros, deixando assim de existir provas, obrigatórias ou facultativas, opcionais ou de qualquer outra ordem. Por isso, se deixa de dizer que “a criança, adolescente ou jovem prestou provas”.
O objectivo deste sistema é ajudar cada escuteiro a envolver-se activamente e de forma consciente no seu próprio desenvolvimento e, por isso, está mais centrado no indivíduo, considerando as suas capacidades, baseando-se em objectivos educativos, e permitindo a aquisição de Conhecimentos, Competências e Atitudes (CCA).
Além do mais, é um factor de motivação que guia o jovem no seu desenvolvimento, sendo uma oportunidade de aprofundar habilidades próprias e de valorização pessoal ou de descoberta vocacional.
O sistema de progresso impulsiona o jovem a adquirir “rotinas” de análise e de planeamento da sua vida.
As vantagens deste novo sistema de progressão assentam, particularmente, na valorização do diagnóstico inicial e na negociação que se estabelece entre elemento e dirigente em relação ao caminho a percorrer e as metas a atingir.
O novo sistema potencia, igualmente, a relação entre os diversos intervenientes e entre pares na fase do diagnóstico e avaliação.
Porque o Corpo Nacional de Escutas (CNE) é um contributo à educação, juntamente com outras instituições, este novo sistema de progresso não esquece e envolve outros organismos que não apenas o agrupamento e a unidade. Por isso, os CCA podem ser adquiridos pelos escuteiros na sua vivência escolar, catequética, nos clubes a que pertencem e equipas de outros organismos, mas também no seio da secção e do bando, patrulha ou equipa, no desenrolar do dia-a-dia e das fases da vivência das caçadas, aventuras, empreendimentos e caminhadas.

Progresso tem três etapas
Com nomes ligados à mística e à simbologia da unidade, as etapas do progresso são formadas por diversos componentes: adesão, adesão informal, diagnóstico inicial, compromisso pessoal, passagem de secção, oportunidades educativas, relação educativa, avaliação e reconhecimento, desafio e partida.
Para a progressão pessoal, o escuteiro tem seis áreas de desenvolvimento estabelecidas pela proposta educativa. Existem três trilhos educativos em cada uma das seis áreas e cada trilho contém um ou mais objectivos educativos. Assim sendo, o escuteiro constrói a sua etapa de progresso, que são três, seleccionando um trilho de cada uma das áreas de desenvolvimento. No caminheirismo, o progresso já não se faz por trilhos, mas apenas por objectivos.
Este novo sistema de progresso deixa que a liberdade de escolha esteja reservada, em primeiro lugar, à criança, adolescente ou jovem. Agora, o papel do chefe de unidade limita-se ao apoio no diagnóstico e na selecção dos trilhos educativos que irão constituir as etapas pessoais e à observação da evolução dos CCA que contribuem para validar os objectivos educativos como atingidos.

Sete maravilhas
do método escutista

O método escutista é um sistema de auto-educação progressiva, baseado na Promessa e na Lei, numa educação pela acção e numa vida em pequenos grupos. Esta última envolve e aponta para a descoberta e a aceitação progressiva de responsabilidades pelos jovens e uma preparação para a autonomia com vista ao desenvolvimento do carácter, à aquisição de competências, à confiança, ao serviço dos outros e à capacidade de cooperação e de dirigismo. O método é, deste modo, a forma de o CNE educar os seus jovens, baseando-se em sete campos distintos, chamados internamente “as sete maravilhas do método”. Com mais de 100 anos de existência, o método escutista permite explorar, a partir da forma natural como os jovens se relacionam, diferentes opções educativas. Os sete âmbitos do método são: Aprender fazendo, mística e simbologia, sistema de patrulhas, Lei e Promessa, sistema de progressão pessoal, vida na natureza e relação educativa jovem/adulto.



Seis áreas a desenvolver
Proposta educativa do CNE

A proposta educativa do CNE pretende responder à questão “Educamos. Para quê?” e é também um dos pontos fundamentais onde o RAP incidiu. Assim sendo, a renovada proposta pretende que o movimento continue a ajudar os jovens a crescer, a procurar a própria felicidade e a contribuir para a felicidade dos outros, descobrindo e vivendo segundo os valores do Homem Novo.
O CNE procura através do seu método ajudar as crianças, adolescentes e jovens a educar-se para se tornarem conscientes do ser, do saber e do agir. A finalidade é que cada um, com estas competências, se torne homem ou mulher responsável e membro activo da comunidade, na construção de um mundo melhor.
A proposta educativa do CNE assenta em seis dimensões: desenvolvimento do carácter, desenvolvimento afectivo, desenvolvimento espiritual, desenvolvimento físico, desenvolvimento intelectual e desenvolvimento social.
Para a plena realização destas dimensões, o movimento estipulou objectivos educativos que definem, para cada área do desenvolvimento pessoal, o resultado que um jovem pode esperar alcançar no final de cada uma das etapas ou então no momento da partida.
A lógica destes objectivos educativos é gradual e interligada para que também a oferta educativa seja global e integral. Esta renovação da proposta educativa faz com que, agora, o jovem seja cada vez mais o centro da acção educativa.

