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17 de setembro de 2011

A mesma missão: ser transparência de Deus em terras aveirenses (Nota a respeito da nomeação para a Paróquia da Glória-Sé)













 
1.A qualidade das coisas boas da vida não pode ser medida por nenhuma quantidade. A qualidade das relações estabelecidas durante os quase dois anos passados em Águeda, mais concretamente nas nove paróquias que compõem a UPA, também não pode ser quantificada. Foram tempos – menos de dois anos é pouco, mas se somarmos os meses, os dias, as horas, os segundos já dá muito mais – ricos e belos, carregados de experiências, de partilha. Tempo de ser Igreja com os outros, nesta bela e exigente experiência de Unidade Pastoral.

2.Aqui cresci também como homem e como cristão. Aqui aprendi a ser padre ao jeito e ao modo do coração do Bom e do Belo Pastor. Aqui recebi muito mais do que o pouquinho que dei. E isto gera gratidão no meu coração. Gratidão, em primeiro, a Deus que permitiu esta passagem em terras aguedenses. Gratidão à Igreja, quer a de Braga, que possibilitou a minha vinda, quer a de Aveiro, que concretizou essa vinda. Gratidão aos padres que comigo fizeram Unidade Pastoral. O Pe. José Camões, o Pe. Jorge Fragoso, o Pe. José Carlos e o Pe. Francisco Rebelo. Com eles foi e é fácil fazer equipa. Foi belo crescer como irmãos no ministério. Gratidão ao diácono Semedo e ao diácono Afonso, eu diácono como eles quando cheguei a Águeda, porque com eles aprendi esta entrega generosa ao Evangelho e à Igreja de Cristo. Gratidão ao santo Povo de Deus que nas nove paróquias da UPA querem fazer a sua fé mais consciente e madura. De Macieira, Préstimo e Castanheira, de Barrô e Borralha, de Trofa, Lamas e Segadães e de Águeda recebi, em todos os lados, belos testemunhos e exemplos de fé e de caminhada cristã, e conscientes compromissos na vida e na missão da Igreja, que se pretende e precisa para os nossos tempos. A minha gratidão estende-se a todos os padres do Arciprestado de Águeda. Em primeiro o seu arcipreste, Pe. Júlio Grangeia e todos os outros: padres Costa Leite, Manuel Armando, Paulo Gandarinho, João Paulo, e também ao Pe. Tavares. Obrigado a todos pelo testemunho de vida sacerdotal. Nos párocos reconheço o carinho, amizade e estima recíproca de todos os cristãos que peregrinam neste Arciprestado de Águeda.

3.Vou para a cidade de Aveiro mas uma boa parte do coração já fica e já tem o selo de Águeda. Parafraseando Ana Moura num belo fado, também eu hoje digo: “até ao fim do fim, eu vou-te amar”. Porque o podeis contar da minha parte, espero de todos, daqui em diante, a mesma amizade e a mesma oração. Pede-me a Igreja de Aveiro, por intermédio do seu Pastor, D. António Francisco, que sirva na comunidade paroquial da Glória, em Aveiro. É a comunidade onde se situa a igreja-mãe da Diocese, a Sé Catedral, onde nos poderemos encontrar em variados momentos e celebrações diocesanas que lá decorrem. Como sempre, e porque foi para isso que a Igreja me ordenou, aceitei a proposta, na certeza de que levo o mesmo entusiasmo que trouxe para Águeda, a mesma alegria e a mesma energia. Como me disse, recentemente, alguém que estimo: “Somos padres ao serviço da Igreja, onde quer que seja. Sempre “nómadas”. Assim quero continuar!

4.Permiti que saúde o Nuno Queirós, um nortenho como eu, que fará o seu estágio para a ordenação diaconal e presbiteral, aqui na UPA, neste Arciprestado de Águeda. Desejo que seja feliz nestas terras e possa ajudar outros a serem felizes, falando-lhes da grande felicidade que é seguir a Cristo, Modelo e Mestre, Caminho, Verdade e Vida.
5.António Machado, o poeta sevilhano, escreveu: Caminhante, são teus rastos/ o caminho, e nada mais;/ caminhante, não há caminho,/ faz-se caminho ao andar(…). Meus amigos: o nosso andar cruzou-se. Mas os nossos trilhos não terminam. Continuamos a andar ainda que com coordenadas diferentes. Mas vamos em frente. Prosseguimos seguros na mão de Deus. Até sempre!

