As cinco entradas que estão a seguir neste blogue referem-se a uma reportagem publicada no Diário do Minho de 15 de Junho, sobre Renovação da Acção Pedagógica (RAP), que está a ser desenvolvido e experimentado em Portugal. Este projecto traz vantagens aos escuteiros mas também muitas dificuldades e levantam alguns problemas...
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15 de junho de 2009
Corpo Nacional de Escutas está a renovar oferta educativa

Ivo Faria é o coordenador nacional da equipa do projecto do RAP
O Corpo Nacional de Escutas (CNE) está a experimentar novas metodologias e novas formas de trabalho direccionadas aos seus elementos nas diferentes secções. Renovação da Acção Pedagógica (RAP) é a designação deste projecto e Ivo Faria (IF) é o responsável nacional pela sua implementação. Causas da renovação, prazos e números, objectivos, mudanças e vantagens são algumas das questões a que responde o também chefe da Região de Braga do CNE, além de nos elucidar sobre os principais pontos de mudança que acarreta esta renovação. Tudo isto acontece após a celebração do Ano do Centenário do Escutismo e depois de os Escuteiros de Portugal terem visto um dos seus padroeiros ser canonizado por Bento XVI – falamos de São Nuno de Santa Maria (D. Nuno Álvares Pereira).
Texto e foto: José António Carneiro
DM – O que é e porquê um programa de renovação do Escutismo?
IF – A Renovação da Acção Pedagógica (RAP) é a uma tradução não literal de “Renewed Aproach to Programme”, que significa exactamente “Renovação da Abordagem ao Programa”. Este é um projecto de renovação desenvolvido a nível internacional pela Organização Mundial do Movimento Escutista para as associações repensarem o projecto educativo e a oferta pedagógica. A tradução portuguesa não é exactamente a mesma coisa, mas vai dar ao mesmo. A acção pedagógica é algo mais vasto que o programa.
A nível mundial começou a notar-se uma escassez de dirigentes e verificou-se que a taxa de penetração a nível da juventude estava a cair, particularmente nos países com mais escuteiros. Embora Portugal não padecesse nem padeça dessa dificuldade, os nossos projectos educativos já remontavam a 1992. Por isso, achou-se por bem renovarmos a nossa oferta educativa.
DM – Quais são os objectivos de base do RAP?
IF – Achamos que era importante reforçar a acção do Corpo Nacional de Escutas como associação de educação não-formal ou seja, na linha do aprender fazendo, sendo os próprios escuteiros agentes do seu crescimento.
Outro objectivo a cumprir passa por conferir maior coerência ao “edifício pedagógico” do CNE. Começou-se a achar que a forma como trabalhamos nas quatro secções – embora tendo místicas e formas de ser muito próprias, e em termos pedagógicos haver igualmente bastantes diferenças –, faltava algo que interligasse melhor as idades. Em Portugal, notámos que nas transferências ou passagens de secções perdíamos muitos elementos porque não se adaptam à secção seguinte.
Além destes, pretendeu-se introduzir inovações na pedagogia que nós não estávamos a incorporar e, ainda, dar mais actualidade à nossa acção sem perder valores, método e mística. Na prática, trata-se de ajustar a nossa acção aos tempos de hoje e à experiência acumulada.
DM – Quando arrancou?
IF – Em Portugal, o RAP arrancou em 2001 e, nessa altura, estabeleceram-se alguns objectivos. A fixação da proposta educativa, ou seja, o estabelecimento de um documento que sintetize aquilo que queremos fazer com os jovens, foi aprovado em 2003, tal como a fixação dos objectivos educativos finais, que são a expressão daquilo que o CNE procura que um caminheiro seja quando chega a hora da partida (22 anos). Três anos mais tarde foram fixados os objectivos educativos de secção (que são os finais de cada secção), foram definidas as áreas de progressão pessoal (pólos educativos) e, finalmente, foi aprovada a renovação do sistema de progresso.
A fase piloto deste projecto arrancou em Setembro de 2008 e terminará no próximo mês de Setembro.
DM – Quantos agrupamentos a nível nacional estão envolvidos na fase de experimentação?