Mística e simbologia renovadas com novos patronos e modelos


São Tiago e São Pedro passam a ser patronos de secções


No âmbito da mística e da simbologia do CNE, a Renovação da Acção Pedagógica (RAP) também traz alterações significativas, particularmente com a renovação da equipa de patronos e com a inserção de vários modelos de vida para ajudar a enriquecer os imaginários das actividades escutistas. Ainda que os responsáveis predefinam alguns modelos de vida e outras personalidades de relevo, essas listagens não estão truncadas, permanecendo, desse modo, a possibilidade de cada agrupamento ou secção poder incluir outros santos ou beatos ou outros exemplos de vida para os escuteiros.
A mística do programa educativo do CNE assenta num esquema de quatro etapas, com vista a uma formação humana e cristã integral, mais sólida e mais madura. Estas etapas são sequenciais – cada uma é trabalhada para uma secção, ainda que de forma não estanque – e complementam-se, na medida em que estão interligadas e adquirem o seu pleno sentido na sobreposição das partes. Estas etapas desenrolam-se na lógica de um caminho a percorrer, constituindo um itinerário de crescimento individual e comunitário proposto a cada escuteiro.
As alterações que o RAP traz são significativas, mas não implicam que tudo tenha sido ou vá ser alterado. Desde logo se destaca que os patronos do escutismo continuam inalteráveis, ou seja, Santa Maria (Mãe dos Escutas), São Jorge (patrono mundial do Escutismo) e São Nuno de Santa Maria (patrono do CNE).
O mesmo já não se poderá dizer em relação aos imaginários, patronos, símbolos, modelos de vida e exemplos das quatro secções, que surgem renovados com o projecto RAP.
O imaginário dos lobitos continua a ser a história de Máugli, personagem de “O Livro da Selva”, de Rudyard Kipling.
Ao nível da mística, o lobito louva Deus Criador, descobrindo-O no que o rodeia. A intenção é fazer com que quando um lobito descobre as maravilhas da natureza e vive alegre, contente, obediente, amigo de todos e disposto a imitar em tudo o Menino Jesus, percebe que Este o ama e aprende a louvar o Criador.
O símbolo da primeira secção é a Cabeça de Lobo que representa a unidade da alcateia.
São Francisco de Assis é o patrono e Santa Clara de Assis e os beatos Francisco e Jacinta exemplos de modelos de vida para os lobitos.
O imaginário da segunda secção continua, também, a ser a figura do explorador que parte à descoberta do desconhecido.
Ao nível da mística o explorador é desafiado a ir à descoberta da Terra Prometida. Assim, reconhece Deus na sua vida e aceita a Aliança que lhe propõe, pondo-se a caminho tal como o Povo do Antigo Testamento.
Os símbolos da segunda secção são a Flor de Lis, a vara, o chapéu, o cantil e a estrela.
O patrono deixa de ser São Jorge – ficou apenas como padroeiro do escutismo – e passa a ser São Tiago Maior. Abraão, Moisés, David, Santo António e Santa Isabel de Portugal são exemplos de modelos de vida.
Na lista dos grandes exploradores e que são também exemplo para os escuteiros da segunda secção figuram personagens como Fernão de Magalhães, Ernst Shackleton, Neil Armstrong, Gago Coutinho, Sacadura Cabral, Jacques Costeau, Diana Fossey ou o Infante D. Henrique. Outros poderão ser adicionados.
S. Pedro “protege” os pioneiros
O imaginário da terceira secção continua assente na figura do pioneiro insatisfeito e que busca a concretização do sonho, uma vez que, feita a descoberta do mundo que o rodeia, o pioneiro solta-se do supérfluo e põe mãos à obra.
Por isso, a mística desta secção desafia a construir a Igreja, levando o pioneiro a assumir o seu papel nessa construção, colocando os seus talentos ao serviço da comunidade e assumindo a tarefa de ser construtor de comunhão.
Os símbolos do pioneirismo são a rosa dos ventos, a machada, a gota de água e o “icthus”.
O patrono deixa de ser São João de Brito, que passa a ser modelo de vida, para começar a ser São Pedro, o primeiro “chefe” da Igreja.
Como modelos de vida para os pioneiros, além do já referido São João de Brito, o novo projecto elenca exemplos como Santa Teresinha do Menino Jesus e Santa Catarina de Sena.
Já em relação aos grandes pioneiros, a lista é mais alargada: Padre António Vieira, Einstein, Marie e Pierre Curie, Florence Nightingale e Isadora Duncan.
A última secção do escutismo – o caminheirismo – não tem um imaginário definido. Como jovens adultos, os caminheiros põem em prática as suas acções no terreno real, na vida do dia-a-dia.
Quanto à mística, o caminheiro é desfiado a orientar a vida para os valores do Homem Novo.
Os símbolos do caminheiro são a vara bifurcada, a mochila, o pão, o Evangelho, a tenda e o fogo.
São Paulo continua a ser o patrono da secção, ao passo que São João de Deus, Beata Teresa de Calcutá, Santa Teresa Benedita da Cruz, João Paulo II e Santo Inácio de Loyola figuram como exemplos de modelos de vida.
Finalmente, os caminheiros dispõem de uma plêiade de personalidades da história para seguir e imitar: Aristides Sousa Mendes, Gandhi, Martin Luther King, Nelson Mandela, Aung San Suu Kyi e Wangari Maathai.

Esclarecendo conceitos
da mística e simbologia


Dentro da mística e da simbologia do movimento há alguns conceitos que convém esclarecer, particularmente imaginário, mística, símbolos, patronos, modelos de vida e grandes figuras.
O imaginário é o ambiente que envolve um determinado grupo e que se traduz por um espírito e uma linguagem próprios. Envolve frequentemente uma história com heróis e símbolos e induz a um sentimento de pertença em relação ao grupo permitindo a transmissão de determinados valores.
A mística é uma proposta de enquadramento temático e de vivência espiritual para cada uma das quatro secções, que visa aprofundar a descoberta de Deus e a comunhão em Igreja.
Os símbolos são elementos ou objectos representativos de realidades, características ou atitudes que materializam o ideal proposto na mística de cada secção. Todas as secções têm o seu símbolo, podendo este ser único ou integrado num conjunto de símbolos complementares.
Patrono é um santo ou beato da Igreja Católica que no decurso da sua vida encarnou na plenitude os valores que se pretendem transmitir através da mística e do imaginário de uma determinada secção, sendo por isso escolhido como protector e exemplo de vivência para os jovens dessa mesma secção.
Os modelos de vida são figuras da Igreja Católica que, à semelhança do patrono, também encarnaram os valores e ideais da mística e do imaginário da secção e que exprimem a diversidade de caminhos e carismas possíveis para os viver.
As grandes figuras são personalidades que na sua vida realizaram grandes feitos, associados ao imaginário da secção, e que, de alguma forma marcaram a história da humanidade.