Pe. José António Carneiro

2 de novembro de 2010

Catequese online, em directo e interactiva no dia de S. Martinho


Na continuidade da primeira catequese interactiva levada a cabo pelo padre Júlio Grangeia, decorre no dia 11 de Novembro, a segunda experiência, desta vez impulsionada pela Pastoral Juvenil e Vocacional do Arciprestado de Águeda.
Como aconteceu na “experiência zero”, o canal de televisão online do site do actual arcipreste de Águeda (www.padrejulio.net) será o meio utilizado para esta segunda catequese, bastando para isso ligar-se pela internet.
Porque decorre de 7 a 14 de Novembro a Semana dos Seminários, o tema da conversa será precisamente a questão vocacional e o Seminário como lugar de discernimento da vocação.
Ligados a esta conversa informal, estará o Seminário de Santa Joana Princesa, com a equipa formadora, liderada pelo padre João Alves, e os seminaristas que estudam em Aveiro.
De Lisboa se ligarão também os seminaristas da Diocese de Aveiro que estudam actualmente no Seminário dos Olivais, do Patriarcado de Lisboa.
O desafio é lançado a grupos de jovens ou de catequese para que se juntem à volta de um computador e possam entrar na conversa que se pretende informal, esclarecedora e cheia de inquietações. Basta um computador ligado à internet e a comunicação pode ser feita via chat, facebook, ou através do telefone ou telemóvel.

28 de outubro de 2010

Um ano em Águeda e 100 dias de padre


Quis Deus, na sucessão dos dias e na evolução dos tempos, que passasse um ano da minha chegada a Águeda (28 de Outubro de 2009) precisamente no dia que completo 100 dias de sacerdote (18 de Julho de 2010).
Uns podem dizer que é obra do acaso, eu prefiro ver como sinal de Deus…
Estamos habituados a ver a avaliação dos 100 dias ou de um ano a muitos níveis. (Por exemplo, 100 dias de governação de Sócrates, ou 1 ano de Obama à frente dos destinos dos EUA).
Não quero entrar por aí. Não se trata de fazer estatísticas.
Hoje quero apenas agradecer, porque é o sentimento que em abarca.
Agradecer a Deus o dom da vida, da fé, do sacerdócio e tantos dons!
Agradecer a família, a humana, de sangue, sempre o porto seguro onde me encontro, âncora das tribulações e das dificuldades!
Agradecer a família, a espiritual, a Igreja, o espaço da comunhão, da partilha, do crescer junto, de mãos dadas, em comunidade, ou seja em comum unidade de vidas e de vontades!
Agradecer tantos amigos, perto e longe, mas com um lugar no seu coração para mim!

A Diocese de Aveiro, o Arciprestado de Águeda, as Paróquias da UPA tem sido um tempo/lugar formidável, para o meu crescimento enquanto Padre-Pastor, à imagem do Coração do Bom Pastor, o Senhor que ama e que chama…
A vida sacerdotal e serviço, entrega e doação.
Quero continuar a ser transparência de Deus, na vida concreta e diária das pessoas. Quero ser sinal que aponta e indica, pedindo sempre ao Senhor a capacidade apontar o caminho e nunca ofuscar a sua Luz.
Quero hoje, como sempre, ser mais e continuar a ser padre para Deus e para quem mais precisar.


Ser mais com Cristo

Ando em busca do sentido
Que me leve à felicidade
E quero alcançar a verdade
Que tantas vezes tenho perdido.

Ser mais à tua imagem
Ser mais como Jesus
Ser mais é uma vantagem
Carregando e levando a minha cruz.

Só por Cristo eu vou certo
Só com Ele ando perto
Só em Cristo estou aberto
A ser mais e melhor e a não parar!