IF – São cerca de 10 por cento dos agrupamentos, ou seja, 94, num universo de mais de 900. Na região escutista de Braga concentram-se a maior parte dos agrupamentos piloto. Da Arquidiocese são 24: Arentim, Barcelos, Calendário, Castelões, Caxinas, Cervães, Creixomil, Delães, Galegos Santa Maria, Guilhofrei, Louro, Medelo, Mesão Frio, Montariol, Moreira de Cónegos, Nossa Senhora do Amparo, Polvoreira, Requião, Ronfe, Santa Eufémia de Prazins, São Paio (Vila Verde), Sé Primaz, Silvares e Taipas.
A juntar a estes, estamos ainda responsáveis pelo supervisionamento do processo do RAP no único agrupamento piloto de Viana do Castelo – o de Monserrate.
DM – Quando vai ser alargado a todo o país?
IF – O projecto de experimentação, de alguma forma, já cobre todo o país. Vai ser alargado a toda a associação (mais de 900 agrupamentos) a partir de Janeiro de 2010, com o arranque da formação.
DM – Que inovações concretas introduz?
IF – Sem grandes desenvolvimentos, o RAP traz: uma proposta educativa para a associação; um novo sistema de progresso; um quadro simbólico e místico renovado; uma equipa de patronos renovada; modelos de vida para ajudar a enriquecer os imaginários das actividades e seis áreas de desenvolvimento pessoal.
DM – O que muda?
O sistema de progressão passa a ser mais flexível e adaptável a cada criança ou jovem. Temos também dois novos patronos: São Tiago e São Pedro.
DM – E o que deixa de existir com estas mudanças?
IF – Agora, o progresso deixa de ser baseado em provas.
DM – O RAP traz também a confecção de novos manuais e de nova literatura escutista?
IF – Sim, quatro novos manuais para os dirigentes (um por cada secção) e para os jovens e crianças. Para estes, não são bem manuais, são mais cadernos para registar experiências e vivências. O dos Lobitos e Exploradores chama-se “Caderno de Caça”; o dos Pioneiros, “Diário de Bordo”; e o dos Caminheiros, “Caderno de Percurso”.
DM – Quando chegarão aos escuteiros?
IF – Estão em versão “draft” para serem avaliados, a par da fase experimental. Há um concurso de ideias para formatos dos cadernos/diários. Estão também a ser produzidos subsídios para inserir nos mesmos com conteúdo flexível, uma vez que depende de cada criança/jovem.
Renovação Pedagógica
Alguns números e datas
69 mil – número aproximado de escuteiros a nível nacional, segundo censos de 2008.
16 mil – número aproximado de escuteiros na Região de Braga, a mais numerosa do país.
94 – é o número de agrupamentos que a nível nacional estão a testar o RAP.
24 – número de agrupamentos na Região de Braga que estão a testar o RAP.
1 – Monserrate é o único agrupamento de Viana do Castelo que está incluído na fase piloto do RAP.
2001 – data do arranque do projecto em Portugal.
2003 – aprovada a definição dos objectivos.
2006 – aprovada a organização das secções.
2008 – início da fase piloto.
2009 – conclusão da fase piloto.
2010 – início da implementação em todos os agrupamentos.
Sistema de progresso deixa de basear-se em provas
Liberdade de escolha recai no escuteiro
O sistema de progresso é uma das alterações mais relevantes que o projecto de Renovação da Acção Pedagógica (RAP) traz consigo, particularmente o facto de acabarem as provas para passar a existir oportunidades educativas, estabelecidas pelo método.
Este novo sistema de progresso assenta na ideia de que o caminho para se chegar ao topo é diferente em cada um dos escuteiros, deixando assim de existir provas, obrigatórias ou facultativas, opcionais ou de qualquer outra ordem. Por isso, se deixa de dizer que “a criança, adolescente ou jovem prestou provas”.
O objectivo deste sistema é ajudar cada escuteiro a envolver-se activamente e de forma consciente no seu próprio desenvolvimento e, por isso, está mais centrado no indivíduo, considerando as suas capacidades, baseando-se em objectivos educativos, e permitindo a aquisição de Conhecimentos, Competências e Atitudes (CCA).
Além do mais, é um factor de motivação que guia o jovem no seu desenvolvimento, sendo uma oportunidade de aprofundar habilidades próprias e de valorização pessoal ou de descoberta vocacional.
O sistema de progresso impulsiona o jovem a adquirir “rotinas” de análise e de planeamento da sua vida.