Maior compromisso e esforço supera dificuldades da fase piloto


Implementação do RAP na Região de Braga


Todas as mudanças acarretam em si mesmas mais dificuldades e exigências novas que, por sua vez, necessitam de maior compromisso, mais trabalho e simultaneamente exigem um desalojamento e desacomodação constantes nas formas de estar e trabalhar. Com a fase de experimentação da Renovação da Acção Pedagógica (RAP) a caminhar a passos largos para a sua conclusão, é natural que vários agrupamentos da maior região escutista do país sintam muitas dificuldades na implementação das novas metodologias.
A conclusão da fase de experimentação do RAP acontecerá em Setembro de 2009 e, com a aproximação do termo, vai sendo hora de avaliar a forma como tem estado a decorrer a fase piloto do projecto para que, em 2010, as novas metodologias sejam alargadas aos agrupamentos de todo o território nacional com a devida chancela e aprovação dos agrupamentos que o experimentaram.
O Diário do Minho auscultou alguns dos 24 agrupamentos da Região de Braga para perceber as implicações e as dificuldades sentidas na aplicação do RAP.
Não há agrupamento que não revele dificuldades ao nível da realização do diagnóstico inicial, que exige mais tempo, mais burocracia, mais responsabilidade, acompanhamento mais personalizado e contínuo e vem revelar a necessidade de os agrupamentos terem mais adultos/dirigentes.
Ilídio Vila, do Agrupamento de Arentim (Braga), disse ao DM que as maiores dificuldades encontradas são as que caracterizam todos os projectos que arrancam de novo. E concretizou: «mais tempo disponibilizado para planeamento, mais burocracia, a necessidade de mais adultos no agrupamento tornou-se mais premente, os guias têm sentido mais trabalho, o tempo que levam os diagnósticos iniciais e as negociações pessoais para atingir os objectivos individuais é demasiado, tendo em conta aquele que dispomos semanalmente para toda a actividade escutista».
Segundo Bernardino Miranda, do Agrupamento de Requião (Famalicão), os momentos de mudança nunca são fáceis, porque o próprio ser humano é um “animal de hábitos”.
Além disso, as dificuldades trazidas pelo RAP podem ser vistas por duas perspectivas: a do escuteiro e a do dirigente. «Ao escuteiro, o RAP pede uma maior autonomia e uma maior atenção ao seu progresso», ao passo que ao dirigente ou educador, para além de uma atenção cada vez mais individual e personalizada que deve dar aos seus escuteiros, deve ter em conta as suas vivências do dia-a-dia, na família, no grupo de amigos e na escola», referiu Bernardino Miranda.
No Agrupamento de Creixomil (Guimarães), a maior dificuldade tem sido a interiorização das novas regras e novas exigências. «A divisão em áreas pedagógicas vem trazer mais responsabilidade quer aos chefes quer aos escuteiros. Para os chefes, em particular, a exigência é maior dado que têm um trabalho mais profundo a desenvolver com o escuteiro e um acompanhamento mais permanente e personalizado», aclarou Manuel Soares. Mas «agora não basta chegar, é preciso continuar no trilho certo, ou seja, não chega fazer uma vez, é preciso fazer continuadamente».
O Agrupamento de Medelo é o único do Núcleo de Fafe que está a experimentar o RAP. Os responsáveis referem que as dificuldades desta implementação estão a ser «diminutas». Segundo José Maria, monitor do agrupamento e tutor de Núcleo de Fafe do projecto RAP, o sucesso desta implementação reside, por um lado, no facto de todos os dirigentes terem formação específica e, por outro, no facto de o Núcleo e a Região colmatarem as dificuldades que vão surgindo com formação e esclarecimentos pertinentes.
A avaliação do progresso individual de cada escuteiro que agora exige um acompanhamento contínuo, atento e quase geral da vida do elemento é uma das dificuldades maiores encontrada pelos responsáveis do Agrupamento de Cervães (Vila Verde).
Cristiano Barbosa apontou que «apesar de ser um método completo de avaliação, existem muitas barreiras a transpor», sendo a principal o número elevado de elementos escuteiros e o reduzido número de adultos e dirigentes.
Neste agrupamento está a ser difícil a compreensão dos elementos mais novos acerca dos objectivos a cumprir. «É muito difícil explicar a um miúdo de 11 ou 12 anos o que é um objectivo tão abstracto como “reconheço as minhas emoções e sei exprimi-las com naturalidade e sem magoar os outros”», revelou.
No primeiro agrupamento escutista criado em Portugal – o Agrupamento 1 da Sé (Braga) – também se têm sentido dificuldades na aplicação do RAP.
Luís Veloso apontou duas: a realização do diagnóstico inicial a todos os elementos do agrupamento, porque implica para os dirigentes um acréscimo de dezenas de horas na preparação e realização desse objectivo e na escassez de material de apoio na fase inicial deste processo.

Um ano para “arranhar”
Porfírio Faria, do Agrupamento 456 de Silvares (Guimarães), anotou que a súbita mudança no sistema de progresso, os diagnósticos iniciais, a iniciativa das crianças e jovens para escolherem os trilhos e os objectivos a atingir são algumas das dificuldades mais visíveis e sentidas.
Além disso, o dirigente vimaranense mostrou que a logística não acompanhou devidamente os agrupamentos piloto que sentiram muitas dificuldades em arrancar com pouco ou quase nenhum material de apoio.
A aplicação do RAP só estará no seu esplendor no próximo ano já que este está a ser um ano experimental, com muitas dificuldades e dúvidas. «É um ano para ‘arranhar’», afirmou.
No Agrupamento 994 das Caxinas, também existem dificuldades até pelo facto de ser o único do Núcleo Cego do Maio (que engloba 17 agrupamentos de Vila do Conde, Póvoa de Varzim e Esposende), que aderiu à fase piloto do RAP.
Deste modo, «algumas questões de orgânica, comunicação, organização ou outras que surgem no dia-a-dia, têm de ser resolvidas pela experiência pessoal dos dirigentes», refere Milton Castro.
Também para o Agrupamento de Caldas das Taipas (Guimarães) as dificuldades maiores residem no diagnóstico inicial para cada elemento e também no facto de a nova forma de trabalhar implicar maior envolvimento dos dirigentes e dos elementos.
No Agrupamento 660 de Montariol (Braga), a maior dificuldade é a limitação do tempo para pôr em prática as novas metodologias e, por isso, dois anos desta fase piloto talvez fosse o ideal e não um ano. Este método ajuda ao crescimento autónomo de cada elemento mas, há algumas dificuldades em motivar.