Pe. JAC

9 de agosto de 2010

O caricato das situações: Missa Nova em Águeda


Há coisas que nos ficam na memória pelo que significam para nós, mas também pelo caricato que as rodeia.
Não é que este fim-de-semana fui até às terras de Águeda para celebrar Eucaristias e, para além de ser as primeiras naquelas terras, ainda tiveram esse tal caricato a rodea-las?!
No sábado, fui presidir à Missa à capela da Giesteira (na paróquia de Águeda) e não levei óstias para consagrar? Claro que eu pensei que havia lá, mas afinal não havia. Pedi a uma pessoa para ir a casa buscar pão (trigo) e consagrei-o na Eucaristia. 
Claro que pedi desculpa às pessoas e logo disse que era a mesma coisa, era o mesmo Cristo que se entregava em alimento para nós. E assim foi.
Além disso, troquei a folha dos avisos - levei os de outra paróquia - e também não os pude fazer...

Mas são estas coisas que ficam, que nos ficam.
O caricato da situação anexado ao facto de ser a primeira missa nas paróquias onde vou trabalhar por mais um ano permite que nunca mais esqueça esta Eucaristia.

São as "histórias do arco da velha".

Mas foi bom e correu bem.

Já no domingo, depois de celebrar Eucaristia na capela de A-dos-Ferreiros, com a Festa de Nossa Senhora das Neves e de Santo António, presidi, na matriz de Águeda. Lá me firezam algumas "surpresas". Até tive de tocar piano durante a missa. Foi bom e correu bem.

Continuamos unidos, neste caminho ao encontro do Pai, que só nos quer para nos amar.

Fotos de António Gomes
Texto de Helena Nogueira

24 de março de 2010

Sermão do Encontro. Senhor dos Passos. Águeda


É longo (um sermão), mas partilho a pedido de alguns. A minha reflexão na celebração do Senhor dos Passos, no passado domingo, dia 21 de Março, em Águeda. Disponível para enviar por email. 


Celebrar a Paixão de Cristo não pode ser, em qualquer tempo ou lugar, motivo de saudosismos ou sentimentalismos ocos e vazios de sentido. Mais ainda: celebrar Cristo que livre e radicalmente caminha para a Cruz não pode ser motivo de pieguice, niquice ou lamechice. Irmãs e Irmãos: só quem entende verdadeiramente a ressurreição, só quem crê num Cristo vivo, actuante e presente na nossa história, pode fazer com Ele este caminho até à Cruz, até ao Calvário, mas já com os olhos e o coração postos na manhã do terceiro dia, na manhã da ressurreição. Nós, os cristãos, não vamos da Paixão e da Cruz à ressurreição, mas sim desta para aquelas, da ressurreição à Cruz. A nossa fé e a nossa esperança não ficam em Sexta-Feira Santa mas estendem-se ao Domingo de Páscoa.

Nós acreditamos num Deus vivo, seguimos um Deus de vivos, não de mortos. Para chegar à vida de Deus, que não tem tempo, nem espaço, nem amarras, Cristo precisou de se dar e doar, por inteiro, totalmente, no alto da Cruz e de uma vez para sempre.
Mas, esta devoção dos Passos de Cristo é, antes de mais e acima de tudo, uma profissão de fé na ressurreição. Porque “se Cristo não ressuscitou é vã a nossa pregação e vã a nossa fé” (1 Cor 15, 14). Porque acredito que Jesus ressuscitou, celebro e vivo a sua Paixão não de forma trágica e dramática, mas como abertura a essa vida que só Deus pode dar, porque seu Autor e Criador.
O Domingo de Páscoa é a nossa origem cristã. É à luz da Páscoa que lemos toda a história da salvação. Em Cristo, o curso não vai do nascimento à morte, mas da ressurreição ao nascimento. É da condição de ressuscitado que olhamos Cristo nascido, perseguido, que teve uma vida pública, que pregou pelas terras da Palestina, que foi preso e crucificado.
Irmãs e Irmãos: Cristo veio para nos salvar na sua ressurreição. É aí que está a nossa identidade. Somos gente salva por Cristo pela sua ressurreição. Por isso, esta celebração que nos congrega não é fatalismo, mas uma confissão de fé pessoal e comunitária, em Cristo Senhor e Redentor, Ressuscitado e Vivo entre nós.
Para chegar à ressurreição, Jesus sabe bem o caminho que tem de percorrer. É neste caminho, humanamente doloroso e divinamente glorioso, que hoje entramos acompanhando Cristo que caminha livremente para a Cruz. No Evangelho de João, Jesus diz: “Eu dou a minha vida para tornar a tomá-la. Ninguém a tira de mim, mas eu espontaneamente a dou. Eu tenho autoridade para dá-la, e autoridade para tornar a tomá-la. Este mandato recebi de meu Pai” (Jo 10, 17-18). Jesus abraça fervorosamente a vontade do Pai, ainda que isso lhe cause suores de sangue e lhe venha a tirar a própria vida no alto da Cruz, no Calvário.