As vantagens deste novo sistema de progressão assentam, particularmente, na valorização do diagnóstico inicial e na negociação que se estabelece entre elemento e dirigente em relação ao caminho a percorrer e as metas a atingir.
O novo sistema potencia, igualmente, a relação entre os diversos intervenientes e entre pares na fase do diagnóstico e avaliação.
Porque o Corpo Nacional de Escutas (CNE) é um contributo à educação, juntamente com outras instituições, este novo sistema de progresso não esquece e envolve outros organismos que não apenas o agrupamento e a unidade. Por isso, os CCA podem ser adquiridos pelos escuteiros na sua vivência escolar, catequética, nos clubes a que pertencem e equipas de outros organismos, mas também no seio da secção e do bando, patrulha ou equipa, no desenrolar do dia-a-dia e das fases da vivência das caçadas, aventuras, empreendimentos e caminhadas.
Progresso tem três etapas
Com nomes ligados à mística e à simbologia da unidade, as etapas do progresso são formadas por diversos componentes: adesão, adesão informal, diagnóstico inicial, compromisso pessoal, passagem de secção, oportunidades educativas, relação educativa, avaliação e reconhecimento, desafio e partida.
Para a progressão pessoal, o escuteiro tem seis áreas de desenvolvimento estabelecidas pela proposta educativa. Existem três trilhos educativos em cada uma das seis áreas e cada trilho contém um ou mais objectivos educativos. Assim sendo, o escuteiro constrói a sua etapa de progresso, que são três, seleccionando um trilho de cada uma das áreas de desenvolvimento. No caminheirismo, o progresso já não se faz por trilhos, mas apenas por objectivos.
Este novo sistema de progresso deixa que a liberdade de escolha esteja reservada, em primeiro lugar, à criança, adolescente ou jovem. Agora, o papel do chefe de unidade limita-se ao apoio no diagnóstico e na selecção dos trilhos educativos que irão constituir as etapas pessoais e à observação da evolução dos CCA que contribuem para validar os objectivos educativos como atingidos.
Sete maravilhas
do método escutista
O método escutista é um sistema de auto-educação progressiva, baseado na Promessa e na Lei, numa educação pela acção e numa vida em pequenos grupos. Esta última envolve e aponta para a descoberta e a aceitação progressiva de responsabilidades pelos jovens e uma preparação para a autonomia com vista ao desenvolvimento do carácter, à aquisição de competências, à confiança, ao serviço dos outros e à capacidade de cooperação e de dirigismo. O método é, deste modo, a forma de o CNE educar os seus jovens, baseando-se em sete campos distintos, chamados internamente “as sete maravilhas do método”. Com mais de 100 anos de existência, o método escutista permite explorar, a partir da forma natural como os jovens se relacionam, diferentes opções educativas. Os sete âmbitos do método são: Aprender fazendo, mística e simbologia, sistema de patrulhas, Lei e Promessa, sistema de progressão pessoal, vida na natureza e relação educativa jovem/adulto.
Seis áreas a desenvolver
Proposta educativa do CNE
A proposta educativa do CNE pretende responder à questão “Educamos. Para quê?” e é também um dos pontos fundamentais onde o RAP incidiu. Assim sendo, a renovada proposta pretende que o movimento continue a ajudar os jovens a crescer, a procurar a própria felicidade e a contribuir para a felicidade dos outros, descobrindo e vivendo segundo os valores do Homem Novo.
O CNE procura através do seu método ajudar as crianças, adolescentes e jovens a educar-se para se tornarem conscientes do ser, do saber e do agir. A finalidade é que cada um, com estas competências, se torne homem ou mulher responsável e membro activo da comunidade, na construção de um mundo melhor.
A proposta educativa do CNE assenta em seis dimensões: desenvolvimento do carácter, desenvolvimento afectivo, desenvolvimento espiritual, desenvolvimento físico, desenvolvimento intelectual e desenvolvimento social.
Para a plena realização destas dimensões, o movimento estipulou objectivos educativos que definem, para cada área do desenvolvimento pessoal, o resultado que um jovem pode esperar alcançar no final de cada uma das etapas ou então no momento da partida.
A lógica destes objectivos educativos é gradual e interligada para que também a oferta educativa seja global e integral. Esta renovação da proposta educativa faz com que, agora, o jovem seja cada vez mais o centro da acção educativa.