Dirigentes de Braga elogiam mudanças pedagógicas incluídas pelo RAP



A maior parte dos agrupamentos da Região de Braga do CNE que estão a experimentar as novas metodologias trazidas pela Renovação da Acção Pedagógica (RAP) é unânime e consensual a defender que apesar da maior exigência, as vantagens e os aspectos positivos suplantam dificuldades e críticas apontadas ao novo projecto.
No caso de Arentim, um agrupamento que está a completar o seu 5.º ano de vida, o RAP tem sido «uma oportunidade para repensar o caminho há pouco iniciado e, assim, redireccionar os esforços». Ilídio Vila entende que apesar das dificuldades, «tem sido positivo todo o empenho que a maioria dos escuteiros e dirigentes têm dedicado à nova metodologia». Este responsável no agrupamento de Braga pela implementação do RAP não duvida que o projecto de renovação traz mais exigência, mais empenho, mas, sobretudo, permite repensar o caminho a seguir. «O interesse dos jovens e das crianças é mais notório tendo em conta algumas das alterações efectuadas», afirmou.
O chefe do Agrupamento 257 de Requião vê na maior aproximação que o RAP exige entre os vários agentes que fazem parte do dia-a-dia do escuteiro um dos aspectos mais positivos e relevantes do projecto de renovação.
Contudo, as vantagens não se ficam por aqui e Bernardino Miranda elenca também os objectivos educativos que «estão mais actuais do que nunca». «Cada vez mais, o jovem está no centro da nossa acção», contou ao DM. Para os educadores e dirigentes, este projecto trouxe «regras mais bem definidas» e uma «maior consciência da missão de educar».
O responsável aponta, ainda, com agrado a renovação feita ao nível da mística e da simbologia, agora «mais rica», permitindo dar uma formação humana e cristã integral, mais «sólida e madura».
Para o chefe do Agrupamento de Creixomil a aceitação dos escuteiros em relação às novas exigências a que estão sujeitos está a ser um dos pontos positivos desta fase piloto do RAP.
Manuel Soares entende que as vantagens iniciadas com o novo projecto são «a todos os níveis», concretamente nas seis áreas de desenvolvimento previstas, que melhoram significativamente a evolução do escuteiro como homem, com cristão e como cidadão. O RAP ajuda, também, na aceitação do próximo, aproxima os escuteiros ainda mais de Deus, de Jesus e da sua Palavra. «Ajuda-nos a conhecer-nos melhor a nós próprios e a sermos efectivamente diferentes para melhor daqueles que não têm a sua vida alicerçada nos valores, práticas e vivência que o escutismo, embora com mais de 100 anos de vida, ainda continua a oferecer aos jovens», revelou.
Em Medelo, do ponto de vista das vantagens do RAP salienta-se o «empenho dos rapazes e raparigas em conseguir o máximo, para assim atingir a anilha de mérito». «Não somos apologistas do facilitismo, mas a dedicação dos guias, chefes de grupo e chefes de unidade torna tudo mais simples», aponta José Maria, que enaltece a «interligação entre as quatro secções», como outra das vantagens do RAP.
Para os responsáveis do agrupamento vilaverdense de Cervães, o projecto de renovação do movimento está bem trabalhado em termos de mística. Além disso, «não há dúvidas que este sistema de progresso em termos de conteúdos é muito mais coerente com o mundo de hoje, e faz todo o sentido na óptica do crescimento individual e colectivo dos jovens», declarou Cristiano Barbosa.
No Agrupamento da Sé, apesar de ser um «trabalho difícil» e que, à partida, exige um maior número de dirigentes, uma das grandes vantagens do RAP é o diagnóstico inicial porque «deu para entender qual a realidade do agrupamento», disse Luís Veloso.
O Agrupamento de Silvares destaca a maior qualidade que o RAP traz ao escutismo. Os diagnósticos iniciais que levam os dirigentes a conhecer melhor cada um dos elementos, a exigência feita aos escuteiros de serem eles a escolher os objectivos a alcançar, o facto de haver mais encontros com as equipas de animação e a melhor preparação das reuniões do grupo são aspectos concretos que o RAP veio melhorar.
Porfírio Faria apontou que as inovações inseridas trazem muito de positivo ao movimento melhorando significativamente a forma de educar as crianças e jovens. «Traz muito mais trabalho é certo, mas só com mais trabalho e mais exigência se pode fazer escutismo de qualidade», frisou.
Apesar das dificuldades, o Agrupamento das Caxinas está com a motivação em alta para colaborar no crescimento dos jovens escuteiros.
A maior virtude do RAP reside numa maior aproximação entre os escuteiros, pais e dirigentes, em especial com o diagnóstico inicial, no qual «os pais tiveram uma longa conversa particular com os dirigentes sobre os seus filhos, revelando situações que escapam ao dirigente», referiu o chefe da segunda secção do Agrupamento das Caxinas.
O positivo que o RAP traz, para os escuteiros das Taipas, é o fortalecimento da relação elemento-chefe. Além desta, o progresso pessoal de cada elemento e a motivação que os escuteiros demonstram para atingir os seus objectivos parece ser uma vantagem do novo projecto que apesar de ter algumas arestas para ajustar, desperta nos elementos mais interesse.
Em Montariol regista-se como positivo, desde logo, a oportunidade do RAP, além da boa estruturação e enquadramento do novo método. As mudanças favorecem a autonomia de cada elemento, a simbologia está mais enriquecida, há mais ligação entre as secções e há maior flexibilidade de objectivos, sustentam os dirigentes.

Agrupamentos da fase piloto
da Região de Braga e Viana

Dos 24 agrupamentos da Região de Braga que estão a experimentar as novas metodologias da Renovação da Acção Pedagógica (RAP), oito pertencem ao Núcleo de Guimarães, o mais numeroso da Região. Segue-se Famalicão com cinco, Braga com três, e Barcelos e Vila Verde com dois. Os núcleos de Vieira do Minho, Póvoa de Lanhoso, Fafe e Cego de Maio têm um agrupamento nesta fase piloto. Destaque ainda para o Agrupamento de Monserrate que é o único da Região de Viana do Castelo que está na fase de experimentação, com supervisão da Região de Braga.

Região de Braga
1 Sé (Braga)
5 Ronfe (Guimarães)
13 Barcelos (Barcelos)
89 Delães (Famalicão)
200 Polvoreira (Guimarães)
257 Requião (Famalicão)
291 Calendário (Famalicão)
312 Louro (Famalicão)
323 Santa Eufémia de Prazins (Guimarães)
346 Cervães (Vila Verde)
418 S. Paio (Vila Verde)
441 Castelões (Famalicão)
456 Silvares (Guimarães)
527 Amparo (Póvoa de Lanhoso)
566 Creixomil (Guimarães)
618 Galegos Santa Maria (Barcelos)
660 Montariol (Braga)
663 Moreira de Cónegos (Guimarães)
666 Caldas das Taipas (Guimarães)
702 Mesão Frio (Guimarães)
966 Medelo (Fafe)
994 Caxinas (Cego de Maio)
1004 Guilhofrei (Vieira do Minho)
1273 Arentim (Braga)

Viana do Castelo
103 Monserrate (Viana do Castelo)

5 de março de 2009

Nota Bene.