Depois de uma vida passada fazendo o bem, curando e ensinando, arrastando multidões para o ouvir, eis que chega a “hora”, a hora da glória, ou a gloriosa hora.
Jesus veio cumprir o plano salvador de Deus desenhado desde o princípio, desde a criação. Veio incomodar os poderes instalados. “Não julgueis que vim trazer a paz à terra. Vim trazer não a paz, mas a espada” (Mt 10, 34). Jesus traz uma guerra, não de armas, mas silenciosa, que deve ter lugar no coração humano e quer a mudança e a conversão: “Se não vos arrependeres perecereis do mesmo modo” (Lc 13, 3.5).
Aos poderes instalados e acomodados Jesus desafiou, mas estes não aceitam o desafio. E mais que isso: vêem Nele uma ameaça ao seu poder déspota e absolutista, tratando logo de eliminá-lo. Não percebem que a única ameaça que Jesus faz tem a marca da verticalidade de uma vida recta, coerente e, acima de tudo, dada na horizontalidade dos irmãos que caminham ao seu lado, num serviço generoso, gracioso e gratuito.
Jesus não quer poder, glória ou espectáculo. “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida como resgate em favor de muitos” (Mt 20, 28). Ele quer apenas oferecer gratuitamente a salvação, a felicidade. Ele quer dar sentido, Ele quer ser o sentido, a orientação, o Caminho que leva ao encontro do Pai e que traz felicidade à vida humana.
Ele veio pregar o amor. O amor deve se a nossa lei maior. “Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei” (Jo 13, 14). Este é o testamento de Cristo.
Se os oponentes e opositores de Jesus Lhe querem dar a morte, apesar de toda a pedagogia, de todos os ensinamentos, de todos os milagres, de todas as boas acções, a Hora de Cristo, ou as últimas horas são marcadas por um abandono mais ou menos generalizado: fogem e dispersam-se aqueles que com Jesus calcorrearam tantas estradas poeirentas da Palestina. Os discípulos continuam sem perceber este projecto de Deus. Para eles, o Messias não poderia morrer numa Cruz. Também eles fogem da Paixão de Amor que é caminho decidido para a glória final.
Uns fogem, outros escondem-se, poucos permanecem fiéis e seguem o caminho de Cristo, acampanhando-O mais de perto ou nem tanto. Mas, outros estão lá seguindo Cristo em todas as horas, mesmo na hora última e definitiva da glória, da Cruz.