Mística e simbologia renovadas com novos patronos e modelos
São Tiago e São Pedro passam a ser patronos de secções
No âmbito da mística e da simbologia do CNE, a Renovação da Acção Pedagógica (RAP) também traz alterações significativas, particularmente com a renovação da equipa de patronos e com a inserção de vários modelos de vida para ajudar a enriquecer os imaginários das actividades escutistas. Ainda que os responsáveis predefinam alguns modelos de vida e outras personalidades de relevo, essas listagens não estão truncadas, permanecendo, desse modo, a possibilidade de cada agrupamento ou secção poder incluir outros santos ou beatos ou outros exemplos de vida para os escuteiros.
A mística do programa educativo do CNE assenta num esquema de quatro etapas, com vista a uma formação humana e cristã integral, mais sólida e mais madura. Estas etapas são sequenciais – cada uma é trabalhada para uma secção, ainda que de forma não estanque – e complementam-se, na medida em que estão interligadas e adquirem o seu pleno sentido na sobreposição das partes. Estas etapas desenrolam-se na lógica de um caminho a percorrer, constituindo um itinerário de crescimento individual e comunitário proposto a cada escuteiro.
As alterações que o RAP traz são significativas, mas não implicam que tudo tenha sido ou vá ser alterado. Desde logo se destaca que os patronos do escutismo continuam inalteráveis, ou seja, Santa Maria (Mãe dos Escutas), São Jorge (patrono mundial do Escutismo) e São Nuno de Santa Maria (patrono do CNE).
O mesmo já não se poderá dizer em relação aos imaginários, patronos, símbolos, modelos de vida e exemplos das quatro secções, que surgem renovados com o projecto RAP.
O imaginário dos lobitos continua a ser a história de Máugli, personagem de “O Livro da Selva”, de Rudyard Kipling.
Ao nível da mística, o lobito louva Deus Criador, descobrindo-O no que o rodeia. A intenção é fazer com que quando um lobito descobre as maravilhas da natureza e vive alegre, contente, obediente, amigo de todos e disposto a imitar em tudo o Menino Jesus, percebe que Este o ama e aprende a louvar o Criador.
O símbolo da primeira secção é a Cabeça de Lobo que representa a unidade da alcateia.
São Francisco de Assis é o patrono e Santa Clara de Assis e os beatos Francisco e Jacinta exemplos de modelos de vida para os lobitos.
O imaginário da segunda secção continua, também, a ser a figura do explorador que parte à descoberta do desconhecido.
Ao nível da mística o explorador é desafiado a ir à descoberta da Terra Prometida. Assim, reconhece Deus na sua vida e aceita a Aliança que lhe propõe, pondo-se a caminho tal como o Povo do Antigo Testamento.
Os símbolos da segunda secção são a Flor de Lis, a vara, o chapéu, o cantil e a estrela.
O patrono deixa de ser São Jorge – ficou apenas como padroeiro do escutismo – e passa a ser São Tiago Maior. Abraão, Moisés, David, Santo António e Santa Isabel de Portugal são exemplos de modelos de vida.
Na lista dos grandes exploradores e que são também exemplo para os escuteiros da segunda secção figuram personagens como Fernão de Magalhães, Ernst Shackleton, Neil Armstrong, Gago Coutinho, Sacadura Cabral, Jacques Costeau, Diana Fossey ou o Infante D. Henrique. Outros poderão ser adicionados.
S. Pedro “protege” os pioneiros
O imaginário da terceira secção continua assente na figura do pioneiro insatisfeito e que busca a concretização do sonho, uma vez que, feita a descoberta do mundo que o rodeia, o pioneiro solta-se do supérfluo e põe mãos à obra.
Por isso, a mística desta secção desafia a construir a Igreja, levando o pioneiro a assumir o seu papel nessa construção, colocando os seus talentos ao serviço da comunidade e assumindo a tarefa de ser construtor de comunhão.
Os símbolos do pioneirismo são a rosa dos ventos, a machada, a gota de água e o “icthus”.
O patrono deixa de ser São João de Brito, que passa a ser modelo de vida, para começar a ser São Pedro, o primeiro “chefe” da Igreja.
Como modelos de vida para os pioneiros, além do já referido São João de Brito, o novo projecto elenca exemplos como Santa Teresinha do Menino Jesus e Santa Catarina de Sena.