As quatro últimas entradas fazem parte de uma reportagem publicada no Jornal Diário do Minho, na edição de 2 de Março.

Devem ser lidas por ordem de colocação, ou seja de baixo para cima

Utentes do lar são a razão de ser da instituição


Seja qual for a situação familiar, o contexto e a história de vida, os utentes do lar da Oficina de S. José de Braga são a razão de ser da instituição e das cerca de trinta pessoas que diariamente trabalham na educação dos menores acolhidos.
Quer os actuais jovens quer os mais antigos utentes que por lá passaram são unânimes a defender os aspectos positivos da estadia na casa. Destacam – nos testemunhos apresentados nesta e nas seguintes páginas – bons momentos passados em família, as brincadeiras e o apoio e carinho que sempre receberam dos educadores.
A juntar a tudo isto deve acrescentar-se o facto relevante de existir a preocupação por parte dos responsáveis superiores de arranjar, na medida do possível, um ofício, um emprego, para que, ao sair da instituição, cada jovem esteja integrado social e profissionalmente.
Na opinião dos antigos utentes, principalmente, vai sendo notada a reclamação de criar boas condições para as actuais crianças e jovens. Essas melhores condições poderão passar pelo restauro do actual edifício ou pela construção de raiz de uma nova infra-estrutura.
«Revelou-se o melhor para mim»
Avelino Rodrigues é o mais velho de quatro irmãos que estão na Oficina de São José. Há cinco anos atrás, depois de ter fugido de uma outra instituição, o jovem natural de Vila Verde foi colocado na Oficina de S. José, desta vez com três irmãos, o Carlos, o João e o Manuel.
«Queria ter ficado com a minha família e não queria vir para a Oficina de S. José», confessou o jovem de 18 anos, destacando que os primeiros tempos foram difíceis.
Volvidos pouco mais de cinco anos desde a entrada, Avelino Rodrigues é peremptório a afirmar que «afinal a Oficina de S. José revelou-se o melhor para mim e para os meus irmãos».
À pergunta para que escolha o melhor momento passado responde que foi conhecer novas pessoas. Reconhece que umas o marcaram mais que outras, quer pela positiva quer pela negativa.
Sobre o futuro, não tem muitas dúvidas: «quero tirar o curso de mecânica». E continuou: «porque é um sonho e acredito que os superiores vão fazer tudo para que isso se concretize, já que eles só querem o nosso melhor».

«Não perdi nada e ganhei muitas coisas»
Francisco Vieira é actualmente funcionário do Diário do Minho e além de ser antigo utente da Oficina de S. José também trabalha na Gráfica da instituição.
Órfão de mãe desde o parto, entrou com sete anos e foi preciso chegar a poucos dias dos 18 anos para sair da Oficina. «Os tempos eram outros, não como os de hoje, e eram muito difíceis» afirma, revelando que a sua saída aconteceu à rebelia dos responsáveis.
«Naquele tempo não tínhamos liberdade nem não saíamos sozinhos», conta, destacando o positivo que foi a estadia na Oficina, particularmente a participação nas actividades da Mocidade Portuguesa e na banda de música.
Reconhecido à instituição, Francisco Vieira, casado e pai de dois filhos valoriza o facto de ter aprendido uma arte, na qual foi progredindo, e de ter formado uma escala de valores apoiada em princípios éticos e morais.
«Na Oficina de S. José não perdi nada e ganhei muitas coisas», afirmou, apontando que no futuro, «é necessário criar as condições necessárias para as crianças e para os jovens».

«Vou pensando que tenho de dar lugar a outros»
António João Rodrigues é o mais velho utente da actualidade e também o que tem mais anos de presença na instituição. Tem 24 anos e entrou com sete na Oficina de S. José.
Em conversa, recorda ainda como foi o dia da entrada, principalmente o quanto chorou. «A polícia foi buscar-me à escola porque não tinha condições para estar em minha casa com a minha família», disse o jovem que é natural de Sequeira, Braga.
Olhando desde já o futuro, António Rodrigues, apesar de se sentir bem, vai pensando que tem de «dar lugar a outros», já que não vai ficar para sempre.
Salientou a boa educação que recebeu e o facto de já estar a trabalhar como carpinteiro, o que é uma segurança para o futuro.
Ao longo dos 17 anos de presença na Oficina de S. José recorda muita gente nova que conheceu, anotando que ninguém em especial o marcou. Não que isso seja algo de negativo, mas porque, segundo o jovem, «todos os que conheci aqui dentro sempre me ajudaram e procuraram o meu bem».

«Estou muito bem e gosto do que faço»
Abílio de Jesus Carvalho, é antigo aluno da Oficina de S. José e actual empregado da Gráfica. Deficiente auditivo, entrou na instituição com apenas cinco anos e esteve no internato até atingir a maioridade.
«O que mais me custou foi estar longe da minha família», revelou Abílio Carvalho sobre o tempo passado na instituição. Fazendo um esforço de memória, o jovem refere que «foi um tempo bom», especialmente «as festas e as amizades».
Ressalve-se que este caso complexo é a prova de que os dirigentes da instituição não voltam as costas às dificuldades e procuram mesmo uma solução profissional para os jovens.
Foi nesse sentido que desde muito cedo este menor institucionalizado frequentou a Associação de Pais e Educadores de Crianças Deficientes Auditivas (APECDA). Com esta entrada, pretendeu a Oficina de S. José que o utente inicia-se a aprendizagem de artes gráficas com a finalidade de uma futura integração na Gráfica ligada à instituição.
É, como tal, compreensível que Abílio Carvalho destaque a grande ajuda que foi a Oficina de S. José. E sobre o trabalho na Gráfica é assertivo: «Estou muito bem e gosto do que faço», concluiu.

«Empenhei-me porque sabia ter capacidade»
Joaquim Luís Coito, 30 anos, é também antigo aluno e actual encarregado da encadernação na Gráfica da Oficina de S. José. Natural de Famalicão, esteve na instituição com um irmão mais velho entre 1992 a 1997.
«A instituição serviu-me para muita coisa e logo nos primeiros tempos vim trabalhar para a tipografia; só mais tarde estudei dois anos de noite», frisou.
Lembra, ainda, o dia que entrou na instituição. «Quando soube que ia sair de casa disse logo que não queria, mas quando cheguei à Oficina fiquei, já que era ali que tinha de estar», afirmou.
O responsável da encadernação da Gráfica confessa: «desde sempre empenhei-me porque sabia ter capacidade para chegar longe».
Joaquim Luís Coito deseja que a Oficina de S. José «seja cada vez melhor no serviço que presta e crie melhores condições físicas, renovando a actual casa ou construindo uma nova».
Este famalicense lembra, por fim, que instituições como esta têm um «papel fundamental na sociedade», mas todas deveriam apostar mais num «tratamento personalizado» dos institucionalizados.