Por isso, esta celebração dos Passos de Cristo não turva o nosso olhar para, com os olhos da fé, vermos a presença da Mãe, na Hora de Cristo e em todas as horas. Ela está aqui presente como esteve sempre. Assume plenamente a sua missão de Mãe, como aquela que ama e acompanha os Passos do Filho, ou o Filho nos passos na sua vida humana.
Desde o início, Maria é apaixonada por Cristo. Essa paixão irrompe logo naquele “Fiat”, inédito e inaudito, esse “Sim” dito, assumido e comprometido. “Faça-se em mim segundo a vossa vontade” (Lc 1, 38) é o harpejo confiante que ecoa de Maria. Funciona como programa de toda a sua vida; o cumprimento da vontade de Deus é a sua missão primordial. Ela é escolhida desde toda a eternidade, vocacionada por Deus que fez dela o primeiro sacrário da terra a albergar a divindade.
O anúncio do Anjo à menina de Nazaré marca o início de um novo tempo para o povo de Deus, pois é o cumprimento do Antigo Testamento com a abertura do caminho para o Reino de Deus. De facto, a Anunciação do anjo a Maria marca o início da Redenção humana. Com o seu “sim”, Maria divide a história da humanidade em antes e depois, em antigo e novo. Ao aceitar o projecto de Deus, Maria insere-se na aliança de Deus com seu povo: através dela o Filho de Deus se fará homem e se fará presente e actuante em seu tempo e por toda a eternidade.
Na Anunciação, Maria prova a sua fé e faz-se instrumento nas mãos de Deus para que a salvação aconteça. O “Sim” de Maria é um dom inteiro de si mesma. Ela dá-se toda naquele “Sim” dado ao Anjo. A partir dele, a sua vida fica transformada. Aceita ser a “serva do Senhor” porque Mãe do “Servo Sofredor”.
Nascido o Filho de Deus, do seio de Maria, no presépio de Belém – um grandioso hino à humildade, à simplicidade e à pobreza – depressa a Mãe sente que Aquele Menino está já a ser perseguido.
Ainda há pouco nascido e Jesus já é um exilado. Maria e José vêm-se obrigados a fugir para o Egipto dada a maldade dos poderosos que querem já aniquilar Aquele Menino.
Começam já as dores da Mãe que não terminaram com as dores de parto. Muito sofre uma Mãe por causa dos filhos, e Maria não é excepção.
De dores falando, olhemos a dor desesperante de Maria na cena da perda e do encontro de Jesus no templo de Jerusalém, aos doze anos. E se a dor da perda é grande nada menor se parece revelar a dor do encontro entre os Doutores. “Não sabíeis que devia estar na casa de meu Pai?” (Lc 2, 49). Palavra talvez incompreensível aos ouvidos de Maria e de José, mas que a Mãe sabe guardar no seu coração, cheia de fé, como que já conhecedora da grandiosa missão do Filho. Estas dores, primeiro a da perda, depois a do encontro, são acalentadas pela certeza de que Jesus tem uma missão grande a cumprir como Enviado do Pai.

Mas, a Senhora das Dores não termina aqui a sua via-sacra. A festa do casamento em Caná, traz como que outra flecha ao coração maternal de Maria. O Evangelho de João relata o diálogo entre Mãe e Filho: “Não têm vinho”, “Mulher que temos nós a ver com isso. Ainda não chegou a minha hora” (Jo 2, 3.4). Palavra fria, crua, directa, mas carregada de simbolismo bíblico. O que aparentemente parece uma palavra insensível aos nossos ouvidos, para Maria é grande elogio. É que Maria é a nova Mulher, a nova Eva, uma vez que se por Eva veio o pecado e a perdição, por Maria veio a graça e a redenção. Por isso, não podemos sequer imaginar Nossa Senhora entristecida pela palavra de Jesus. Antes pelo contrário. Maria guarda, de novo, tudo no seu coração e confia, continuando a fazer-se instrumento nas mãos de Deus para acontecer a salvação. “Fazei o que Ele vos disser” (Jo 2, 5), disse Maria aos serventes convencida e sabedora, por um lado, da necessidade da festa e, por outro, do poder e da missão do Filho. Esta palavra de Maria, resposta àquela de Jesus, é, por assim dizer, uma profissão de fé da Mãe, como que a dizer e a sugerir: “Não vos preocupeis porque o meu Filho providenciará!”.