Já em relação aos grandes pioneiros, a lista é mais alargada: Padre António Vieira, Einstein, Marie e Pierre Curie, Florence Nightingale e Isadora Duncan.
A última secção do escutismo – o caminheirismo – não tem um imaginário definido. Como jovens adultos, os caminheiros põem em prática as suas acções no terreno real, na vida do dia-a-dia.
Quanto à mística, o caminheiro é desfiado a orientar a vida para os valores do Homem Novo.
Os símbolos do caminheiro são a vara bifurcada, a mochila, o pão, o Evangelho, a tenda e o fogo.
São Paulo continua a ser o patrono da secção, ao passo que São João de Deus, Beata Teresa de Calcutá, Santa Teresa Benedita da Cruz, João Paulo II e Santo Inácio de Loyola figuram como exemplos de modelos de vida.
Finalmente, os caminheiros dispõem de uma plêiade de personalidades da história para seguir e imitar: Aristides Sousa Mendes, Gandhi, Martin Luther King, Nelson Mandela, Aung San Suu Kyi e Wangari Maathai.
Esclarecendo conceitos
da mística e simbologia
Dentro da mística e da simbologia do movimento há alguns conceitos que convém esclarecer, particularmente imaginário, mística, símbolos, patronos, modelos de vida e grandes figuras.
O imaginário é o ambiente que envolve um determinado grupo e que se traduz por um espírito e uma linguagem próprios. Envolve frequentemente uma história com heróis e símbolos e induz a um sentimento de pertença em relação ao grupo permitindo a transmissão de determinados valores.
A mística é uma proposta de enquadramento temático e de vivência espiritual para cada uma das quatro secções, que visa aprofundar a descoberta de Deus e a comunhão em Igreja.
Os símbolos são elementos ou objectos representativos de realidades, características ou atitudes que materializam o ideal proposto na mística de cada secção. Todas as secções têm o seu símbolo, podendo este ser único ou integrado num conjunto de símbolos complementares.
Patrono é um santo ou beato da Igreja Católica que no decurso da sua vida encarnou na plenitude os valores que se pretendem transmitir através da mística e do imaginário de uma determinada secção, sendo por isso escolhido como protector e exemplo de vivência para os jovens dessa mesma secção.
Os modelos de vida são figuras da Igreja Católica que, à semelhança do patrono, também encarnaram os valores e ideais da mística e do imaginário da secção e que exprimem a diversidade de caminhos e carismas possíveis para os viver.
As grandes figuras são personalidades que na sua vida realizaram grandes feitos, associados ao imaginário da secção, e que, de alguma forma marcaram a história da humanidade.
Maior compromisso e esforço supera dificuldades da fase piloto
Implementação do RAP na Região de Braga
Todas as mudanças acarretam em si mesmas mais dificuldades e exigências novas que, por sua vez, necessitam de maior compromisso, mais trabalho e simultaneamente exigem um desalojamento e desacomodação constantes nas formas de estar e trabalhar. Com a fase de experimentação da Renovação da Acção Pedagógica (RAP) a caminhar a passos largos para a sua conclusão, é natural que vários agrupamentos da maior região escutista do país sintam muitas dificuldades na implementação das novas metodologias.
A conclusão da fase de experimentação do RAP acontecerá em Setembro de 2009 e, com a aproximação do termo, vai sendo hora de avaliar a forma como tem estado a decorrer a fase piloto do projecto para que, em 2010, as novas metodologias sejam alargadas aos agrupamentos de todo o território nacional com a devida chancela e aprovação dos agrupamentos que o experimentaram.
O Diário do Minho auscultou alguns dos 24 agrupamentos da Região de Braga para perceber as implicações e as dificuldades sentidas na aplicação do RAP.
Não há agrupamento que não revele dificuldades ao nível da realização do diagnóstico inicial, que exige mais tempo, mais burocracia, mais responsabilidade, acompanhamento mais personalizado e contínuo e vem revelar a necessidade de os agrupamentos terem mais adultos/dirigentes.