«Fiz-me homem na Oficina de S. José»
Com 94 anos e com o título de mais antigo utente da Oficina de S. José vivo, Mário Gonçalves afirma: «fiz-me homem na Oficina de S. José».
Na Oficina, aprendeu o ofício de uma vida: alfaiate. Primeiro como aprendiz, depois como mestre, ensinou a arte a centenas de alunos até 1970, data em que recebeu uma «proposta mais vantajosa» para ir trabalhar na Casa dos Rapazes de Luanda (Angola).
Desfiando episódios, como quem desfia as "contas" de um rosário, Mário Gonçalves recordou «a vida dura daquele tempo», mas ressalvou que na Oficina de S. José se fez homem. «Conheci centenas de alunos e dezenas de educadores e directores», disse, apontando que entrou na instituição «a zero» e de lá saiu «mestre».
Ao ofício de alfaiate, a direcção da banda de música que assumiu até à saída.
Casado em 1943, pai de quatro filhos, Mário Gonçalves acredita que não sabe o que teria sido a sua vida sem a Oficina de S. José, já que o pai «não quis saber» dele e apenas uma tia mostrava alguma simpatia.
Em relação ao presente da instituição, este antigo utente espera «que todos sejam felizes» e que «aproveitem o tempo que passam na instituição».

Figura do educador é próximaà figura do pai ou da mãe




Para o director técnico da Oficina de S. José os educadores são a «pedra angular» de qualquer instituição social vocacionada para a educação. A Oficina de S. José de Braga não é excepção a este nível e Carlos Laranjeira, coordenador da equipa educativa, vai mais longe ao aproximar a figura do educador numa instituição de acolhimento de crianças provenientes de famílias disfuncionais, à figura do pai e ou da mãe.
Neste sentido, para Carlos Laranjeira, «a figura do educador deverá entender-se como aquela pessoa que é um ícone de proximidade e uma figura com um carisma paternal no seio da comunidade».
Segundo o regulamento interno da instituição, aponta o coordenador da equipa educativa da Oficina de S. José, «o educador está incumbido de presidir e acompanhar no estudo e de vigiar os rapazes e jovens acolhidos».
Como pedagogo, actua junto dos menores, partilhando vivências e acompanhando-os ao nível do rendimento académico e comportamento humano.
A missão do educador, segundo Carlos Laranjeira, «começa pela sua postura humana como um espelho e um instrumento facilitador da aprendizagem mútua, tornando presente valores, princípios, regras e atitudes conducentes com a pessoa humana».
Na Oficina de S. José de Braga, o educador deve ajudar a «alargar os horizontes pessoais e de realização humana», tentando «mostrar às crianças e aos jovens uma visão construtiva da realidade quotidiana», sem esquecer, todavia, as histórias de vida de cada um.
«Rigor, disciplina, vida regrada e dedicação» são para o coordenador da equipa educativa da instituição qualidades imprescindíveis de um educador, que deve se também um «modelo, não de imitação, mas de caminho para construir».
Tentar ser capaz de «espicaçar, estimular, incentivar e proporcionar o desabrochar de qualidades individuais» nos jovens institucionalizados são outras missões a ter em conta.
Como qualquer rotina quotidiana em seio familiar, na Oficina de S. José também existem tarefas específicas cuja responsabilidade é do educador. Acordar, levantar e deitar diariamente os rapazes; estar responsável por fins-de-semana, feriados e férias, em sistema de rotatividade; acompanhar nos afazeres pessoais relativos à higiene; aplicar a medicação, quando necessário; acompanhar no tempo de estudo, na realização dos trabalhos escolares e no serviço das refeições; planificar, criar, implementar e desenvolver actividades de carácter lúdico e recreativo assim como outras de carácter social e pessoal; ser encarregado de educação de alguns menores junto das escolas e, por fim, dar aconselhamento pessoal e colectivo, vocacional e profissional.
«A experiência vai-nos dizendo que este trabalho "invisível" realiza-se quando há união do gosto pessoal, vontade própria, dedicação aprazível e um sentimento de realização humana naquilo que se faz, num sentido de gratidão em prol de muitos outros seres que têm histórias de vida diferenciadas», afirma Carlos Laranjeira.

Director técnico da Oficina de S. José




«Equipa estável e coesa
é o segredo do nosso trabalho»

O lar de Infância e Juventude da Oficina de S. José tem actualmente 45 crianças e jovens acolhidos e está totalmente lotado e com lista de espera. Serafim Gonçalves (SG) é director técnico da instituição de há mais de uma década para cá e contou ao Diário do Minho (DM) os traços fundamentais desta casa que está a comemorar 120 anos de existência. O projecto educativo, as actividades, os recursos humanos e as parcerias são alguns assuntos abordados pelo director técnico que é limiano, casado e pai de uma criança com três anos. Destacando a seriedade do trabalho realizado na Oficina de S. José, falou de novos projectos em curso – concretamente o “DOM” e a implementação dos Sistemas de Gestão de Qualidade – e deu conta ainda dos sonhos que tem para a instituição. A reconstrução do actual edifício ou a construção de um novo espaço está à cabeça das preocupações, mas o grande sonho continua a ser que todas as crianças e jovens acolhidos sejam felizes no tempo que passam na instituição.

DM: Quais são as linhas mestras do projecto educativo e a orientação pedagógica seguida?
SG: A oficina de S. José é uma instituição que educa há 120 anos a esta parte. Durante os tempos foi-se ajustando aos novos paradigmas educacionais. O nosso processo educativo assenta, essencialmente, na perseverança, em criar laços afectivos fortes com as nossas crianças e jovens e desenvolver o nosso trabalho de forma profissional. Para atingirmos os resultados pretendidos torna-se imprescindível o trabalho em equipa. A pedra basilar de toda e qualquer educação é o trabalho em equipa, onde valores como a solidariedade, o respeito, a coesão, a sinceridade e a honestidade estão presentes.
O projecto educativo da instituição designa-se: educar para a afectividade. Isto porque consideramos que a educação que não passa por ligações afectivas estáveis e fortes tende a ser muito frágil.
Por isso, delineamos quatro grandes objectivos gerais que tentamos perseguir: valorizar as potencialidades da criança ou jovem, reforçar a interacção entre educandos e comunidade educativa, aprofundar a relação entre criança, família e instituição e, finalmente, alargar a intervenção junto das famílias.
Em relação a este último objectivo convém reforçar que é uma aposta da instituição, já que é fundamental ultrapassar as debilidades existentes, em meio familiar, para que se afigure possível o regresso, em tempo útil e de forma adequada, das crianças e dos jovens às suas famílias biológicas.