Durante a vida pública de Jesus, Maria ao ouvir os ensinamentos do Filho alegra-se, mas, ao mesmo tempo, sofre ao perceber a repulsa à mais bela proposta de felicidade alguma vez ouvida. Por mais que a linguagem do Filho tenha sido extraordinariamente bela e transcendente e, ao mesmo tempo, humanamente acessível, havia sempre quem se opusesse. As autoridades, os fariseus, os chefes, os escribas, os doutores, procuravam constantemente alguma coisa para contradizê-lO e acusá-lO. Possivelmente, já sabiam que Ele era o Messias e não se contentavam apenas em persegui-lO, propondo-Lhe armadilhas, quando Ele pregava. Começaram a conspirar para matá-lO.
Maria vivia na ansiosa expectativa de quando e como isso ocorreria. Chegada a hora, a Mãe deverá ter acompanhado o Filho, preso, levado ao Sinédrio, condenado por esse júri forjado, flagelado e coroado de espinhos. Mãe que é Mãe sofre!
Foi grande com certeza o sofrimento de Maria, ao ver o sangue de Jesus verter sobre a terra. Maria assistirá, na manhã seguinte, à triste cena da condenação oficial de Jesus por Pilatos, começando logo depois a triste e dolente marcha para o Monte Calvário, a trajectória da Via Crucis. Nas curvas e subidas desse caminho, a Mãe deve ter encontrado o Filho. Este terá sido o encontro de dois corações que sempre se amaram e buscaram um ao outro e mais ainda no momento em que se aproxima a separação física destes dois seres.
É, com toda a certeza, intensa a relação maternal-filial entre Cristo e Maria. Apesar de tudo, o cordão umbilical que biologicamente os ligou ainda não foi totalmente cortado.
Por breves trocas de olhares, neste caminho de dor, Ela O conforta, assegurando-lhe que está com Ele. Embora sem levar a cruz ao ombro, como o Cireneu, Ela carrega com Ele todo o seu sofrimento. Mas, também o Filho a conforta assegurando que vai “renovar todas as coisas” (Ap).

Durante a crucifixão, cada pancada é um golpe no coração da própria Mãe. Aquela agonia foi morosa. Jesus, levantado na cruz, pendente entre o céu e a terra, com os braços abertos como um arco-íris de paz sobre o mundo, exclama: "Pai, perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem" (Lc 23,34). Nessa cena, O Evangelho de S. João descreve Maria de pé, junto à Cruz. Jesus, já quase morto, faz o último testamento: "Mulher, eis o teu filho” “Filho, eis a tua mãe” (Jo 19). Palavra solene, carregada de dor mas de total confiança.
A dor da perda do Filho feriu brutalmente o coração de Maria. Porém, a fé que nela habitava, fazia-a crer que a morte de Jesus não seria o fim e acreditava que Deus teria uma resposta para tudo aquilo. Cristo Ressuscitado é a resposta esperada, a confirmação da certeza há muito sabida no coração daquela que nunca deixou de acreditar e que é bem-aventurada por todas as gerações.
O Fundador da Companhia de Jesus, Santo Inácio de Loyola, nos seus Exercícios Espirituais, faz-nos a contemplar um encontro entre a Mãe e o Filho Ressuscitado. Santo Inácio chama a atenção para a relação íntima e intensa dos dois. E deixa claro que é de se esperar e de crer que entre aqueles que tinham tal intimidade e que viviam envolvidos em tal amor, que a primeira aparição de Jesus após Sua ressurreição – ainda que não relatada na Escritura – teria sido à sua Mãe. É uma ideia razoável. Não só por Jesus ter sido um bom filho e desejar terminar com a dor da sua mãe, mas pelo mérito próprio de Maria: é justo que aquela que primeiro aceitou fazer a vontade de Deus e que com o seu “Sim” mudou a história humana fosse a primeira portadora da grande novidade – a vida venceu a morte! Jesus está vivo. Ressuscitou!
Ninguém sabe como foi aquele encontro. Ninguém sabe o seu conteúdo. Podemos apenas crer nele e vê-lo com os olhos da fé e de uma saudável e pertinente imaginação. É uma contemplação riquíssima: Mãe e Filho livres da dor e do sofrimento, perdidos no tempo a conversar sobre todos os acontecimentos, cheios de alegria, consolo e glória.

A certeza da ressurreição de Cristo não ficou apenas no encontro entre Mãe e Filho. Maria experimenta primeiro a glória de Deus e logo sai em missão: tendo visto o Filho vivo é também portadora da maior notícia já ouvida pelos homens.
Naqueles primeiros momentos após a ressurreição de Jesus, Maria une-se aos Apóstolos. Mãe do Mestre e Mãe daqueles homens confusos pela transformação ocorrida nas suas vidas.
Maria compreendeu o mistério que cercou a ressurreição de Jesus e ensina-nos a compreendê-Lo, mostrando a actualidade daquele acontecimento perdido num túmulo de Jerusalém e que continua hoje a acontecer, silenciosa e gloriosamente, em cada vida que renasce, não da morte física, mas da morte do pecado.
Por tudo, a Mãe de Deus e nossa Mãe, Mãe das Dores e Senhora da Piedade, é Mãe da Confiança no Ressuscitado. No seu coração, Maria confia: Ela sabe que depressa virá o terceiro dia e como tal permanece fiel até ao fim, até ao extremo. "Feliz aquela que acreditou em tudo o que lhe foi dito da parte do Senhor!" (Lc 1,45).