Ilídio Vila, do Agrupamento de Arentim (Braga), disse ao DM que as maiores dificuldades encontradas são as que caracterizam todos os projectos que arrancam de novo. E concretizou: «mais tempo disponibilizado para planeamento, mais burocracia, a necessidade de mais adultos no agrupamento tornou-se mais premente, os guias têm sentido mais trabalho, o tempo que levam os diagnósticos iniciais e as negociações pessoais para atingir os objectivos individuais é demasiado, tendo em conta aquele que dispomos semanalmente para toda a actividade escutista».
Segundo Bernardino Miranda, do Agrupamento de Requião (Famalicão), os momentos de mudança nunca são fáceis, porque o próprio ser humano é um “animal de hábitos”.
Além disso, as dificuldades trazidas pelo RAP podem ser vistas por duas perspectivas: a do escuteiro e a do dirigente. «Ao escuteiro, o RAP pede uma maior autonomia e uma maior atenção ao seu progresso», ao passo que ao dirigente ou educador, para além de uma atenção cada vez mais individual e personalizada que deve dar aos seus escuteiros, deve ter em conta as suas vivências do dia-a-dia, na família, no grupo de amigos e na escola», referiu Bernardino Miranda.
No Agrupamento de Creixomil (Guimarães), a maior dificuldade tem sido a interiorização das novas regras e novas exigências. «A divisão em áreas pedagógicas vem trazer mais responsabilidade quer aos chefes quer aos escuteiros. Para os chefes, em particular, a exigência é maior dado que têm um trabalho mais profundo a desenvolver com o escuteiro e um acompanhamento mais permanente e personalizado», aclarou Manuel Soares. Mas «agora não basta chegar, é preciso continuar no trilho certo, ou seja, não chega fazer uma vez, é preciso fazer continuadamente».
O Agrupamento de Medelo é o único do Núcleo de Fafe que está a experimentar o RAP. Os responsáveis referem que as dificuldades desta implementação estão a ser «diminutas». Segundo José Maria, monitor do agrupamento e tutor de Núcleo de Fafe do projecto RAP, o sucesso desta implementação reside, por um lado, no facto de todos os dirigentes terem formação específica e, por outro, no facto de o Núcleo e a Região colmatarem as dificuldades que vão surgindo com formação e esclarecimentos pertinentes.
A avaliação do progresso individual de cada escuteiro que agora exige um acompanhamento contínuo, atento e quase geral da vida do elemento é uma das dificuldades maiores encontrada pelos responsáveis do Agrupamento de Cervães (Vila Verde).
Cristiano Barbosa apontou que «apesar de ser um método completo de avaliação, existem muitas barreiras a transpor», sendo a principal o número elevado de elementos escuteiros e o reduzido número de adultos e dirigentes.
Neste agrupamento está a ser difícil a compreensão dos elementos mais novos acerca dos objectivos a cumprir. «É muito difícil explicar a um miúdo de 11 ou 12 anos o que é um objectivo tão abstracto como “reconheço as minhas emoções e sei exprimi-las com naturalidade e sem magoar os outros”», revelou.
No primeiro agrupamento escutista criado em Portugal – o Agrupamento 1 da Sé (Braga) – também se têm sentido dificuldades na aplicação do RAP.
Luís Veloso apontou duas: a realização do diagnóstico inicial a todos os elementos do agrupamento, porque implica para os dirigentes um acréscimo de dezenas de horas na preparação e realização desse objectivo e na escassez de material de apoio na fase inicial deste processo.
Um ano para “arranhar”
Porfírio Faria, do Agrupamento 456 de Silvares (Guimarães), anotou que a súbita mudança no sistema de progresso, os diagnósticos iniciais, a iniciativa das crianças e jovens para escolherem os trilhos e os objectivos a atingir são algumas das dificuldades mais visíveis e sentidas.
Além disso, o dirigente vimaranense mostrou que a logística não acompanhou devidamente os agrupamentos piloto que sentiram muitas dificuldades em arrancar com pouco ou quase nenhum material de apoio.
A aplicação do RAP só estará no seu esplendor no próximo ano já que este está a ser um ano experimental, com muitas dificuldades e dúvidas. «É um ano para ‘arranhar’», afirmou.
No Agrupamento 994 das Caxinas, também existem dificuldades até pelo facto de ser o único do Núcleo Cego do Maio (que engloba 17 agrupamentos de Vila do Conde, Póvoa de Varzim e Esposende), que aderiu à fase piloto do RAP.