DM: Como acontece a admissão, o acolhimento e a integração dos utentes?
SG: Recebido o pedido das entidades competentes é analisado em equipa e se tivermos vaga e se for considerada pertinente a integração da criança/jovem comunica-se à entidade responsável do pedido que agende uma pré-entrevista com os familiares, o menor, os técnicos que acompanham o processo e os técnicos da instituição.
Nesta reunião pretende-se criar empatia com o menor para que ao chegar à instituição, esta não lhe seja totalmente estranha. Além disso, do ponto de vista técnico, tiram-se as primeiras informações relevantes, para se delinear linhas estratégicas de intervenção. Neste encontro dialoga-se sobre quais os direitos e deveres da criança/jovem e da própria família.
Há casos extremamente urgentes e aí temos de ser flexíveis e sabermo-nos ajustar às situações.
No que respeita ao acolhimento e integração promovemos alguns mecanismos que visam uma melhor integração num novo meio. Assim, no primeiro dia da chegada de uma nova criança/jovem ao lar e com a colaboração da Equipa de Acolhimento (composta por meninos da instituição) presente nesse horário, faz-se a apresentação aos menores que se encontram no lar e integra-se na actividade que estiver a decorrer. A apresentação ao grande grupo faz-se no período em que todas as crianças estão na instituição, através de uma dinâmica de “quebra-gelo”.

DM: O que se destaca de um plano anual de actividades?
SG: Todo o plano de actividades é elaborado, definido, aprovado e implementado de acordo com o projecto educativo. O tema deste ano é “Criar laços com futuro”. Importa referir que para todas as actividades há objectivos bem delineados, dos quais se faz posteriormente avaliação, em equipa, sobre se foram ou não atingidos.
Na instituição, temos as actividades desenvolvidas por vários grupos de Desenvolvimento Pessoal e Social: grupo de teatro, grupo de música popular, aulas de piano e grupo de expressão plástica. Realizam-se, também, várias actividades desportivas.
Durante o ano salientam-se como momentos mais marcantes as festas de Natal e S. José, nosso padroeiro. A colónia de férias é outra das iniciativas que fazemos todos os anos, durante 15 dias, em Apúlia, e na qual se pretende, além da interacção e convívio entre educadores e educandos, fazer o acolhimento e uma primeira integração dos novos utentes.
Todos os meses, há uma acção de formação previamente definida, direccionada para as crianças/ jovens, monitorizada por técnicos da instituição ou por especialistas convidados.
Ao longo do ano realizam-se, ainda, muitas outras actividades no exterior da instituição, que passam pelo lazer e pelo desporto e que visam o crescimento integral dos nossos utentes.

DM: Quais são os recursos humanos da instituição?
SG: Na valência do lar de Infância e Juventude trabalham na Oficina de S. José, sete elementos na equipa técnica e quatro na equipa educativa.
Todos estes elementos são formados na área das Ciências Sociais e Humanas. Há, ainda um grupo de auxiliares, em vários sectores, que colabora de forma inexcedível para que nada falte aos nossos meninos. São também verdadeiros educadores.

DM: A casa tem a colaboração de outras pessoas externas. Como é o trabalho dos voluntários?
SG: Ao longo dos anos, apraz-nos reconhecer, sempre houve gente disponível para colaborar e trabalhar com as nossas crianças e jovens. Colaboram nas actividades lúdico-recreativas e no acompanhamento do tempo de estudo dos nossos educandos, mas acima de tudo pretendemos que sejam uma referência positiva na vida dos menores.
Regra geral, é gente que "veste a camisola", isto é dedica-se à causa, normalmente durante vários anos. Isto passa-se, por exemplo com professores aposentados, jovens estudantes e outros profissionais que fazem questão de passar cá algumas horas por semana, e dar de si para ajuda dos menores que nos estão confiados.

DM: Quais são as valências da instituição?
SG: Actualmente, e no que respeita à área social, são duas as valências que a Oficina de S. José dispõe: lar de Infância e Juventude e ATL. No lar estão 45 utentes, na sua grande maioria provenientes do distrito de Braga (apenas um é do distrito de Viana do Castelo).
Sobre a valência do ATL nem é preciso dizer muito. Todos sabemos que este, como muitos outros, está em lenta agonia.

DM: Como é o dia-a-dia da instituição?
SG: A vida no interior da instituição assemelha-se de alguma forma à vida familiar.
De manhã acordamos e cuidamos da higiene pessoal. Depois toma-se o pequeno-almoço e cada um segue a sua vida: escola ou trabalho.
Os menores que têm tempo livre no horário escolar ficam na instituição para realizar actividades ludico-formativas.
Ao fim da tarde realizam-se as actividades previamente definidas, seja dentro seja fora da instituição.
O jantar é verdadeiro momento de encontro e é precedido de um “ritual” de breve encontro para fazer alguma avaliação sobre o dia, pondo em comum experiências e vivências.
O ritmo de fim-de-semana, tal com em todas as famílias, é um pouco mais flexível: o levantar é mais tarde, realizam-se actividades desportivas e intercâmbios, faz-se limpezas de espaços pessoais e comuns. À noite o programa pode passar por ver um filme ou dar um passeio.

DM: A Oficina de S. José está a trabalhar em novos projectos, concretamente o “DOM” e a implementação dos Sistemas de Gestão de Qualidade?
SG: O projecto “Desafios, Oportunidades e Mudança” (DOM) da responsabilidade da Segurança Social foi assumido pela Oficina de S. José uma vez que é gerador e potenciador de um melhor serviço prestado em prol daqueles com quem trabalhamos diariamente.
O DOM visa, essencialmente, reforçar a equipa técnica e disponibilizar os meios tendentes a uma melhor qualificação da intervenção e dos interventores.
A juntar a este, a Oficina de S. José está a fazer a implementação de Sistemas de Gestão da Qualidade, projecto que está a ser acompanhado por uma especialista. Com o intuito de melhorar o trabalho realizado e, ainda, numa fase embrionária, já se começam a notar alguns resultados.
Estamos a convergir esta implementação com o Manual da Qualidade, que saiu recentemente, e que se destina aos lares de infância e juventude.