JAC

Agradeço desde já as fotos que me enviaram. Pela gentileza do acto, obrigado!

 

23 de março de 2010

Nossa Senhora da Soledade: Passos de Cristo em Águeda

Nestas celebrações destes três dias que pretendem reafirmar e reforçar a nossa fé em Jesus Cristo, morto, ressuscitado e vivo entre nós, olhamos hoje, em particular, a Mãe, a Senhora das Dores, a mulher atenta e solícita às dores e sofrimentos de quantos se abrem e confiam na misericórdia, na protecção, na compaixão e providência de Deus.
O relato das Bodas de Caná, que ouvimos proclamar, é o nosso contexto para olharmos esta figura singular da história da salvação, como Mulher e Mãe, intercessora e medianeira de todas as graças. Este episódio mostra-nos claramente como a Mãe de Jesus actua junto daqueles que dela necessitam. Ele é verdadeiramente Mãe de clemência e de misericórdia.
S. João começa por dar conhecimento da presença da Mãe de Jesus, do próprio Jesus e dos seus discípulos na festa do casamento.
Maria, a dado passo, percebe que o vinho está para acabar e por isso, cheia de zelo e de prestimosa caridade, observa a Jesus: “Não têm vinho” (Jo 2, 3). Para evitar que os anfitriões passem vergonha diante dos convidados, pede a seu Filho o milagre. Com discrição, mas certa de que Ele o é capaz.
Este pedido de Maria a Jesus traduz a sua relação maternal com a humanidade. Amor materno que antevê a aflição dos filhos, que procura diminuir-lhes o sofrimento, que quer desde sempre dar-lhes o que de melhor puder dar.
Diz a este respeito o Beato José Maria Escrivã: “É próprio de uma mulher [mãe] e de uma solícita dona de casa notar um descuido, prestar atenção a esses pequenos detalhes que tornam agradável a existência humana: e foi assim que Maria se comportou”. É assim que Maria intercede junto de Deus pela humanidade, como se dissesse constantemente: “eles não têm mais vinho”, sugerindo ao Senhor que dê, de novo, aos homens e mulheres daquele tempo e de todos os tempos, a alegria perdida no meio dos seus sofrimentos e tribulações.
A resposta de Jesus à sua Mãe, à primeira vista, poderia parecer dura, mas só àqueles que não possuem uma verdadeira e completa compreensão da Escritura. Disse Ele: “Mulher, que tem isso a ver contigo e comigo? Ainda não chegou a minha hora”. (Jo 2, 4).
Ora, analisando melhor a resposta de Jesus, podemos ver como ela é, de facto, elogiosa para Maria. Em primeiro lugar, convém lembrar que Ele a chamou de “mulher”, também no Calvário, dizendo do alto da Cruz: “Mulher, eis o teu filho” (Jo 19, 26).
Além disso, chamando-a de “mulher”, Ele fala como Deus fala às suas criaturas. Mas, ainda mais importante do que isso, Jesus chama sua Mãe de “mulher”, para que todos reconheçam nela aquela “mulher” que profetizou no Génesis, quando amaldiçoou a serpente ou a “mulher” relatada no Apocalipse.
Voltando àquela festa de Caná, Maria adverte os serventes: “Fazei o que Ele vos disser” (Jo 2,5). E é ensinando àqueles homens que fiquem atentos ao movimento do seu Filho que Maria se torna também intercessora de Deus junto da humanidade. O milagre, o sinal de Caná, não aconteceria se os serventes não ouvissem e obedecessem ao que Jesus lhes indicaria. Por isso, era necessário que um canal de comunicação se abrisse entre a divindade e a humanidade. E, em Caná, Maria foi essa via comunicadora de vida nova que age movida por uma “caridade preventiva”.
Maria pediu o milagre por caridade e de imediato dá aos servos um conselho que serve para todos nós: “Fazei tudo o que Ele vos disser”. Por este motivo a Igreja a chama de Mãe do Bom Conselho, Mãe que continuamente nos comunica bons conselhos e aspirações.
Vendo as nossas aflições e respondendo com o pedido de que façamos o que Jesus disser, Maria torna-se intercessora de Deus, medianeira. Tal como em Caná, o milagre nas nossas vidas não poderá acontecer se não tivermos olhos e ouvidos abertos para fazer o que o Senhor nos diz. Com Deus, participamos do milagre de fazer vida nova no mundo e é Maria quem nos conduz nesse mistério de amor e construção.
As Bodas de Caná revelam-nos esta Mãe solícita e atenta, presente e actuante na vida dos homens. Com as palavras do poeta Dante, na “Divina Comedia”, rezo a Maria, intercessora e medianeira que continue a ser o que sempre foi: Mulher e Mãe!