Deste modo, «algumas questões de orgânica, comunicação, organização ou outras que surgem no dia-a-dia, têm de ser resolvidas pela experiência pessoal dos dirigentes», refere Milton Castro.
Também para o Agrupamento de Caldas das Taipas (Guimarães) as dificuldades maiores residem no diagnóstico inicial para cada elemento e também no facto de a nova forma de trabalhar implicar maior envolvimento dos dirigentes e dos elementos.
No Agrupamento 660 de Montariol (Braga), a maior dificuldade é a limitação do tempo para pôr em prática as novas metodologias e, por isso, dois anos desta fase piloto talvez fosse o ideal e não um ano. Este método ajuda ao crescimento autónomo de cada elemento mas, há algumas dificuldades em motivar.
Dirigentes de Braga elogiam mudanças pedagógicas incluídas pelo RAP
A maior parte dos agrupamentos da Região de Braga do CNE que estão a experimentar as novas metodologias trazidas pela Renovação da Acção Pedagógica (RAP) é unânime e consensual a defender que apesar da maior exigência, as vantagens e os aspectos positivos suplantam dificuldades e críticas apontadas ao novo projecto.
No caso de Arentim, um agrupamento que está a completar o seu 5.º ano de vida, o RAP tem sido «uma oportunidade para repensar o caminho há pouco iniciado e, assim, redireccionar os esforços». Ilídio Vila entende que apesar das dificuldades, «tem sido positivo todo o empenho que a maioria dos escuteiros e dirigentes têm dedicado à nova metodologia». Este responsável no agrupamento de Braga pela implementação do RAP não duvida que o projecto de renovação traz mais exigência, mais empenho, mas, sobretudo, permite repensar o caminho a seguir. «O interesse dos jovens e das crianças é mais notório tendo em conta algumas das alterações efectuadas», afirmou.
O chefe do Agrupamento 257 de Requião vê na maior aproximação que o RAP exige entre os vários agentes que fazem parte do dia-a-dia do escuteiro um dos aspectos mais positivos e relevantes do projecto de renovação.
Contudo, as vantagens não se ficam por aqui e Bernardino Miranda elenca também os objectivos educativos que «estão mais actuais do que nunca». «Cada vez mais, o jovem está no centro da nossa acção», contou ao DM. Para os educadores e dirigentes, este projecto trouxe «regras mais bem definidas» e uma «maior consciência da missão de educar».
O responsável aponta, ainda, com agrado a renovação feita ao nível da mística e da simbologia, agora «mais rica», permitindo dar uma formação humana e cristã integral, mais «sólida e madura».
Para o chefe do Agrupamento de Creixomil a aceitação dos escuteiros em relação às novas exigências a que estão sujeitos está a ser um dos pontos positivos desta fase piloto do RAP.
Manuel Soares entende que as vantagens iniciadas com o novo projecto são «a todos os níveis», concretamente nas seis áreas de desenvolvimento previstas, que melhoram significativamente a evolução do escuteiro como homem, com cristão e como cidadão. O RAP ajuda, também, na aceitação do próximo, aproxima os escuteiros ainda mais de Deus, de Jesus e da sua Palavra. «Ajuda-nos a conhecer-nos melhor a nós próprios e a sermos efectivamente diferentes para melhor daqueles que não têm a sua vida alicerçada nos valores, práticas e vivência que o escutismo, embora com mais de 100 anos de vida, ainda continua a oferecer aos jovens», revelou.
Em Medelo, do ponto de vista das vantagens do RAP salienta-se o «empenho dos rapazes e raparigas em conseguir o máximo, para assim atingir a anilha de mérito». «Não somos apologistas do facilitismo, mas a dedicação dos guias, chefes de grupo e chefes de unidade torna tudo mais simples», aponta José Maria, que enaltece a «interligação entre as quatro secções», como outra das vantagens do RAP.
Para os responsáveis do agrupamento vilaverdense de Cervães, o projecto de renovação do movimento está bem trabalhado em termos de mística. Além disso, «não há dúvidas que este sistema de progresso em termos de conteúdos é muito mais coerente com o mundo de hoje, e faz todo o sentido na óptica do crescimento individual e colectivo dos jovens», declarou Cristiano Barbosa.
No Agrupamento da Sé, apesar de ser um «trabalho difícil» e que, à partida, exige um maior número de dirigentes, uma das grandes vantagens do RAP é o diagnóstico inicial porque «deu para entender qual a realidade do agrupamento», disse Luís Veloso.