DM: Com que parceiros conta a Oficina de S. José?
SG: Estamos conscientes de que a responsabilidade de educar estas crianças e jovens é tarefa de toda a comunidade envolvente. O sucesso deste trabalho será tanto maior quanto a participação activa de toda a comunidade.
Na comunidade, englobamos as instituições escolares – que têm um papel importante na definição da melhor integração e acompanhamento a dar ao menor.
Os centros de saúde e a Segurança Social assumem papel relevante neste domínio. Com esta última temos acordos de cooperação, mormente para as valências de ATL e Lar de Infância e Juventude.
Mas há outras parcerias estabelecidas, como por exemplo, o Instituto Português da Juventude, a Câmara Municipal, a Universidade do Minho e a Universidade Católica Portuguesa, o Governo Civil, o Sporting Clube de Braga e a Junta de Freguesia de São Lázaro.
Há ainda uma boa colaboração com as instituições que perseguem objectivos análogos aos nossos, quer pelo diálogo e partilha comum, quer pela organização de actividades recreativas e de formação conjunta para educandos.

DM: Como director técnico, qual é o grande sonho que tem para a instituição?
SG: Temos muitos sonhos. No entanto no que respeita a este campo específico, nestes 120 anos, gostaríamos que fosse anunciada a reconstrução ou restauro ou a construção de raiz de um novo espaço, mais e melhor adequado às necessidades da nossa população-alvo. Um lar de infância e juventude precisa de estruturas mais pequenas para que se possa fazer-se uma intervenção mais individualizada e personalizada, tornando-se, assim, mais eficaz.
Sabemos que para isso é necessário dinheiro, apoios, e sabemos, também, que a actual direcção está empenhada na consecução daquele objectivo.
A criação do Apartamento de Autonomização, dentro do programa comemorativo dos 120 anos, também seria uma boa forma de marcar a efeméride.
Gostaríamos que até ao final do ano estivesse concluído o processo de implementação da qualidade.
Mas o nosso maior sonho continua a ser o mesmo de sempre: que as crianças e jovens sejam o mais felizes possível no tempo que cá estão. Para atender a esta população só uma resposta de qualidade serve: damos a estas crianças e jovens o máximo que pudemos e exigimos-lhes o máximo que cada um pode dar.
Destacamos, finalmente, que na Oficina de S. José todos os elementos são importantes, desde o porteiro até ao director da instituição. Todos têm um papel fundamental na educação e na integração destas crianças e jovens, ainda que com funções diferentes. Uma equipa estável e coesa é o segredo do nosso trabalho.

Oficina de S. José quer novas valências sociais



A Oficina de S. José quer abrir novas valências sociais, concretamente, novas instalações para um lar de rapazes e de raparigas, lar de idosos e apartamento de autonomização. A instituição bracarense que está a comemorar 120 anos da sua fundação, é responsável pela educação de centenas e centenas de pessoas ao longo da sua história, que ainda hoje manifestam um sentimento de gratidão à instituição. O segredo do sucesso educativo estará no profissionalismo da acção técnica desenvolvida e na coesão da equipa de educadores da Oficina de S. José.
Segundo o cónego Fernando Monteiro, director interno da instituição, na perspectiva da celebração dos 120 anos, a direcção contactou, há cerca de dois anos, um arquitecto para elaborar um projecto de uma nova casa mais adequada às exigências dos novos tempos.
Dada a localização privilegiada da Oficina de S. José e sabendo-se da intenção de fazer obras de raiz no edifício, a direcção foi contactada por «promotores imobiliários com vivo interesse na aquisição das actuais instalações» e, segundo o director interno, com propostas que «chegaram a números concretos que superavam as nossas expectativas».
Todavia, até ao momento os negócios não se concretizaram, facto que impossibilita, de momento, a concretização do sonho com recursos próprios e sem necessidade de «mendigar», como refere o cónego Fernando Monteiro.
Mas, a instituição não desiste e, por isso, está apostada em dar início a um «novo edifício com mais valências sociais de apoio não só a rapazes como também a meninas, suas irmãs», diz o também Ecónomo da Arquidiocese. «Estamos dispostos, caso as autoridades responsáveis por esta área social, assim o entendam e estejam interessadas, não só a construir um lar ajustado à realidade contemporânea, como a criar outras respostas sociais direccionadas particularmente à infância.
Na linha dos objectivos fundacionais da instituição, na qual se aprendia uma profissão para a vida, a actual direcção quer dar prioridade à instrução escolar e formação profissional. Nesse sentido, pretende «estabelecer parcerias com o Centro de Emprego para novos cursos de formação quer para os alunos internos, quer para externos», revela o director interno. Dentro do leque de cursos de formação profissional a criar estão, por exemplo, artes gráficas, hotelaria, lavandaria e hortofloricultura.
Fernando Monteiro refere que os corpos gerentes da Oficina de S. José «apoiam de alma e coração a equipa técnica que mais de perto acompanha os menores institucionalizados».
Dando conta da coesão, competência e delicadeza da equipa liderada por Serafim Gonçalves, o capitular entende que sem estas qualidades «seria impensável nos tempos que correm esta instituição prosseguir os seus objectivos».

Instituição tem algumas
fontes de rendimento
Em relação aos recursos materiais e ao financiamento da Oficina de S. José, o director interno defende que «são aspectos absolutamente importantes e necessários», mas coloca a tónica, por um lado, na sociedade civil da qual devem surgir «pessoas que se dediquem a estas causas tão exigentes e nobres» e, por outro, nos governantes que devem ter «sensibilidade para estimular e apoiar estas instituições.
Em concreto, a Oficina de S. José de Braga vive dos apoios financeiros provenientes da Segurança Social e das receitas de alguns recursos próprios como, por exemplo, rendas de edifícios e a Gráfica.
Todavia, a solidariedade e a generosidade de benfeitores é uma constante, pois «muitas são as pessoas que se têm dedicado à Oficina de S. José ao longo da sua história, graciosamente», afirma o cónego Fernando Monteiro, que conclui: «Precisamos sempre da ajuda, estímulo e apoio de todos, na certeza de que todos não seremos demais».

[A propósito da solenidade de Cristo Rei]

  “Talvez eu não me tenha explicado bem. Ou não entendestes.” Não penseis no futuro. No último dia já estará tudo decidido. Tudo se joga nes...