Mulher, és tão grande e tanto vales
que, quem graça e a ti não recorre,
seu desejo é o de voar sem ter asas.
A tua benignidade não só socorre
a quem pede, mas muitas vezes,
generosamente, ao pedir, precede.
Em ti, misericórdia, em ti, piedade,
em ti, magnificência, em ti se reúne
tudo quanto na criatura há de bondade!
(Dante Allighieri, Divina Comedia, Paradiso, XXXIII,13-21)

28 de dezembro de 2009

Blogue do Arciprestado de Águeda

O Arciprestado de Águeda tem já em experimentação um blogue (arciprestadoagueda.blogspot.com). A ideia surgiu na última reunião do Clero deste arciprestado e incumbiram-me da missão. Aceitei e está em fase incipiente, à espera do contrinuto de todos os que se incluem neste espaço geográfico ou de todas as pessoas que queiram partilhar conhecimentos, propostas e sugestões... Está também criado o email do arciprestado (arciprestadoagueda@hotmail.com)

Como se pode ler no texto de lançamento: "Este é o início de um espaço que pretende ser formativo e informativo, lugar de encontro, de comunhão e de partilha. Um espaço ecclesial".

O futuro trará novas oportunidades. Peço que adicionem este espaço que também trabalharei nele.

Obrigado a todos. Vmos construir Igreja melhor.


Ah, aproveito para dizer que também o Serviço Diocesano de Acólitos de Aveiro está numa rede social (http://sdacolitosaveiro.ning.com/?xg_source=badge)

cumprimentos a todos

Um feliz 2010 para todos

29 de outubro de 2009

Águeda 1.º dia

Começou a minha nova missão pastoral. Cheguei a Águeda na companhia do Sr. Bispo de Aveiro, D. António Santos, e de três padres de Braga, da Equipa Formadora do Seminário Conciliar. Cheguei com estas pessoas à companhia de outras: Três padres acolhedores, José Camões, Jorge e José Carlos - formamos o "clube dos jotas" - que depressa revelaram ter coração de Bom Pastor. Com eles a D. Anunciação que trata das lides domésticas na simplicidade e delicadeza maternal. Ao fim de semana junta-se ainda o padre Francisco. Também o Diácono Semedo trabalha nesta unidade pastoral de Águeda - a UPA.

Agradeceram a minha vinda. Eu agradeci o acolhimento.

Fui logo à missa na Igreja de Águeda. Apresentei-me sucintamente aos presentes e no final algumas pessoas vieram cumprimentar-me.

Ontem, dei um passeio com o padre Camões pelo centro da cidade. E já me apaixonei. Espero continuar a apaixonar-me mais cada dia que o Senhor quiser que eu esteja em Águeda.

Estou com força. Sinto a Graça a puxar-me. É o anúncio de Cristo que importa.

Quero ser feliz nestas terras enquanto o Senhor Jesus assim o quiser também.

[A propósito da solenidade de Cristo Rei]

  “Talvez eu não me tenha explicado bem. Ou não entendestes.” Não penseis no futuro. No último dia já estará tudo decidido. Tudo se joga nes...