O Agrupamento de Silvares destaca a maior qualidade que o RAP traz ao escutismo. Os diagnósticos iniciais que levam os dirigentes a conhecer melhor cada um dos elementos, a exigência feita aos escuteiros de serem eles a escolher os objectivos a alcançar, o facto de haver mais encontros com as equipas de animação e a melhor preparação das reuniões do grupo são aspectos concretos que o RAP veio melhorar.
Porfírio Faria apontou que as inovações inseridas trazem muito de positivo ao movimento melhorando significativamente a forma de educar as crianças e jovens. «Traz muito mais trabalho é certo, mas só com mais trabalho e mais exigência se pode fazer escutismo de qualidade», frisou.
Apesar das dificuldades, o Agrupamento das Caxinas está com a motivação em alta para colaborar no crescimento dos jovens escuteiros.
A maior virtude do RAP reside numa maior aproximação entre os escuteiros, pais e dirigentes, em especial com o diagnóstico inicial, no qual «os pais tiveram uma longa conversa particular com os dirigentes sobre os seus filhos, revelando situações que escapam ao dirigente», referiu o chefe da segunda secção do Agrupamento das Caxinas.
O positivo que o RAP traz, para os escuteiros das Taipas, é o fortalecimento da relação elemento-chefe. Além desta, o progresso pessoal de cada elemento e a motivação que os escuteiros demonstram para atingir os seus objectivos parece ser uma vantagem do novo projecto que apesar de ter algumas arestas para ajustar, desperta nos elementos mais interesse.
Em Montariol regista-se como positivo, desde logo, a oportunidade do RAP, além da boa estruturação e enquadramento do novo método. As mudanças favorecem a autonomia de cada elemento, a simbologia está mais enriquecida, há mais ligação entre as secções e há maior flexibilidade de objectivos, sustentam os dirigentes.
Agrupamentos da fase piloto
da Região de Braga e Viana
Dos 24 agrupamentos da Região de Braga que estão a experimentar as novas metodologias da Renovação da Acção Pedagógica (RAP), oito pertencem ao Núcleo de Guimarães, o mais numeroso da Região. Segue-se Famalicão com cinco, Braga com três, e Barcelos e Vila Verde com dois. Os núcleos de Vieira do Minho, Póvoa de Lanhoso, Fafe e Cego de Maio têm um agrupamento nesta fase piloto. Destaque ainda para o Agrupamento de Monserrate que é o único da Região de Viana do Castelo que está na fase de experimentação, com supervisão da Região de Braga.
Região de Braga
1 Sé (Braga)
5 Ronfe (Guimarães)
13 Barcelos (Barcelos)
89 Delães (Famalicão)
200 Polvoreira (Guimarães)
257 Requião (Famalicão)
291 Calendário (Famalicão)
312 Louro (Famalicão)
323 Santa Eufémia de Prazins (Guimarães)
346 Cervães (Vila Verde)
418 S. Paio (Vila Verde)
441 Castelões (Famalicão)
456 Silvares (Guimarães)
527 Amparo (Póvoa de Lanhoso)
566 Creixomil (Guimarães)
618 Galegos Santa Maria (Barcelos)
660 Montariol (Braga)
663 Moreira de Cónegos (Guimarães)
666 Caldas das Taipas (Guimarães)
702 Mesão Frio (Guimarães)
966 Medelo (Fafe)
994 Caxinas (Cego de Maio)
1004 Guilhofrei (Vieira do Minho)
1273 Arentim (Braga)
Viana do Castelo
103 Monserrate (Viana do Castelo)
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“Talvez eu não me tenha explicado bem. Ou não entendestes.” Não penseis no futuro. No último dia já estará tudo decidido. Tudo se joga nes...

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Igreja ainda não despertou para a importância da Bíblia O frei Herculano Alves, à margem do encontro que decorreu no Sameiro, disse ao Diári...
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É longo (um sermão), mas partilho a pedido de alguns. A minha reflexão na celebração do Senhor dos Passos, no passado domingo, dia 21 de Ma...
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«Dá-nos Senhor, a coragem dos recomeços. Mesmo nos dias quebrados faz-nos descobrir limiares límpidos. Não nos deixes acomodar ...